Folha de S.Paulo

Novo favorito à PGR critica Lava Jato e nega elo com Flávio

Nome para a sucessão de Dodge se encontrou com Bolsonaro e afirma ser próximo de militares

- Reynaldo Turollo Jr.

O subprocura­dor-geral Antônio Carlos Simões Martins Soares, apontado como favorito à PGR, diz contar com apoio de militares e ministros do STF. Em texto de 2014, escreveu que a democracia era ‘verdadeiro embuste’.

O subprocura­dor-geral Antônio Carlos Simões Martins Soares, 68, citado pelo entorno do presidente Jair Bolsonaro (PSL) como novo favorito para ser indicado à PGR (Procurador­ia-Geral da República), afirma ter apoio dos militares e de dois ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) e critica a atuação da Lava Jato em Curitiba.

Integrante­s da categoria dizem que ele é apadrinhad­o por Flávio Bolsonaro (PSLRJ) e pelo advogado do senador, Frederick Wassef, mas o subprocura­dor nega a ligação.

Em 2014, em um texto, Soares chegou a chamar a democracia de “um verdadeiro embuste” (leia texto nesta pág.).

Em entrevista à Folha, ele fez referência­s indiretas ao conteúdo da troca de mensagens ligadas à Lava Jato, alvo de vazamentos pelo site The Intercept Brasil desde junho.

O principal nome da operação em Curitiba é o do ex-juiz Sergio Moro, hoje ministro da Justiça e que está sob desgaste no governo Bolsonaro.

“Eu sou um homem ético, sempre fui muito combativo, porém nunca usei métodos ilícitos, como é comum. Agora vocês estão descobrind­o que lá em Curitiba foram utilizados recursos que não podem ser considerad­os como lícitos. Isso eu não faço. Esse é um ponto que me difere do que está por aí”, disse Soares à Folha nesta segunda (19).

No final de semana, Bolsonaro disse a auxiliares que Soares poderá ser escolhido para substituir a atual PGR, Raquel Dodge, cujo mandato termina em 17 de setembro.

Na noite de terça (13), ele foi recebido por Bolsonaro no Palácio da Alvorada. No dia seguinte, encontrou-se com o ministro Dias Toffoli, no Supremo Tribunal Federal.

Soares diz que sua candidatur­a à PGR, por fora da lista tríplice, não foi patrocinad­a por Flávio, filho do presidente, mas pelos militares, com quem ele tem mantido contatos desde a campanha eleitoral do ano passado.

Diz que as informaçõe­s sobre o apoio de Flávio visam desgastá-lo, para atribuir tentativa de blindagem diante das investigaç­ões contra o filho do presidente no caso do ex-assessor Fabrício Queiroz.

“Eu nunca conheci esse advogado [Wassef], e o Flávio Bolsonaro eu só vim a conhecer há coisa de 20 dias. Eu entrei nesse processo via núcleo militar”, afirmou Soares.

Ele disse que fez Escola Superior de Guerra em 2005, onde conheceu militares e fez amigos, incluindo alguns que são hoje ministros do STM (Superior Tribunal Militar). “Um deles é o Olympio Pereira [da Silva] Junior, que foi quem me iniciou nesse convite para que eu pudesse contribuir para melhorar o Brasil através do governo Bolsonaro.”

Soares relatou também que teve duas reuniões com o hoje vice-presidente, Hamilton Mourão, e outros generais durante a campanha eleitoral.

Disse ainda que sua campanha começou há meses e, desde então, vem angariando apoios no STF e no STJ (Superior Tribunal de Justiça), sobretudo entre ministros naturais do Rio, como ele.

“Quem é que está me apoiando no Supremo? O ministro [Luiz] Fux, que é carioca. O ministro [Dias] Toffoli já vai, provavelme­nte hoje [nesta segunda], estamos aguardando que ele externe essa adesão, esse apoio. E outros que não vou citar porque não me autorizara­m. Nossa prioridade foi conseguir apoio do atual [presidente do STF] e do futuro [Fux]”, revelou.

Pouco conhecido entre seus pares, o subprocura­dor tem uma trajetória de percalços no Ministério Público Federal.

Soares ficou aposentado de novembro de 2010 a novembro de 2015, quando teve que voltar à ativa por ordem do Tribunal de Contas da União.

O TCU decidiu em junho de 2015, ao julgar um recurso da PGR, que a aposentado­ria havia sido ilegal porque o cálculo de tempo levara em consideraç­ão o período em que Soares atuou como advogado, sem comprovaçã­o dos recolhimen­tos previdenci­ários.

À época, Soares era procurador regional (nível intermediá­rio na carreira). Ele foi promovido a subprocura­dor-geral (último estágio) em junho de 2016.

Como noticiou a coluna Mônica Bergamo nesta segunda (19), Soares já respondeu a uma ação penal acusado de ter falsificad­o documento.

Conforme a denúncia, de 1995, ele foi acusado de forjar a assinatura de um advogado quando atuava na primeira instância, junto à Justiça Federal em Juiz de Fora (MG).

“Nunca fui réu, nunca fui processado”, afirmou à Folha. Segundo ele, a denúncia, que chegou a ser recebida pelo TRF-1 (Tribunal Regional Federal da 1ª Região) foi logo em seguida trancada pelo Supremo porque ele tinha prerrogati­va de foro perante o STJ.

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É subprocura­dor-geral da República desde junho de 2016. Quando procurador regional, chegou a ficar aposentado de novembro de 2010 a novembro de 2015, mas teve de voltar à ativa por ordem do Tribunal de Contas da União —cálculo de tempo levara em consideraç­ão o período em que Soares atuou como advogado, sem comprovaçã­o dos recolhimen­tos previdenci­ários
Antônio Carlos Simões Martins Soares, 68 É subprocura­dor-geral da República desde junho de 2016. Quando procurador regional, chegou a ficar aposentado de novembro de 2010 a novembro de 2015, mas teve de voltar à ativa por ordem do Tribunal de Contas da União —cálculo de tempo levara em consideraç­ão o período em que Soares atuou como advogado, sem comprovaçã­o dos recolhimen­tos previdenci­ários

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