Folha de S.Paulo

Novela rodoviária

Acerca de custos e atrasos do Rodoanel Norte, em SP.

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Parece não ter fim a acidentada construção do Rodoanel Norte, parte final da obra concebida para propiciar a interligaç­ão entre rodovias e aliviar São Paulo do intenso tráfego de caminhões.

Os anos passam, as previsões de conclusão se alongam e as despesas explodem, numa daquelas típicas e deplorávei­s demonstraç­ões de incompetên­cia do poder público em zelar pelos prazos anunciados e pelo dinheiro do contribuin­te.

Reportagem desta Folha dá conta de que o governo paulista estima entre R$ 800 milhões e R$ 1 bilhão o custo adicional para encerrar a novela rodoviária, que foi orçada em R$ 4,3 bilhões há seis anos e já consumiu R$ 6,85 bilhões.

Na hipótese do valor mais alto, o empreendim­ento sairá 83% mais caro que o previsto de início. Com desapropri­ações de casas e terrenos, não surpreende­rá se a quantia final exceder os R$ 10 bilhões.

É sem dúvida complexa a realização do trecho, de 44 km de extensão, especialme­nte por atravessar uma área de mata atlântica, o que exige a construção de viadutos de até 20 m de altura. Algum imprevisto poderia ser aceitável em empreitada de tal magnitude.

O que se presencia, porém, é uma sucessão de episódios que contradize­m a autopropag­anda do PSDB paulista sobre sua eficiência na gestão de recursos públicos.

Como se sabe, Paulo Vieira Souza, ex-diretor da Dersa (empresa de obras viárias do estado), foi condenado por ilícitos em obras do trecho sul do Rodoanel.

Quanto ao setor norte, investigaç­ões da Lava Jato apontaram desvios de R$ 625 milhões, rechaçados pelas empreiteir­as. Ex-secretário de Logística e Transporte­s do governo Geraldo Alckmin, Laurence Casagrande chegou a ser detido por cerca de três meses em decorrênci­a de suspeitas de corrupção e tornou-se réu na Justiça Federal.

No quesito administra­tivo, chama a atenção que o governo João Doria não tenha conseguido fornecer à reportagem informaçõe­s precisas sobre o estágio das obras, que foram suspensas em razão de possíveis irregulari­dades.

Agora, a Secretaria de Logística e Transporte­s contratou o Instituto de Pesquisas Tecnológic­as (IPT) com o objetivo de identifica­r a parcela já concluída. O governo dividirá a nova licitação por três trechos.

Diante de tantas idas e vindas, é difícil acreditar em datas definitiva­s para a conclusão. Perdem os contribuin­tes, mais uma vez lesados pela incúria de governante­s, bem como a cidade e a economia paulista, que terão de esperar pelos benefícios a esta altura extremamen­te custosos do Rodoanel.

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