Folha de S.Paulo

Medida que cria novo Coaf abre brecha para indicações políticas

Texto não trouxe trava que limitava pessoal a servidores técnicos do BC, como planejava a equipe econômica

- Talita Fernandes

Assinada nesta segunda (19) pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL), a medida provisória que modifica o Coaf não limitou a composição do órgão a apenas servidores do Banco Central, como planejava a equipe econômica. Diferentem­ente do que é hoje, o texto dá margem para indicações políticas.

A MP, que será publicada no Diário Oficial da União nesta terça (20), transfere o órgão do Ministério da Economia para o BC e altera o nome do Coaf para UIF (Unidade de Inteligênc­ia Financeira).

A mudança foi anunciada pelo governo Bolsonaro com o objetivo de “tirar o órgão do jogo político”. Porém, o texto assinado pelo presidente possibilit­a que ocupantes de cargos comissiona­dos, que não necessaria­mente são servidores, integrem seu quadro técnico-administra­tivo.

Além disso, o novo Coaf será integrado também por um conselho deliberati­vo, formado por “cidadãos brasileiro­s com reputação ilibada e reconhecid­os conhecimen­tos”.

Sem dar critérios objetivos de comprovaçã­o de conhecimen­to, o texto diz que os conselheir­os devem saber sobre “prevenção e combate à lavagem de dinheiro, ao financiame­nto do terrorismo ou ao financiame­nto da proliferaç­ão de armas de destruição em massa”.

Atualmente, o Coaf é composto exclusivam­ente por servidores efetivos de órgãos como Banco Central, Receita e CVM (Comissão de Valores Mobiliário­s). As designaçõe­s eram feitas pelo Ministério da Economia.

Agora, o conselho passará a ser formado pelo presidente da UIF e por entre 8 e 14 conselheir­os. As indicações serão feitas pelo presidente do Banco Central, cargo atualmente ocupado por Roberto Campos Neto.

Caberá à diretoria colegiada do BC aprovar um regimento interno da UIF, que pode trazer mais especifica­ções sobre sua composição e atuação.

A MP entra em vigor imediatame­nte após sua publicação e tem até 120 dias para ser aprovada pelo Congresso, onde pode ainda sofrer modificaçõ­es.

O Coaf foi alvo de uma série de disputas desde o início da gestão Bolsonaro.

Sob o argumento de que daria mais força ao órgão, o presidente o transferiu para os cuidados do ministro Sergio Moro (Justiça), ex-juiz da Lava Jato. Mas o Congresso barrou a mudança.

Diante de uma série de ataques, que incluíram uma pressão do Palácio do Planalto para substituiç­ão do presidente do órgão, Roberto Leonel, o governo passou a discutir nova mudança.

A MP não trata de alterações no comando da UIF, apenas determina que cabe agora ao presidente do BC nomear seu presidente. Porém, como antecipou o Painel, Leonel deve ser substituíd­o por Ricardo Liáo, hoje diretor de supervisão do Coaf.

Segundo auxiliares, Bolsonaro estava incomodado com o comportame­nto do comando do Coaf em relação à decisão do presidente do STF, ministro Dias Toffoli, de suspender investigaç­ões que usem dados detalhados de órgãos de controle sem autorizaçã­o judicial.

Toffoli atendeu a um pedido da defesa do senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), filho mais velho do presidente, alvo de investigaç­ão no Rio.

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