Governo estuda mudar status do Hizbullah para organização terrorista
O Brasil estuda classificar a organização libanesa Hizbullah como terrorista, em um esforço do presidente Jair Bolsonaro para intensificar o alinhamento da política externa de seu governo à dos Estados Unidos.
As autoridades brasileiras estão analisando as opções para levar adiante a ideia, discutida nos escalões mais altos do governo, mas sem apoio geral, de acordo com três pessoas diretamente informadas sobre o assunto que não quiseram ser identificadas porque a discussão não é pública.
A ideia é parte dos esforços de Bolsonaro para criar laços mais fortes com Donald Trump, com quem também deseja um acordo comercial. O movimento se enquadra à visão de mundo do presidente direitista brasileiro e de seus assessores mais próximos.
A milícia libanesa Hizbullah (partido de Deus, em árabe) surgiu em 1985 como movimento de resistência a Israel, que àquela época ocupava o sul do Líbano. A facção segue o ramo xiita do islã e se alinha ao Irã e ao regime da Síria. Há inúmeros atentados atribuídos ao Hizbullah, como o ataque na Argentina em 1994.
A medida, no entanto, pode desgastar o relacionamento com o Irã, que importa US$ 2,5 bilhões (R$ 10,1 bilhões) de produtos brasileiros ao ano, e desagradar a influente comunidade libanesa no Brasil.
O governo também se preocupa que isso possa fazer do país alvo de ataques terroristas, disse uma das pessoas ouvidas pela reportagem. Uma decisão pode ser anunciada antes da visita de Bolsonaro, em outubro, aos Emirados Árabes Unidos e à Arábia Saudita, dois países que fazem forte oposição ao Hizbullah.
À Bloomberg, o Ministério de Relações Exteriores brasileiro disse não considerar o Hizbullah um grupo terrorista e que não existem planos para a alteração por enquanto.
O gabinete do presidente, o Ministério da Justiça e a Polícia Federal, responsáveis pela aplicação das leis de combate ao terrorismo, recusaram-se a comentar o assunto
O Brasil só considera como terroristas organizações assim classificadas pelo Conselho de Segurança da ONU.
Bolsonaro é pressionado pelos EUA a colocar o Hizbullah na lista de grupos terroristas.
Em reunião em novembro de 2018 com o então presidente eleito Bolsonaro, o assessor de segurança nacional dos EUA, John Bolton, disse que Trump esperava cooperação do Brasil no combate ao terrorismo, incluindo ações contra o Hizbullah, o Hamas e outras organizações.
Como parte de sua estratégia contra o Irã, os EUA instam os países latino-americanos a denunciar o Hizbullah, mas a lei brasileira pode ser um obstáculo.
O Brasil define atos de terrorismo de maneira restrita, mas o mesmo não se aplica a organizações. Também ignora a motivação política por trás de ataques. Isso significa que o Congresso pode ter de aprovar quaisquer medidas específicas contra o Hizbullah.
O Hizbullah é considerado organização terrorista por muitos países, como EUA e Arábia Saudita. A Alemanha considera sua ala militar como terrorista, mas não as alas política e social. Rússia e China não o consideram terrorista.