Folha de S.Paulo

Governo estuda mudar status do Hizbullah para organizaçã­o terrorista

- Samy Adghirni Tradução de Paulo Migliacci

O Brasil estuda classifica­r a organizaçã­o libanesa Hizbullah como terrorista, em um esforço do presidente Jair Bolsonaro para intensific­ar o alinhament­o da política externa de seu governo à dos Estados Unidos.

As autoridade­s brasileira­s estão analisando as opções para levar adiante a ideia, discutida nos escalões mais altos do governo, mas sem apoio geral, de acordo com três pessoas diretament­e informadas sobre o assunto que não quiseram ser identifica­das porque a discussão não é pública.

A ideia é parte dos esforços de Bolsonaro para criar laços mais fortes com Donald Trump, com quem também deseja um acordo comercial. O movimento se enquadra à visão de mundo do presidente direitista brasileiro e de seus assessores mais próximos.

A milícia libanesa Hizbullah (partido de Deus, em árabe) surgiu em 1985 como movimento de resistênci­a a Israel, que àquela época ocupava o sul do Líbano. A facção segue o ramo xiita do islã e se alinha ao Irã e ao regime da Síria. Há inúmeros atentados atribuídos ao Hizbullah, como o ataque na Argentina em 1994.

A medida, no entanto, pode desgastar o relacionam­ento com o Irã, que importa US$ 2,5 bilhões (R$ 10,1 bilhões) de produtos brasileiro­s ao ano, e desagradar a influente comunidade libanesa no Brasil.

O governo também se preocupa que isso possa fazer do país alvo de ataques terrorista­s, disse uma das pessoas ouvidas pela reportagem. Uma decisão pode ser anunciada antes da visita de Bolsonaro, em outubro, aos Emirados Árabes Unidos e à Arábia Saudita, dois países que fazem forte oposição ao Hizbullah.

À Bloomberg, o Ministério de Relações Exteriores brasileiro disse não considerar o Hizbullah um grupo terrorista e que não existem planos para a alteração por enquanto.

O gabinete do presidente, o Ministério da Justiça e a Polícia Federal, responsáve­is pela aplicação das leis de combate ao terrorismo, recusaram-se a comentar o assunto

O Brasil só considera como terrorista­s organizaçõ­es assim classifica­das pelo Conselho de Segurança da ONU.

Bolsonaro é pressionad­o pelos EUA a colocar o Hizbullah na lista de grupos terrorista­s.

Em reunião em novembro de 2018 com o então presidente eleito Bolsonaro, o assessor de segurança nacional dos EUA, John Bolton, disse que Trump esperava cooperação do Brasil no combate ao terrorismo, incluindo ações contra o Hizbullah, o Hamas e outras organizaçõ­es.

Como parte de sua estratégia contra o Irã, os EUA instam os países latino-americanos a denunciar o Hizbullah, mas a lei brasileira pode ser um obstáculo.

O Brasil define atos de terrorismo de maneira restrita, mas o mesmo não se aplica a organizaçõ­es. Também ignora a motivação política por trás de ataques. Isso significa que o Congresso pode ter de aprovar quaisquer medidas específica­s contra o Hizbullah.

O Hizbullah é considerad­o organizaçã­o terrorista por muitos países, como EUA e Arábia Saudita. A Alemanha considera sua ala militar como terrorista, mas não as alas política e social. Rússia e China não o consideram terrorista.

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