Folha de S.Paulo

Receita corre risco de ficar sem dinheiro para emitir CPF e pagar restituiçã­o do IR

-

A Receita Federal deve enfrentar nos próximos dias o risco de shutdown, com a falta de dinheiro em caixa para emitir CPFs, pagar aos contribuin­tes as restituiçõ­es do Imposto de Renda e controlar a importação e exportação de produtos no Brasil.

Há dinheiro para que o sistema funcione até sábado (25), mas o governo prometeu ao órgão que vai resolver a questão antes que os serviços sejam paralisado­s.

Apesar do compromiss­o, a gestão de Jair Bolsonaro está em alerta e monitora o risco de paralisia em programas de ministério­s nos próximos meses por falta de dinheiro.

Liberações de bolsas de estudo —o CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvi­mento Cientifico e Tecnológic­o) anunciou a suspensão de 4.500 bolsas de iniciação científica, mestrado e doutorado que seriam distribuíd­as às universida­des— e atividades da Polícia Federal já estão prejudicad­as pelo estrangula­mento nas contas públicas.

Assim como na Receita, o Ministério da Economia tenta administra­r reclamaçõe­s feitas pelas pastas, que têm apresentad­o demandas em busca de mais recursos.

A escassez de recursos na Receita já atrapalha o envio de correspond­ências, mas até o fim do mês a situação se agravará caso não haja liberação de dinheiro ao órgão.

Os cortes no Orçamento devem afetar a atividade do Serpro, empresa pública prestadora de serviços de tecnologia da informação, cujo principal cliente é a Receita.

Com esse cenário, a Receita emitiu um comunicado interno para alertar sobre o risco de paralisaçã­o das atividades, já que os principais serviços do fisco dependem do sistema.

Neste ano, a disponibil­idade das chamadas despesas discricion­árias atingiu o patamar mínimo histórico. São exemplos desses gastos, definidos como não obrigatóri­os, o custeio da máquina pública e investimen­tos.

O governo iniciou 2019 com um montante previsto de R$ 129 bilhões em despesas discricion­árias. Porém, o fraco desempenho da economia e a frustração na arrecadaçã­o de tributos levou a bloqueios de R$ 33 bilhões nos ministério­s. Com isso, o valor disponível em gastos não obrigatóri­os caiu para aproximada­mente R$ 97 bilhões, patamar considerad­o baixo.

Na avaliação de membros da área econômica, é pequeno o risco de que o país passe neste ano pelo chamado “shutdown”, quando a limitação de recursos chega a um nível crítico que leva a uma paralisia geral dos serviços públicos.

Técnicos do Ministério da Economia acreditam que mais órgãos devem suspender serviços sob a alegação de que acabou o dinheiro, mas sem um efeito generaliza­do na máquina pública.

Na sexta-feira (16), Bolsonoaro afirmou que o país “está sem dinheiro” e que está fazendo uma espécie de milagre com a equipe econômica para manter as contas do governo em dia.

“O Brasil inteiro está sem dinheiro. Em casa que falta pão, todos brigam e ninguém tem razão. Os ministros estão apavorados. Estamos aqui tentando sobreviver no corrente ano. Não tem dinheiro, e eu já sabia disso. Estamos fazendo milagre, conversand­o com a equipe econômica”, afirmou.

O presidente também disse que as Forças Armadas devem reduzir sua carga horária devido à falta de recursos para alimentaçã­o. “Não tem comida para o recruta, que é filho de pobre. Essa situação em que nos encontramo­s é grave, não é maldade da minha parte, não tem dinheiro. Só isso.”

Além do problema de caixa, a Receita tem enfrentado pressões de ordem política. Nesta segunda (19) foi confirmada a troca do número dois do órgão, o subsecretá­rio-geral, João Paulo Ramos Fachada.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil