Grupo pede tombamento de quadrilátero na Vila Mariana
Apesar de maioria favorável, conselho adiou votação sobre loteamento de 1925
Quem desce a rua Dr. Fabrício Vampré, na Vila Mariana, bairro da zona sul de São Paulo, nem sempre sabe que está pisando pedras quase centenárias.
A bela ladeira calçada em paralelepípedos traça um “U” por dentro de um quadrilátero cujo tombamento está nas mãos dos membros do Conpresp (Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo).
O caso foi apresentado nesta segunda (19) aos membros do conselho, mas a votação foi adiada, devido a um pedido de vista. A próxima reunião do Conpresp está marcada para 2 de setembro.
Há indícios de que os contornos da região sejam obra do engenheiro Francisco Prestes Maia, antes de ele se tornar o autor do Plano de Avenidas, que mudou as feições de São Paulo e, mais tarde, prefeito da cidade.
O extenso relatório enviado pela arquiteta Maria Albertina Jorge Carvalho, em nome do coletivo de vizinhos Chácara das Jaboticabeiras, cobre a hidrografia e outros aspectos físicos do local, fauna e flora que a habitam.
A Chácara das Jaboticabeiras, cujo nome deriva do loteamento original, iniciado em 1925 e batizado Villa Jaboticabeiras, é delimitada pelas ruas Domingos de Morais, Joaquim Távora, Humberto 1° e a avenida Conselheiro Rodrigues Alves.
Na opinião de Pedro Augusto Machado Cortez, que representou a OAB-SP na reunião desta segunda, como parte do perímetro já foi verticalizado e adensado, suas delimitações deveriam ser revistas.
A maioria dos membros do Conpresp posicionou-se favoravelmente à abertura do processo de tombamento (APT). No fim, porém, a mesa acedeu ao pedido de vista feito por Cortez e adiou a decisão.
O Conpresp diz que seu regimento interno “prevê que, a coletividade precisa acatar pedidos de vistas mesmo com a manifestação verbal de todos os conselheiros e, do próprio presidente, em apoio à APT”.
Quando se abre um processo de tombamento, instaurase uma preservação provisória, para evitar descaracterizar o bem enquanto se decide se ele deve ou não —e em que termos— ser tombado.
A região tem sido cobiçada por empreendimentos imobiliários. Há cerca de um ano, moradores da região começaram a relatar o assédio de incorporadoras interessadas em suas casas —dos 109 lotes residenciais no miolo do quadrilátero, apenas 10 são edifícios.
O que a vizinhança pede ao órgão não é a preservação das edificações, mas do conjunto urbano e da paisagem.
A compreensão disso foi fundamental para que a ideia tomasse forma entre aqueles que temiam que suas casas ficassem congeladas se o tombamento fosse aceito.
A Chácara das Jaboticabeiras se insere numa zona que, pelo Plano Diretor de 2014, deve favorecer o adensamento, por estar ao longo de eixos de transporte. Numa de suas bordas está o largo Ana Rosa, com metrô e terminal de ônibus.
“As particularidades desaparecem nessa visão macro [do Plano Diretor]”, diz a arquiteta Maria Albertina. Um plano de bairro, etapa não cumprida da lei de uso e ocupação de solo, afirma, é essencial para identificar peculiaridades.
No caso da Chácara das Jaboticabeiras, há o declive acentuado que não favorece a ocupação adensada.
“O ambiente funciona para toda a região; é uma área que as pessoas escolhem para passear, é uma área de respiro. Uma cidade homogênea, a gente já percebeu, não é boa nem saudável”, afirma a arquiteta.