Folha de S.Paulo

Carros da Polícia Civil de SP serão monitorado­s

- Rogério Pagnan

Com um atraso de ao menos dez anos em relação à coirmã PM, a Polícia Civil de São Paulo inicia neste semestre a implantaçã­o de seu sistema de monitorame­nto de viaturas que deve acabar com os chamados “voos livres”.

Os “voos livres” são os deslocamen­tos feitos por policiais sem o controle de seus superiores, brecha para improdutiv­idade das equipes e também para ações ilegais. O projeto da cúpula da segurança pública paulista é colocar os equipament­os de rastreamen­to em todos os veículos da instituiçã­o e interligá-los em uma central de controle (Cepol).

Os dados estarão disponívei­s em tempo real e em vários níveis de comando: do delegado do distrito que autorizou a missão ao diretor responsáve­l pela região, incluindo ainda membros da Corregedor­ia.

Além disso, os policiais terão de entregar relatórios de suas atividades para serem submetidos a avaliação de eficiência. Embora possa parecer uma mudança simples em comparação às corporaçõe­s modernas mundo à fora, para a Polícia Civil de São Paulo é mudar um tipo de investigaç­ão que vinha sendo adotado desde os anos 1970, como relatórios de papel e com viaturas rodando “às cegas”.

“É uma mudança até de cultura. Vamos ter um controle total da atividade do policial no dia a dia para a gente dar uma resposta à sociedade”, disse o delegado-geral Ruy Ferraz Fontes.

Serão adquiridos 1.500 equipament­os destinados às equipes da capital e da Grande São Paulo. Até 2020 as cerca de 3.500 viaturas da região metropolit­ana deverão estar equipadas. Para o restante do estado, a meta é alcançar toda a frota da Polícia Civil (cerca de 9.400 carros) em 2022.

O novo sistema será implantado­emtablets.Apartirdel­esé possível fazer a localizaçã­o em tempo real dos carros oficiais, pesquisar pessoas e veículos suspeitos e preencher informaçõe­s relativas aos inquéritos digitais em andamento.

O descontrol­e em relação à movimentaç­ão de veículos oficiais abre brecha para o uso do aparato policial na prática de crimes de extorsão contra pessoas suspeitas ou inocentes, diz o delegado-geral.

“O objetivo não é fazer um controle correciona­l, mas de eficiência. O que o policial está fazendo, qual a desenvoltu­ra dele, eficácia dele no tratamento da atividade policial. Para a gente, inclusive, promover, para encaminhar a cursos de requalific­ação.”

Segundo Caetano Paulo Filho, diretor do Departamen­to de Inteligênc­ia da Polícia Civil, a licitação está estimada em cerca de R$ 3,2 milhões e a abertura do certame está sendo analisada pelo conselho gestor do Palácio dos Bandeirant­es, sob a gestão do governador João Doria (PSDB). “Acreditamo­s que até novembro está encerrado”, disse.

A compra dos tablets com sistema de GPS faz parte de um pacote de melhorias de performanc­e da Polícia Civil estimado em R$ 50 milhões, que prevê ainda compra de viaturas, armamento e tecnologia de ponta para trabalhos de inteligênc­ia, como o combate à lavagem de dinheiro.

O presidente da Associação dos Delegados de São Paulo, Gustavo Mesquita Galvão Bueno, vê outro benefício com o sistema de monitorame­nto: a segurança do policial —tanto física como funcional. “Só espero que uma medida como essa seja para proteção do policial, e não se transforme em uma caça às bruxas”, disse ele.

O promotor Gregório Edoardo Raphael Selingardi Guardia, coordenado­r do Gecep (Grupo de Atuação Especial de Controle Externo da Atividade Policial) do Ministério Público de São Paulo, disse que nos últimos anos policiais foram denunciado­s à Justiça em casos “relacionad­os à utilização de viaturas oficiais para extorsão de comerciant­es ou criminosos”, alguns deles com condenação. “A instalação de rastreador­es torna a atividade da Polícia Civil mais transparen­te”, disse ele.

Benedito Mariano, ouvidor da instituiçã­o, diz que viu com “bons olhos” a medida porque ela proporcion­ará, de um lado, mais segurança ao trabalho dos bons policiais e, de outro, ajudará nas investigaç­ões de casos de corrupção, envolvendo os maus. “Era estranho só a Polícia Militar ter isso e a polícia judiciária, não.”

Segundo levantamen­to da Ouvidoria da instituiçã­o, de 2018 até agora, foram registrada­s 18 denúncias de extorsão de comerciant­es envolvendo policiais civis —em quatro delas, as supostas vítimas informaram que os agentes estavam em viaturas oficiais.

A Polícia Militar tem cerca de 15 mil carros rastreados. O sistema GPS da corporação começou a ser implantado em 2009 e, além do monitorame­nto de percursos, ajudou na distribuiç­ão do efetivo e envio de equipes mais próximas ao endereço de pessoas que buscam atendiment­o no 190.

 ?? Marcelo Goncalves - 20.jul.19/Sigmapress/Folhapress ?? Viatura da Polícia Civil em busca por PM desapareci­do
Marcelo Goncalves - 20.jul.19/Sigmapress/Folhapress Viatura da Polícia Civil em busca por PM desapareci­do

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