Folha de S.Paulo

Onde está a libido de uma mulher?

Casadas, viúvas e divorciada­s dizem que já cumpriram papel de esposa e mãe.

- Mirian Goldenberg Antropólog­a e professora da Universida­de Federal do Rio, é autora de “A Bela Velhice”

Sei que vou provocar desconfort­o em alguns leitores ao dizer que grande parte das mulheres de mais idade não tem

prazer e interesse no sexo. Elas afirmam que não necessaria­mente ocorre uma queda da libido com o envelhecim­ento. Só que, para muitas, o desejo pode estar associado a outros prazeres, e não exclusivam­ente ao sexo.

Casadas, viúvas ou divorciada­s, muitas das minhas pesquisada­s acreditam que já cumpriram o papel obrigatóri­o de esposa e mãe. Hoje, elas querem liberdade e amizade. Elas não descartam a possibilid­ade de viver um grande amor, mas a questão central não é a busca de um marido, como mostra uma advogada de 62 anos.

“Estou sozinha desde os meus 50 anos. Tive dois namorados, mas o que mais valorizo hoje é a minha liberdade. Não quero ninguém me prendendo, me dizendo o que eu não posso fazer. Minha libido está em outro lugar: viajar com as amigas, dançar, cantar, aprender coisas novas. Prefiro mil vezes ter alguém que me escute e me faça rir do que um homem só para transar. Não preciso de um marido como um troféu para provar o meu valor.”

Apesar de raros, há casais de mais idade que têm uma vida afetiva e sexual satisfatór­ia, como me conta uma atriz de 67 anos.

“Tenho uma vida feliz com meu marido, muito melhor do que quando éramos jovens. Já tivemos crises, chegamos a nos separar por um tempo. Mas agora, os dois aposentado­s, os filhos com suas próprias famílias, temos mais tempo para nós dois. Gostamos de viajar, ir ao cinema, caminhar, ficar abraçadinh­os vendo televisão. Temos muita afinidade e intimidade, até a nossa vida sexual ficou mais gostosa com o tempo, mesmo não sendo tão frequente quanto ele gostaria. Quando eu não quero, simplesmen­te digo não, coisa que antes eu não tinha a coragem de fazer.”

Ela conclui: “Você acredita que muitas brasileira­s ainda são do tipo: ‘não sou feliz, mas tenho marido?’”

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