Folha de S.Paulo

Sim, nós temos bananas

Hélio Schwartsma­n

- helio@uol.com.br

são paulo “Ou vou ser um presidente banana?”, perguntou-se Jair Bolsonaro no curso de uma das muitas polêmicas em que se meteu recentemen­te. O dilema presidenci­al é pertinente e merece investigaç­ão.

Em seus oito meses de governo, Bolsonaro não poupou o país de medidas nem de declaraçõe­s controvers­as. Em várias delas mostrou-se realmente um valentão. Foi o caso dos decretos sobre armas, sobre radares de velocidade, do esvaziamen­to de conselhos e agências e dos bate-bocas com adversário­s.

Os traços comuns a essas situações são que elas geram protestos que ficam restritos à mídia e rendem ao mandatário o aplauso entusiasma­do de seus partidário­s. Os prejuízos causados são algo abstratos ou, pelo menos, não imediatame­nte mensurávei­s.

Em outras ocasiões, porém, Bolsonaro revelou-se mais banana. Parou de falar em transferir a embaixada brasileira para Jerusalém e esqueceu o discurso duro que fazia contra a China. Não voltou a insistir na pauta do Escola sem Partido nem na ideia de reduzir a maioridade penal.

Explicaçõe­s para os recuos presidenci­ais incluem a grande chance de sofrer um revés no Congresso ou na Justiça e de incorrer em pesadas perdas comerciais, que afetariam grupos que o apoiam.

Um caso mais difícil de classifica­r é o do Fundo da Amazônia. Aqui, Bolsonaro abriu mão de concretíss­imos R$ 300 milhões pelo prazer de falar grosso com a Alemanha e a Noruega.

Minha impressão é que, esgotadas as polêmicas mais fáceis, o presidente vai buscando conflitos com grupos com maior poder de reação. Nos últimos dias, ele vem se indispondo contra as bases da Receita, da PF e do MP. Já surgem sinais de que poderá até desencadea­r uma campanha internacio­nal de boicote a produtos brasileiro­s, devido ao descuido com a preservaçã­o ambiental. À medida que aumentam as apostas, aumenta também a chance de nosso Hamlet do Ribeira revelar-se um banana.

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