Promotoria italiana ordena desembarque de imigrantes de navio
Os cerca de 90 migrantes que estavam há 19 dias parados no mar a bordo do navio humanitário Open Arms desembarcaram na ilha italiana de Lampedusa nesta terça-feira (20).
A embarcação só pôde atracar após ordem emitida pela Promotoria italiana, depois de várias idas e vindas nos últimos dias sobre o destino das pessoas a bordo, a maioria da Líbia. Os imigrantes foram inicialmente proibidos de chegar ao porto pelo vice-premiê Matteo Salvini, que adota linha-dura em relação à entrada de refugiados no país.
A decisão levou seis países da União Europeia (França, Alemanha, Luxemburgo, Portugal, Romênia e Espanha) a se disporem a recebê-los.
O desembarque foi autorizado nesta terça pelo promotor Luigio Patronaggio, de Agrigento, na Sicília, após inspeção do barco pela polícia judicial e dois médicos. Ao término da visita, Patronaggio falou que a situação era “explosiva e de máxima urgência”.
O Open Arms é operado por uma ONG espanhola de mesmo nome e contava inicialmente com 130 imigrantes. A organização vinha alertando sobre o cenário “fora de controle” a bordo: migrantes estavam sob estresse, dormindo no chão e dividindo apenas dois banheiros. Também avisou que alguns apresentavam comportamento suicida.
O navio estava parado no Mar Mediterrâneo, a 8 km de Lampedusa, há quase três semanas, igualando o recorde de tempo de 32 pessoas resgatadas pelo Sea-Watch3, que desceram em Malta, em janeiro.
A situação do Open Arms fez com que dez imigrantes se jogassem no mar, nesta terça, para tentar nadar até a ilha. No sábado (17), 27 menores de idade ou pessoas apresentando más condições de saúde foram autorizados a desembarcar. Na segunda (19), outros oito foram levados para a costa devido a enfermidades.
Salvini sugeriu que a ONG estava exagerando em relação aos problemas no barco. Segundo ele, apenas dois dos oito desembarcados na segunda-feira estavam doentes.
“A firmeza é a única maneira de impedir que a Itália se torne novamente o campo de refugiados da Europa, como demonstra o barco da ONG espanhola cheia de falsos doentes e falsos menores”, martelou ele em uma rede social.
O destino dos migrantes acirrou a disputa entre a Espanha e Salvini, acusado de querer tirar proveito do episódio em plena crise política.
Para lidar com a situação, Madri havia proposto no domingo (18) ao Open Arms navegar até Algeciras, no sul da Espanha, diante da recusa de Roma em deixá-los desembarcar. A ONG, porém, considerou a proposta “absolutamente irrealizável”.
O governo espanhol propôs, então, o desembarque nas Ilhas Baleares, mais próximas, mas a mil quilômetros de Lampedusa. A ideia foi considerada “incompreensível” pela Open Arms, pois a longa jornada (três dias) colocaria as pessoas a bordo em risco.
“Não podemos pôr em perigo a segurança e a integridade física dos imigrantes e da tripulação. Precisamos desembarcar agora”, afirmou um porta-voz da ONG.
Em uma entrevista publicada nesta terça-feira pelo jornal El País, o fundador da Open Arms, Oscar Camps, pediu que os migrantes fossem autorizados a desembarcar em Lampedusa antes de serem transferidos para a Espanha.
O governo espanhol disse que enviaria um navio militar para a ilha italiana com o objetivo de resgatar as pessoas. O Audaz deve navegar por três dias até Lampedusa, a partir de onde escoltará o Open Arms até o porto de Palma de Mallorca.