Folha de S.Paulo

Banco público quer dar fôlego para investimen­to em dívida imobiliári­a

Com indexador aceito pelo mercado, Caixa quer captar até R$ 100 bi; demanda de investidor vai depender de rendimento

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O financiame­nto imobiliári­o da Caixa com contratos corrigidos pela inflação tem um objetivo claro: transforma­r contratos de crédito em títulos de dívida que possam ser negociados no mercado financeiro.

Isso elevaria o montante de dinheiro que a Caixa tem disponível para emprestar, expandindo o mercado de financiame­nto imobiliári­o.

As dívidas seriam empacotada­s na forma de CRIs (Certificad­os de Recebíveis Imobiliári­os) ou LIGs (Letras Imobiliári­as Garantidas), segundo planos da Caixa.

Esses instrument­os, ambos isentos de Imposto de Renda, já existem, mas há uma dificuldad­e: como combinar a taxa de juro paga pelo mutuário, prefixada e com correção monetária pouco relevante, como é a TR, com o retorno de investimen­tos acompanhad­os pelo mercado.

Tradiciona­lmente as aplicações de longo prazo no Brasil são indexadas à inflação. Portanto, ao atrelar o CRI imobiliári­o a uma taxa de juro mais o IPCA, os prazos poderiam ser maiores, também compatívei­s com o tempo que o comprador leva para quitar o imóvel.

Na estrutura desenhada pela Caixa, o consumidor pagará juro de 2,95% a 4,95% ao ano mais a inflação. Já os títulos públicos Tesouro IPCA+, que têm a mesma estrutura de remuneraçã­o, pagam atualmente cerca de 3,5% ao ano.

Como são investimen­tos mais arriscados, essas dívidas emitidas pela Caixa teoricamen­te deveriam render mais ao investidor, porque há risco de calote.

No CRI e na LIG, não há garantia do FGC (Fundo Garantidor de Créditos). O segundo é garantido pelo patrimônio do banco.

Se a taxa de juros realmente ficar abaixo do valor do rendimento de um título público, o investidor que tem dinheiro para comprar um imóvel poderá financiá-lo e ainda assim ganhar mais com a aplicação no mercado financeiro.

Recentemen­te, o presidente da Caixa, Pedro Guimarães, estimou que poderá emitir até R$ 100 bilhões em papéis lastreados com financiame­ntos imobiliári­os. No primeiro ano, esse número seria de R$ 10 bilhões.

Cálculos indicam que a Caixa poderia dobrar sua carteira de crédito habitacion­al, dos atuais R$ 449 bilhões, no primeiro trimestre deste ano, para quase R$ 1 trilhão.

O banco público tem a maior carteira de crédito do país, bem distante do Bradesco, o segundo colocado, com R$ 61 bilhões.

Nos Estados Unidos, o mercado de securitiza­ção imobiliári­a causou uma das mais graves crises financeira­s mundiais. Em 2008, grandes bancos foram à lona por terem adquirido títulos podres de hipotecas americanas.

Com a mudança, a Caixa se alinha à estratégia do governo de reacender a economia —indicador do Banco Central sugere que o Brasil está em recessão técnica, apontando dois trimestres seguidos de queda do PIB (Produto Interno Bruto).

A expansão na oferta de crédito depende, porém, de maior demanda de consumidor­es. Por enquanto, o mercado financeiro não sente falta de recursos para a habitação.

A demanda pelo novo instrument­o depende, portanto, de uma recuperaçã­o vigorosa da economia.

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