Fumaça provoca desvio de avião em Rondônia
Desde o início de agosto, Porto Velho (RO) vem sendo tomada pela fumaça de queimadas feitas na cidade, no interior e até em países vizinhos, o que já provocou desvios de avião, triplicou atendimentos na saúde e gerou dificuldades no trânsito.
Na última sexta (16), o voo 3594 da Latam —de Brasília com destino a Porto Velho— não conseguiu condições de visibilidade da pista do aeroporto internacional Jorge Teixeira e teve que ser desviado para Manaus (AM). Um voo da Gol, que partiria para Brasília, foi cancelado no mesmo dia, segundo a Infraero.
As queimadas urbanas e na zona rural também superlotam as unidades de saúde de Porto Velho.
No hospital estadual infantil Cosme e Damião, que atende todo o estado, os atendimentos mais que triplicaram por conta de problemas respiratórios devido à fumaça.
“Esse período é bem difícil. O tempo seco, aliado à fumaça, causa muitos problemas às crianças, como pneumonia, tosse e secreção. De 1 a 10 de agosto, a média de atendimentos foi de 120 a 130 crianças com problemas respiratórios. Do dia 11 até o dia 20, subiu para 380 casos. Isso se deve à piora do clima”, diz Daniel Pires, diretor-adjunto do hospital.
A orientação é que, ao serem percebidos sintomas nas crianças, os pais procurem uma unidade de saúde.
A fumaça que provoca um nevoeiro persistente também atrapalha o tráfego de veículos na BR-364, que liga Rondônia ao restante do país.
De acordo com a Polícia Rodoviária Federal, não houve registro de acidentes envolvendo queimadas, mas a atenção deve ser redobrada, pois há muitos incêndios às margens da rodovia.
“Assim como na neblina e na cerração, o motorista deve aumentar a cautela na condução, diminuindo a velocidade e se fazendo visível, por meio do acendimento dos faróis, que é obrigatório na circulação em rodovias. Caso as condições de visibilidade estejam ruins, o mais recomendável é que o motorista encoste seu veículo em algum lugar seguro e aguarde uma melhoria para, então, seguir viagem com segurança”, afirmou o inspetor da polícia Max Cabral.
Segundo o Sipam (Sistema de Proteção da Amazônia), desde 6 de junho não chovia em Porto Velho. Na segunda (19), a precipitação atingiu a cidade.
Na terça-feira (20), porém, a neblina causada pela fumaça das queimadas continuou.
O estado de Rondônia atualmente é o quinto no ranking de focos de incêndio no país.
Até o dia 19 de agosto, o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) registrou 5.533 pontos de queimada no estado.
O valor equivale a um acentuado crescimento de 190% em relação ao mesmo período de 2018.
Trata-se também do maior número de focos de incêndio no estado desde 2013.
Segundo o setor de meteorologia da Sedam (Secretaria Estadual de Desenvolvimento Ambiental), a escuridão que tomou conta do céu de São Paulo na tarde da segunda teve contribuição da fuligem das queimadas na Amazônia.
“Existe um transporte natural de umidade da Amazônia para o Sudeste do país. Tanto que isso regula as chuvas no centro-sul. Então, se tem fumaça com fuligem, também será levada. Se tem queimadas na floresta, haverá muita fumaça em várias regiões do país”, disse Fábio Monteiro, meteorologista da Sedam.
A análise é compartilhada pelo meteorologista Franco Nadal Villela, do Inmet. Segundo o especialista, o anoitecer precoce na cidade foi fruto do encontro de uma frente fria —vinda do leste do estado— com ventos quentes que carregaram material particulado de queimadas vindo do Paraguai por meio do Mato Grosso do Sul —onde a noite também chegou mais cedo.
O climatologista da USP Paulo Artaxo também diz que o episódio em São Paulo evidencia os impactos das queimadas em todo o hemisfério.
Segundo Carlos Nobre, a relação entre os dois fenômenos pode ser verificada a partir de imagens de satélites que medem a quantidade de material particulado. “A frente fria criou uma situação incomum, na qual uma camada mais fria próxima da superfície não se mistura com o ar mais quente acima, aumentando a concentração dos particulados, a ponto de interferir na transmissão de luz.”