Folha de S.Paulo

Fumaça provoca desvio de avião em Rondônia

- Felipe Corona

Desde o início de agosto, Porto Velho (RO) vem sendo tomada pela fumaça de queimadas feitas na cidade, no interior e até em países vizinhos, o que já provocou desvios de avião, triplicou atendiment­os na saúde e gerou dificuldad­es no trânsito.

Na última sexta (16), o voo 3594 da Latam —de Brasília com destino a Porto Velho— não conseguiu condições de visibilida­de da pista do aeroporto internacio­nal Jorge Teixeira e teve que ser desviado para Manaus (AM). Um voo da Gol, que partiria para Brasília, foi cancelado no mesmo dia, segundo a Infraero.

As queimadas urbanas e na zona rural também superlotam as unidades de saúde de Porto Velho.

No hospital estadual infantil Cosme e Damião, que atende todo o estado, os atendiment­os mais que triplicara­m por conta de problemas respiratór­ios devido à fumaça.

“Esse período é bem difícil. O tempo seco, aliado à fumaça, causa muitos problemas às crianças, como pneumonia, tosse e secreção. De 1 a 10 de agosto, a média de atendiment­os foi de 120 a 130 crianças com problemas respiratór­ios. Do dia 11 até o dia 20, subiu para 380 casos. Isso se deve à piora do clima”, diz Daniel Pires, diretor-adjunto do hospital.

A orientação é que, ao serem percebidos sintomas nas crianças, os pais procurem uma unidade de saúde.

A fumaça que provoca um nevoeiro persistent­e também atrapalha o tráfego de veículos na BR-364, que liga Rondônia ao restante do país.

De acordo com a Polícia Rodoviária Federal, não houve registro de acidentes envolvendo queimadas, mas a atenção deve ser redobrada, pois há muitos incêndios às margens da rodovia.

“Assim como na neblina e na cerração, o motorista deve aumentar a cautela na condução, diminuindo a velocidade e se fazendo visível, por meio do acendiment­o dos faróis, que é obrigatóri­o na circulação em rodovias. Caso as condições de visibilida­de estejam ruins, o mais recomendáv­el é que o motorista encoste seu veículo em algum lugar seguro e aguarde uma melhoria para, então, seguir viagem com segurança”, afirmou o inspetor da polícia Max Cabral.

Segundo o Sipam (Sistema de Proteção da Amazônia), desde 6 de junho não chovia em Porto Velho. Na segunda (19), a precipitaç­ão atingiu a cidade.

Na terça-feira (20), porém, a neblina causada pela fumaça das queimadas continuou.

O estado de Rondônia atualmente é o quinto no ranking de focos de incêndio no país.

Até o dia 19 de agosto, o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) registrou 5.533 pontos de queimada no estado.

O valor equivale a um acentuado cresciment­o de 190% em relação ao mesmo período de 2018.

Trata-se também do maior número de focos de incêndio no estado desde 2013.

Segundo o setor de meteorolog­ia da Sedam (Secretaria Estadual de Desenvolvi­mento Ambiental), a escuridão que tomou conta do céu de São Paulo na tarde da segunda teve contribuiç­ão da fuligem das queimadas na Amazônia.

“Existe um transporte natural de umidade da Amazônia para o Sudeste do país. Tanto que isso regula as chuvas no centro-sul. Então, se tem fumaça com fuligem, também será levada. Se tem queimadas na floresta, haverá muita fumaça em várias regiões do país”, disse Fábio Monteiro, meteorolog­ista da Sedam.

A análise é compartilh­ada pelo meteorolog­ista Franco Nadal Villela, do Inmet. Segundo o especialis­ta, o anoitecer precoce na cidade foi fruto do encontro de uma frente fria —vinda do leste do estado— com ventos quentes que carregaram material particulad­o de queimadas vindo do Paraguai por meio do Mato Grosso do Sul —onde a noite também chegou mais cedo.

O climatolog­ista da USP Paulo Artaxo também diz que o episódio em São Paulo evidencia os impactos das queimadas em todo o hemisfério.

Segundo Carlos Nobre, a relação entre os dois fenômenos pode ser verificada a partir de imagens de satélites que medem a quantidade de material particulad­o. “A frente fria criou uma situação incomum, na qual uma camada mais fria próxima da superfície não se mistura com o ar mais quente acima, aumentando a concentraç­ão dos particulad­os, a ponto de interferir na transmissã­o de luz.”

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