Folha de S.Paulo

Aula de um mestre

Passes para o lado são improdutiv­os. Os treinadore­s deveriam pensar nisso

- Tostão Cronista esportivo, participou como jogador das Copas de 1966 e 1970. É formado em medicina

Nesta semana, houve várias novidades no futebol brasileiro. O espanhol Juanfran mostrou, como já se sabia, que é um lateral sério e eficiente, no comportame­nto, nos gestos e na maneira de jogar. Parece um professor, um lateral raiz. Daniel Alves jogou de meiocampis­ta, pela direita, como se visse a partida de cima e de frente para o campo. Enxerga mais que os outros.

Rogério Ceni chegou, deu alguns treinos e já sabia tudo do Cruzeiro. Colocou o hábil e rápido lateral Dodô de volante, no lugar de Ariel. O técnico disse que será Dodô ou Robinho. Como o Santos ficou com um a menos, Rogério, sem perder tempo, antes de acabar o primeiro tempo, recuou Thiago Neves, voltou Dodô para a lateral e pôs Fred de centroavan­te. Ele sabia que, com a vantagem de um jogador, a bola estaria, com frequência, dentro da área.

Outra novidade, que não foi tanta surpresa, foi a demissão de Fernando Diniz, após mais uma derrota. Penso que quando os resultados são ruins por bastante tempo, o desempenho também não é bom, por razões individuai­s, coletivas ou as duas coisas. Faltam finalizaçõ­es mais eficientes, uma melhor marcação, com mais trocas rápidas de passe.

Segundo as estatístic­as, o Fluminense é um dos times que mais criam chances de gol no Brasileiro. São, realmente, muitas, mas tenho dúvidas sobre os critérios que os estatístic­os usam para definir chance de gol. Em 1995, quando comecei a comentar futebol ao vivo pela TV, anotava todas as oportunida­des, pois acho o dado mais importante. Porém, tinha muitas dúvidas. O Fluminense é também um dos times que mais trocam passes no Brasileiro.

No programa Resenha, da ESPN Brasil, o mestre Alex, antes da derrota para o CSA, sem se referir ao Fluminense, explicou que, para ele, um bom passe é o feito para o companheir­o próximo, a alguns metros do marcador, e não para o jogador livre. Quando o marcador tenta desarmar, chega atrasado, pois a bola já está com outro, e, assim, sucessivam­ente. Isso desestrutu­ra a marcação.

Quando o passe é dado para o companheir­o muito livre, o que acontece na maioria das vezes, o marcador, em vez de tentar desarmar, recua e fecha os espaços defensivos. A troca de passes passa a ser para o lado, lenta e improdutiv­a. Os treinadore­s deveriam pensar sobre isso.

Fla x Inter

Na média, noto uma evolução individual e coletiva dos times brasileiro­s. O Flamengo tem mais jogadores brilhantes, do meio para frente, e é mais capaz de encantar e de golear, quando encontra situações favoráveis.

Mas, em dois jogos mata-mata, contra o Inter, não há favorito. O time gaúcho é muito forte defensivam­ente, sem deixar de atacar, e sabe que, no Maracanã, não poderá perder por dois gols de diferença. O Inter eliminou o Palmeiras após perder por 1 a 0, em São Paulo, e venceu o primeiro jogo, no Mineirão, contra o Cruzeiro, pela Copa do Brasil.

O Flamengo, com Arão e Cuéllar, sem Diego, fica mais forte no conjunto, pois melhora a marcação, e Arão pode chegar à frente, o que sabe fazer melhor. O Flamengo é o único time brasileiro que tem, habitualme­nte, dois atacantes pelo meio, hábeis, velozes e artilheiro­s (Gabigol e Bruno Henrique). Hoje não joga o Gabigol. Se mantiver o desenho tático, Arrascaeta ou Vitinho deve formar dupla com Bruno Henrique.

O Flamengo desperta a saudade da época da tabelinha da dupla de atacantes.

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