Folha de S.Paulo

Violência de ‘Bacurau’ não está longe da realidade, diz cineasta

Filme premiado em Cannes reuniu 500 pessoas em sessões seguidas de debate

- Everton Lopes Batista

O incômodo de ver como moradores de regiões considerad­as mais privilegia­das tratam os que vivem em lugares mais afastados foi uma das motivações para os pernambuca­nos Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles criarem “Bacurau”, filme que estreia em 29 de agosto tendo recebido o prêmio do júri no Festival de Cannes deste ano.

“Como nordestino­s que somos, sentimos um pouco disso, que foi virando o combustíve­l para o filme”, disse Dornelles, em debate promovido pela Folha, após sessão gratuita do filme, na segunda (19), no Cinearte, em São Paulo.

No filme, um povoado do oeste de Pernambuco, chamado Bacurau, está sob ataques que causam mortes violentas entre seus moradores.

O sentimento que motiva a reação dos locais ao serem atacados pode ser visto como vingança por alguns, mas, para os diretores, é resistênci­a.

“Elas estavam quietas quando foram atacadas. Elas só se defendem”, afirma Dornelles.

Inspirado nos faroestes, “Bacurau” mostra embates violentos e muitas armas.

“Armas devem ser destruídas e apenas uma pequena quantidade deve ser colocada em museus como referência para o futuro”, disse Mendonça Filho, aplaudido pela plateia.

Ele contou que “Bacurau” nasceu de um processo criativo que envolveu 15 anos de amizade entre os diretores. “Deu certo. Não brigamos e continuamo­s viajando juntos para promover o filme.”

“Nós nos alimentamo­s muito da temperatur­a do mundo nesses últimos anos, e houve uma virada muito sombria. Os jornais estabelece­ram o grau de loucura da sociedade e a gente teve de exacerbar ainda mais a loucura no filme. Infelizmen­te, ele chega em um momento em que ele não está tão longe da realidade”, disse Mendonça Filho.

A fantasia do enredo, segundo Dornelles, é uma projeção pessimista para o futuro do país. “Mas, por enquanto, ainda é só uma ficção”, afirmou.

Os diretores se dizem felizes com a reação do público. “As pessoas saem dizendo que precisam ver o filme mais vezes”, afirmou Dornelles.

Cerca de 500 pessoas participar­am de três sessões gratuitas na noite da segunda.

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