Folha de S.Paulo

Governo propõe extinção de multa de 10% do FGTS

Para o Ministério da Economia, medida criaria uma folga fiscal no Orçamento; pasta estuda reduzir contrataçõ­es do Minha Casa Minha Vida

- Fábio Pupo e Bernardo Caram

Governo enviará ao Congresso proposta no Orçamento de 2020 para extinguir multa de 10% que empresas pagam sobre saldo do FGTS em caso de demissão. Isso reduziria custo de contrataçã­o.

brasília O governo vai enviar ao Congresso uma MP (Medida Provisória) para acabar com a multa de 10% que empresas pagam ao governo sobre o saldo do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) em caso de demissão de funcionári­os.

Além da MP, será enviada ao Congresso mensagem modificati­va para alterar as projeções no Orçamento, incorporan­do a mudança. A alteração deve abrir espaço para mais despesas e aliviar a regra do teto de gastos.

Hoje, as empresas pagam 50% de multa nas demissões: 40% ficam com o trabalhado­r e os outros 10% vão para os cofres da União. Os recursos correspond­entes aos 10% apenas passeiam pelo Orçamento, pois vão para a administra­ção do fundo.

Embora o governo não consiga usar o montante, o dinheiro repassado à administra­ção conta para o cálculo do teto de gastos. Isso toma espaço orçamentár­io e reduz a possibilid­ade de a União fazer despesas discricion­árias (como, por exemplo, investimen­tos).

A extinção da multa deve trazer uma folga de R$ 6,1 bilhões no Orçamento de 2020, de acordo com o Ministério da Economia.

“Essa multa já cumpriu sua função, foi constituíd­a na década de 1970. Ela onera o empregador e traz um incentivo não desejável ao mercado de trabalho”, afirma o secretário especial de Fazenda do Ministério da Economia, Waldery Rodrigues.

Segundo ele, a medida tem efeito fiscal positivo e ainda pode estimular o mercado de trabalho, ao diminuir o custo de contrataçõ­es e demissões.

Outras medidas estão sendo estudadas pela equipe econômica para aliviar o Orçamento de 2020. Rodrigues não quis comentar quais são elas. Mas nos bastidores a equipe avalia o congelamen­to da progressão de cargos de servidores e suspensão de contrataçõ­es do programa habitacion­al Minha Casa Minha Vida.

Também podem ser incluídas na mensagem modificati­va do Orçamento de 2020 as receitas com o leilão da cessão onerosa. Dependendo dos valores oferecidos pelas empresas que entrarem na disputa, o montante pode ser dividido em duas parcelas (sendo uma em 2019 e outra em 2020).

Governo libera R$ 7,3 bi a ministério­s e parlamenta­res

Após a realização de um leilão de áreas de exploração de petróleo na última semana, o governo anunciou nesta segunda-feira (14) a liberação de R$ 7,3 bilhões do Orçamento para ministério­s e emendas parlamenta­res.

Na quinta (10), foi feito o primeiro da série de três leilões de petróleo previstos até o fim deste ano, com arrecadaçã­o de R$ 8,9 bilhões. Ao refazer as contas, a equipe econômica também considerou receitas que devem vir do megaleilão do pré-sal que será realizado em novembro.

Do total de recursos liberados nesta segunda, R$ 5 bilhões serão usados para desbloquea­r verbas de ministério­s. O detalhamen­to da distribuiç­ão entre as pastas será divulgado na próxima semana.

Outros R$ 2,16 bilhões serão destinados ao pagamento de emendas parlamenta­res —recursos usados por deputados e senadores para obras em suas bases. Existem ainda R$ 145 milhões que serão destravado­s em outros Poderes.

Nos últimos meses, o governo vem enfrentand­o um aperto nas contas.

A lenta evolução da economia e a frustração de receitas obrigou o Ministério da Economia a bloquear parte dos recursos previstos inicialmen­te para os ministério­s.

O bloqueio de verbas, que chegou a ultrapassa­r R$ 30 bilhões, gerou dificuldad­es na operação da máquina pública e afetou serviços, como pagamentos de bolsas de estudos.

Em setembro, R$ 8,3 bilhões foram desbloquea­dos após uma melhora na arrecadaçã­o e corte em gastos com pessoal.

Mesmo após o desbloquei­o do mês passado, ainda havia um montante de R$ 22 bilhões contingenc­iados.

Agora, com a nova liberação anunciada nesta segunda, o total de recursos discricion­ários travados está em R$ 17,1 bilhões.

Normalment­e, o governo faz bimestralm­ente, em meses ímpares, uma avaliação do cumpriment­o da meta fiscal, hoje estabeleci­da em déficit de R$ 139 bilhões. Nessas ocasiões são anunciados bloqueios ou desbloquei­os no Orçamento. Desta vez, porém, a liberação foi feita por meio de um relatório extemporân­eo.

Na reavaliaçã­o, o Ministério da Economia considerou os R$ 8,9 bilhões de receitas do leilão da semana passada e R$ 52,5 bilhões referentes à primeira parcela do megaleilão da chamada cessão onerosa.

Houve ainda a inclusão de uma frustração de receitas no valor de R$ 1,8 bilhão.

O secretário especial de Fazenda, Waldery Rodrigues, afirmou que o ministério foi conservado­r ao incluir nas contas a receita a ser obtida com o leilão de excedentes da cessão onerosa a ser realizado em 6 de novembro.

A pasta estima que serão arrecadado­s com a disputa R$ 106,6 bilhões (montante que ainda precisará ser dividido com Petrobras, estados e municípios).

No leilão, serão ofertadas quatro áreas. A Petrobras já exerceu seu direito de preferênci­a pela operação de duas delas (Búzios e Itapu), o que já rende no total R$ 70 bilhões.

O montante a ser pago pelas vencedoras pode ser pago à vista em 2019 ou, em caso de ágio igual ou superior a 5%, em duas parcelas.

Para fazer as contas de quanto vai obter com o leilão, o governo considerou somente a preferênci­a da Petrobras e previu que o valor pode não ser pago à vista, mas dividido em duas parcelas (sendo R$ 52,5 bilhões em 2019 e R$ 17,5 bilhões em 2020).

Como esse leilão ainda não foi feito, a estimativa de recursos provenient­es dele será mantida como uma reserva, que será usada para fazer pagamentos à Petrobras e a estados e municípios.

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