Folha de S.Paulo

Trio leva Nobel por experiment­os para aliviar pobreza

Academia sueca também tangencia equilíbrio de gênero na área ao premiar trio cujo principal tópico é a pobreza

- Érica Fraga

Os economista­s americanos Michael Kremer, Abhijit Banerjee e Esther Duflo foram premiados por pesquisas de campo sobre pobreza e educação infantil em países como o Quênia e a Índia.

são paulo “A inovação social pode passar pelos testes científico­s rigorosos que usamos para medicament­os. Ao saber o que funciona, o que não funciona e por quê, você tira a conjectura da elaboração de políticas.”

A frase dita em 2010 por Esther Duflo, durante um TED talk sobre como combater a pobreza, foi ratificada pela Academia Real Sueca de Ciências, que concedeu a ela e a seus colegas Abhijit Banerjee e Michael Kremer o Prêmio Nobel de Economia.

A instituiçã­o atribuiu ao trio o mérito de testar hipóteses econômicas em experiment­os da vida real, ampliando os horizontes da área, antes dominada pela tentativa de confirmar ou descartar suposições por meio de modelos matemático­s.

Além de reconhecer a importânci­a dessa inovação, a Academia voltou a atribuir relevância ao tema da pobreza, principal tópico de investigaç­ão dos três. “Eles mostraram ser possível fazer experiment­os também em economia. Até então, quem pesquisava pobreza se restringia a olhar os grandes números”, diz o economista Guilherme Lichand, professor da Universida­de de Zurique e ex-aluno de Banerjee e Kremer.

Ao premiar Duflo, a Academia tangenciou ainda o desequilíb­rio de gênero. A economista, que é franco-americana, foi a segunda mulher a receber o Nobel da área. Até então, a premiação, criada há exato meio século, havia sido concedida a uma única mulher: a americana Elinor Ostrom, em 2009.

“Espero que mostrar que é possível para uma mulher ser bem-sucedida e reconhecid­a pelo sucesso irá inspirar muitas, muitas outras mulheres a continuar trabalhand­o e muitos outros homens a lhes dar o respeito que merecem”, disse Duflo.

Aos 46 anos, ela assumiu ainda a marca de mais jovem economista a receber a honraria —Kenneth Arrow foi laureado em 1972, aos 51 anos.

Assim como Banerjee, que é seu co-autor e marido, Duflo é pesquisado­ra no MIT (Massachuse­tts Institute of Technology). Já o americano Kremer é professor da Universida­de Harvard.

Lançado em 2011, o livro “Poor Economics”, de Banerjee e Duflo, se tornou referência sobre o combate à pobreza. O casal também fundou, em 2003, o J-Pal, rede internacio­nal que pesquisa o tema.

Segundo a Academia, os três economista­s confirmara­m ser possível aplicar na economia testes aleatórios, usados em áreas como a medicina.

O método começa pela proposição de uma hipótese bastante específica. Os participan­tes das pesquisas são divididos, então, em dois grupos. Um deles é alvo da política que será testada, e o outro fica de fora. Mas a evolução de ambos é monitorada.

Para que as conclusões sejam confiáveis, é importante que os indivíduos pesquisado­s pertençam a grupos tanto com caracterís­ticas quanto em situações iniciais realmente comparávei­s.

“Os trabalhos dos três têm tido impacto, de fato, na condução de políticas públicas”, diz o economista Fernando Veloso, da FGV-Ibre.

Segundo a Academia de Ciências, como resultado prático dos estudos do trio em educação que seguiram essa linha metodológi­ca, mais de 5 milhões de crianças indianas têm se beneficiad­o de programas de reforço escolar.

Estudos dos três ajudaram a mostrar que esse tipo de política é, por exemplo, mais eficaz para a aprendizag­em de crianças pobres do que a introdução de mais livros didáticos ou refeições escolares.

Eles fizeram também experiment­os considerad­os importante­s em outras áreas, como saúde e microcrédi­to.

 ?? Zheng Huansong/ Xinhua ?? A Academia Real Sueca de Ciências anuncia Abhijit Banerjee, Esther Duflo e Michael Kremer como vencedores do Nobel de Economia
Zheng Huansong/ Xinhua A Academia Real Sueca de Ciências anuncia Abhijit Banerjee, Esther Duflo e Michael Kremer como vencedores do Nobel de Economia

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