STF apura ligação entre rede pró-Bolsonaro e ataques à corte
são paulo e brasília | uol O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes ordenou que a Polícia Federal investigue a relação entre uma rede de disparos de mensagens de WhatsApp favoráveis ao presidente Jair Bolsonaro (PSL), ativa desde as eleições passadas e revelada pelo UOL em setembro, e os ataques sofridos pelos ministros da corte na internet nos últimos tempos.
O pedido foi feito dentro do chamado inquérito das fake news, aberto pelo próprio tribunal sob o comando de Moraes.
A reportagem do UOL mostrou que uma rede de disseminação de fake news pró-Bolsonaro, com uso de robôs e disparo em massa de mensagens, não foi completamente desativada depois das eleições.
Muitas linhas telefônicas usadas nos disparos durante as eleições são usadas hoje em dia para administrar grupos públicos de WhatsApp a favor do governo Bolsonaro. Em parte desses grupos, apenas o usuário administrador pode enviar mensagens — eles funcionam como “listas de transmissão”.
Agora, o STF quer saber se a mesma estrutura é utilizada para disseminar os ataques e ameaças aos ministros que motivaram a abertura do inquérito na corte.
Em 19 de março último, um despacho de Alexandre de Moraes mostrou que uma das linhas de investigação no inquérito aberto pelo Supremo era “a verificação da existência de esquemas de financiamento e divulgação em massa nas redes sociais, com o intuito de lesar ou expor a perigo de lesão a independência do Poder Judiciário e ao Estado de Direito”.
Em entrevista naquele dia, o ministro confirmou a suspeita. “Essa rede alguém paga, alguém financia por algum motivo”, disse a jornalistas. Ele afirmou que o caso seria “investigado a fundo”.
“Há fortes suspeitas de que os grupos de financiamento maiores são de São Paulo.”
Em outro inquérito, a Polícia Federal investiga o caso para verificar quem pagou pelo serviço de empresas disparadoras de mensagens em massa. Moraes quer saber se as pessoas e as empresas que atuam nessas redes são as mesmas que agem em disparos de mensagens contra ministros do Supremo.
O WhatsApp cancelou ao menos 1,5 milhão de contas de usuários brasileiros desde as eleições passadas por uso de robôs, disparo em massa de mensagens e disseminação de fake news.
Recentemente, o gerente de políticas públicas e eleições globais do WhatsApp, Ben Supple, admitiu publicamente que houve disparos maciços ilegais de mensagens durante as eleições do Brasil em 2018, como mostrou a Folha.
“Na eleição brasileira do ano passado houve a atuação de empresas fornecedoras de envios massivos de mensagens, que violaram nossos termos de uso para atingir um grande número de pessoas”, afirmou, em palestra no Festival Gabo, na Colômbia.
Supple disse ainda que o WhatsApp desencoraja o usa de grupos como se fossem listas de transmissão.
“Vemos esses grupos como tabloides sensacionalistas, onde as pessoas querem espalhar uma mensagem para uma plateia e normalmente divulgam conteúdo mais polêmico e problemático”, disse.
“Nossa visão é: não entre nesses grupos grandes com gente que você não conhece; saia desses grupos e os denuncie.”
A reportagem do UOL solicitou informações e entrevista sobre o caso ao ministro Alexandre de Moraes. Por meio de seu gabinete, ele disse que não comentará o assunto. A Polícia Federal não prestou esclarecimentos.
Na semana passada, reportagem do UOL mostrou que a apuração do ministro tem encontrado resistência do Ministério Público Federal e da Justiça de primeira instância.
Pelo menos cinco pedidos de investigação derivados do inquérito do STF, em uma tentativa de desmembramento, foram feitos; dois deles foram arquivados.