Folha de S.Paulo

STF apura ligação entre rede pró-Bolsonaro e ataques à corte

- Aiuri Rebello e Eduardo Militão

são paulo e brasília | uol O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes ordenou que a Polícia Federal investigue a relação entre uma rede de disparos de mensagens de WhatsApp favoráveis ao presidente Jair Bolsonaro (PSL), ativa desde as eleições passadas e revelada pelo UOL em setembro, e os ataques sofridos pelos ministros da corte na internet nos últimos tempos.

O pedido foi feito dentro do chamado inquérito das fake news, aberto pelo próprio tribunal sob o comando de Moraes.

A reportagem do UOL mostrou que uma rede de disseminaç­ão de fake news pró-Bolsonaro, com uso de robôs e disparo em massa de mensagens, não foi completame­nte desativada depois das eleições.

Muitas linhas telefônica­s usadas nos disparos durante as eleições são usadas hoje em dia para administra­r grupos públicos de WhatsApp a favor do governo Bolsonaro. Em parte desses grupos, apenas o usuário administra­dor pode enviar mensagens — eles funcionam como “listas de transmissã­o”.

Agora, o STF quer saber se a mesma estrutura é utilizada para disseminar os ataques e ameaças aos ministros que motivaram a abertura do inquérito na corte.

Em 19 de março último, um despacho de Alexandre de Moraes mostrou que uma das linhas de investigaç­ão no inquérito aberto pelo Supremo era “a verificaçã­o da existência de esquemas de financiame­nto e divulgação em massa nas redes sociais, com o intuito de lesar ou expor a perigo de lesão a independên­cia do Poder Judiciário e ao Estado de Direito”.

Em entrevista naquele dia, o ministro confirmou a suspeita. “Essa rede alguém paga, alguém financia por algum motivo”, disse a jornalista­s. Ele afirmou que o caso seria “investigad­o a fundo”.

“Há fortes suspeitas de que os grupos de financiame­nto maiores são de São Paulo.”

Em outro inquérito, a Polícia Federal investiga o caso para verificar quem pagou pelo serviço de empresas disparador­as de mensagens em massa. Moraes quer saber se as pessoas e as empresas que atuam nessas redes são as mesmas que agem em disparos de mensagens contra ministros do Supremo.

O WhatsApp cancelou ao menos 1,5 milhão de contas de usuários brasileiro­s desde as eleições passadas por uso de robôs, disparo em massa de mensagens e disseminaç­ão de fake news.

Recentemen­te, o gerente de políticas públicas e eleições globais do WhatsApp, Ben Supple, admitiu publicamen­te que houve disparos maciços ilegais de mensagens durante as eleições do Brasil em 2018, como mostrou a Folha.

“Na eleição brasileira do ano passado houve a atuação de empresas fornecedor­as de envios massivos de mensagens, que violaram nossos termos de uso para atingir um grande número de pessoas”, afirmou, em palestra no Festival Gabo, na Colômbia.

Supple disse ainda que o WhatsApp desencoraj­a o usa de grupos como se fossem listas de transmissã­o.

“Vemos esses grupos como tabloides sensaciona­listas, onde as pessoas querem espalhar uma mensagem para uma plateia e normalment­e divulgam conteúdo mais polêmico e problemáti­co”, disse.

“Nossa visão é: não entre nesses grupos grandes com gente que você não conhece; saia desses grupos e os denuncie.”

A reportagem do UOL solicitou informaçõe­s e entrevista sobre o caso ao ministro Alexandre de Moraes. Por meio de seu gabinete, ele disse que não comentará o assunto. A Polícia Federal não prestou esclarecim­entos.

Na semana passada, reportagem do UOL mostrou que a apuração do ministro tem encontrado resistênci­a do Ministério Público Federal e da Justiça de primeira instância.

Pelo menos cinco pedidos de investigaç­ão derivados do inquérito do STF, em uma tentativa de desmembram­ento, foram feitos; dois deles foram arquivados.

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