Folha de S.Paulo

‘Sempre perguntam o que estou fazendo aqui’

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A minha intenção, quando vim para São Paulo, era viver. Portugal é um país que está saindo agora de uma bancarrota. Eu estava cansada de uma monotonia e de uma apatia generaliza­da que durante muitos anos se sentiu nas pessoas. Não havia alegria, e eu sentia falta disso.

A primeira coisa que me perguntam é: o que você está fazendo aqui? Nenhum brasileiro acha interessan­te as pessoas virem para o Brasil. Eu tinha a ideia de que o Brasil era um país que se gostava muito, e não é.

Vocês não têm noção do que é ser um trabalhado­r independen­te lá. Não tem nem metade do que oferece na CLT. É uma precarizaç­ão ofensiva. E não tenho vontade de voltar pra isso.

Desde pequena tinha fascínio pelo Brasil, talvez por acompanhar novelas, as dublagens, que a gente lá chama de dubragens. “O Rei Leão” foi um marco, o primeiro filme que eu vi em português de Portugal. Até então era tudo em “brasileiro”.

Sempre vem alguém brincar com português. Não tem piada de brasileiro lá, então não consigo dar o troco. Imagino que o que aconteceu é que havia uma raiva dos portuguese­s, da colonizaçã­o, da história.

A caracteriz­ação do português como um personagem burro, eu acho que tem a ver com essa ranço. Então eu não rio porque não acha graça das piadas, mas não fico chateada.

A melhor decisão que tomei na vida foi ter vindo para o Brasil. Ao conhecer outras culturas, como as pessoas pensam, sentem, não tem como você não mudar.

Quando volta, você fica num limbo, nãoédel adone nhum,é de sim esma. Issoé um empoderame­nto enorme.

A designer de produto Maria Luísa Caeiro, 31, é de Portugal e está no Brasil desde 2016

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