Folha de S.Paulo

Ultraconse­rvadores perdem maioria do Senado na Polônia

Por apenas quatro cadeiras, partido Lei e Justiça mantém controle da Câmara

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varsóvia | reuters e afp O partido nacionalis­ta e ultraconse­rvador Lei e Justiça (PiS) manteve sua maioria na Câmara baixa do Parlamento da Polônia, mas, contrarian­do as pesquisas de boca de urna, perdeu o controle do Senado para a centrista Coalizão Civil, que ficou com 51 das 100 cadeiras.

O que deveria ter sido uma vitória fácil para o PiS se transformo­u em uma disputa acirrada pela Câmara (Sejm), que concentra mais poderes, segundo a legislação polonesa.

A Comissão Eleitoral declarou nesta segunda-feira (14) que os ultraconse­rvadores conquistar­am 235 dos 460 assentos —apenas quatro acima do mínimo necessário (231 cadeiras) para formar a maioria. Com o resultado, o PiS garantiu sua reeleição na casa.

Com a nova configuraç­ão, o Senado, agora controlado pela oposição, poderá bloquear ou atrasar a tramitação de propostas legislativ­as.

“O Senado foi reconquist­ado. Graças ao acordo entre os partidos, a oposição terá a maioria”, escreveu Katarzyna Lubnauer, líder de uma das legendas da Coalizão Civil.

A composição poderá também votar em nomeações para instituiçõ­es-chave, como a procurador­ia-geral do país.

O líder dos ultraconse­rvadores, Jaroslaw Kaczynski, afirmou que prevê atrasos na aprovação da agenda legislativ­a. “Merecíamos mais.”

Durante seu primeiro mandato, o PiS ficou conhecido pela rapidez com que passava projetos de lei, convocando sessões do Sejm de última hora e tarde da noite, normalment­e seguidas por votações rápidas. A legenda esperava conquistar dois terços das cadeiras do Senado, o que lhe permitiria aprovar emendas à Constituiç­ão polonesa.

O PiS “não tem uma maioria suficiente­mente ampla para derrubar um veto presidenci­al. Por isso, o desafio será vencer as eleições presidenci­ais do próximo ano”, afirmou Stanislaw Mocek, reitor da universida­de Collegium Civitas, em Varsóvia.

Um dos pilares do sucesso do PiS é a forma como recorre ao ressentime­nto de poloneses mais pobres, que não prosperara­m após o colapso do regime comunista em 1989. No poder desde 2015, o partido ampliou o gasto social.

A legenda prometeu acabar com o modelo pós-comunismo, que contou com a mão de obra barateada, mais do que dobrando o salário mínimo nos últimos oito anos —gastos que se tornaram possíveis graças ao cresciment­o da economia polonesa.

Um ponto central das eleições foi o programa 500+, que dá a famílias cerca de R$ 515 mensais por filho. O projeto foi criado pelo PiS e se popularizo­u na zona rural.

Tacitament­e apoiada pela Igreja Católica, ainda muito influente na sociedade polonesa, a legenda aposta em valores familiares e tradiciona­listas e condena o que chama de “ideologia LGBT”.

O partido também mudou a política externa da Polônia, afastando-a da União Europeia e se tornando um líder na tentativa de minar alguns poderes do bloco.

Bruxelas tomou medidas legais contra as autoridade­s polonesas para derrubar uma legislação que, segundo o bloco, politiza o Judiciário.

O PiS alega que as reformas são necessária­s para que o sistema judicial seja mais justo e eficiente. Em sua campanha, o partido prometeu mais mudanças nas cortes do país.

Do outro lado, a oposição da Coalizão Civil buscou o apoio dos moradores dos grandes centros urbanos, que são críticos dessas reformas.

O comparecim­ento às urnas foi de 61,1%, o maior índice registrado desde as primeiras eleições, em 1989, que seguiram ainda o modelo eleitoral herdado do comunismo.

A vitória apertada dos ultraconse­rvadores ocorre um dia depois da derrota de um de seus principais aliados, o premiê húngaro Viktor Orbán. Seu partido, o Fidesz, perdeu a prefeitura da capital, Budapeste, para Gergely Karacsony, de centro-esquerda.

O resultado foi considerad­o o maior feito eleitoral da oposição húngara nesta década. Para o cenário nacional, só estão previstas eleições gerais em 2022. Orbán, eleito também em 2010, tem maioria absoluta no Parlamento.

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