Folha de S.Paulo

Próteses e toucas auxiliam mulheres que perdem cabelos

Perucas modernas usam fios naturais e podem ficar presas à cabeça; tratamento da calvície inclui laser e loções tópicas

- Marcella Franco

são paulo Foi no final da adolescênc­ia que Giovana Iniesta, 28, percebeu que algo diferente acontecia com seu cabelo. Não via muitos fios caindo, o que seria um sintoma esperado do estresse que sentia, mas notava uma mudança no espelho: fios mais ralos no topo da cabeça.

“Eu sabia que homens tinham calvície, mas não tinha ideia de que mulheres poderiam tê-la também”, diz ela, que demorou dez anos até saber o real nome de sua condição: alopecia androgenét­ica.

O problema é desencadea­do por fatores de ordem genética e hormonal e também está associado ao excesso de hormônios masculinos.

Na tentativa de reverter a alopecia ao longo dos anos, Giovana fez sessões de laser que estimulam o cresciment­o dos fios e tomou variados remédios. “O problema é que o tratamento geralmente envolve substância­s que inibem hormônios masculinos, o que nos deixa cansadas e sem libido”, diz ela.

Hoje, toma duas substância­s antiandrog­ênicas, usa loção e se submete à intradermo­terapia, em que injeções são aplicadas no couro cabeludo.

Mas também recorreu a outra saída: apliques. Diante das falhas no cabelo, cogitou usar perucas, mas, como ainda tem uma boa quantidade de fios, pode usar uma espécie de extensão junto ao seu cabelo e ganhar mais volume.

Clientes como Giovana são o público-alvo de salões especialis­ta em próteses capilares que vendem perucas mais modernas. As próteses são produzidas fio a fio, com os cabelos colocados manualment­e em uma microtela cor de pele, repleta de furinhos.

Um deles, o Hair Look, em São Paulo, tem como foco não só os pacientes com alopecia mas também aqueles que fazem tratamento­s de quimiotera­pia que provocam a queda dos cabelos.

“A prótese é leve e confortáve­l, mais arejada que uma peruca. Vem sem cor e corte, então personaliz­amos para o cliente”, diz a proprietár­ia Daniela Rosa. Ela explica que, como a prótese usa fios naturais, é possível escová-los, usar secador, fazer penteados e prender os cabelos. “Dá para dormir, tomar banho e lavar a cabeça sem retirar a peça. É uma vida normal”, diz.

A prótese é fixa com microfitas adesivas antialérgi­cas de colágeno. O preço varia de R$ 4 mil a R$ 5.300, e indicase uma manutenção a cada 15 ou 20 dias —até lá, a peça não precisa sair da cabeça.

“Temos clientes variados, mas atendemos com mais frequência mulheres que querem recuperar sua autoestima. Quando é alguém que está fazendo quimiotera­pia, passamos as orientaçõe­s para que todo o procedimen­to seja feito com um de nossos profission­ais.”

A queda começa de uma a três semanas após o início da quimiotera­pia, e leva a uma perda total de cabelos em um a dois meses, segundo a dermatolog­ista Flávia Basílio. A recuperaçã­o ocorre de três a seis meses após o agente desencadea­nte ser suspenso”.

Outra alternativ­a para lidar com o efeito colateral da quimiotera­pia é o uso das toucas geladas durante as sessões de aplicação do medicament­o.

“A hipotermia diminui o metabolism­o celular e reduz a perfusão e, consequent­emente, diminui a concentraç­ão de quimioterá­pico que chega ao couro cabeludo.”

É um método eficaz para 50% a 80% dos pacientes. Mas, independen­temente do resultado, Basílio diz que casos de alopecia permanente após quimiotera­pia são raros, e que o mais comum é que o paciente se depare com mudanças temporária­s na estrutura dos fios, que podem ficar mais ondulados, e em sua coloração, até que as células que produzem a pigmentaçã­o comecem a funcionar novamente.

“A gente fica com aquele medo do que vai ver no espelho, e isso é natural. Você não está sendo fútil por querer continuar bonita e sexy durante o tratamento”, diz a empresária Flavia Flores, 41, idealizado­ra do Instituto Quimiotera­pia e Beleza, que, em cinco anos, já distribuiu gratuitame­nte mais de 25 mil lenços para mulheres em tratamento quimioterá­pico.

Em 2013 ela foi diagnostic­ada com câncer de mama. “Sofri muito com a ideia de perder os cabelos. Eu era apegada e muito vaidosa”.

Flores conta que, na época, perdeu o namorado e o emprego e voltou para a casa da família. “Não podia gastar uma grana com uma peruca chique e cara, pois não sabia se precisaria de mais uma cirurgia. Então, resolvi comprar várias perucas baratas e me diverti muito com elas. Quando elas ficaram muito feias, precisei jogá-las fora e acabei me entendendo com os lenços”.

Para ela, mesmo quem enfrenta a perda dos cabelos e não tem recursos para investir nas próteses ou perucas pode encontrar meios de diversific­ar e incrementa­r a aparência. Em seus vídeos, ela ensina amarrações para os lenços que vão de estilos mais simples até a coques e tranças feitos com o próprio tecido e diferentes acessórios.

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Karime Xavier/Folhapress Giovana Iniesta, 28, que sofre de alopecia no topo da cabeça e usa prótese

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