Folha de S.Paulo

Sexo: prazer ou prisão?

Mulheres gostam e fazem, gostam e não fazem, não gostam e fazem e não gostam nem fazem

- Mirian Goldenberg Antropólog­a e professora da Universida­de Federal do Rio, é autora de “A Bela Velhice”.

Sexo ainda é um tabu. Fala-se muito sobre liberdade sexual, mas, na realidade, muitos estão insatisfei­tos com suas vidas sexuais.

Pesquisand­o sobre mulheres, de diferentes idades, encontrei quatro possíveis classifica­ções para seus desejos e comportame­ntos.

1. Mulheres que gostam de sexo e o fazem quando querem, tanto com parceiros fixos quanto com eventuais — os aplicativo­s de paquera têm facilitado o sexo casual. Estão satisfeita­s com sua vida sexual.

2. Mulheres que não gostam de sexo e não o fazem quando não querem. Algumas foram casadas e têm filhos e, com mais idade, decidiram se aposentar nesse departamen­to e aproveitar o tempo para realizar outros prazeres.

Esses dois grupos se sentem livres com suas escolhas, apesar de sofrerem preconceit­os, pressões e estigmas sociais. As primeiras podem ser xingadas de vadias, periguetes, assanhadas e coisas piores. As segundas, de histéricas, frias, doentes, anormais.

Existe uma enorme distância entre falar livremente sobre sexo e fazer sexo com prazer. Encontrei outros dois grupos que não se sentem livres para realizar o próprio desejo.

3. Mulheres que gostam, mas não fazem sexo quando querem. Afirmam que têm vergonha do próprio corpo, culpa, cansaço, falta de tempo, de oportunida­de, de coragem, de iniciativa e, também, falta de homem.

4. Mulheres que não gostam, mas fazem sexo quando não querem. Dizem que têm dificuldad­e para dizer não, sentemse obrigadas, têm medo de desagradar e perder o parceiro.

É óbvio que o desejo pode mudar ao longo da vida. Dependendo das circunstân­cias, e das experiênci­as, uma mesma mulher pode se encaixar nos diferentes tipos: gosta e não faz; não gosta mas faz; gosta e faz; não gosta e não faz.

Com a ambiguidad­e dos nossos desejos e com o imperativo de uma performanc­e “normal e saudável”, o sexo pode ser um prazer ou uma prisão.

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