Prédio desaba em Fortaleza; 9 estão desaparecidos
Até a noite de terça, não havia mortos, mas 9 pessoas estavam desaparecidas
O desabamento de um prédio residencial de sete andares ontem no bairro Dionísio Torres, em Fortaleza, deixou ao menos nove feridos. Outras nove pessoas estão desaparecidas. Segundo testemunhas, o edifício passava por obra em sua estrutura.
fortaleza O desabamento de um prédio residencial de sete andares na manhã desta terça-feira (15) no bairro Dionísio Torres, região nobre de Fortaleza, deixou ao menos nove feridos. Outras nove pessoas estão desaparecidas.
Ao contrário do informado durante todo o dia, não havia relato de mortos até a noite desta terça, conforme Eduardo Holanda, comandante do Corpo de Bombeiros do Ceará.
“Vamos continuar trabalhando até que todos sejam encontrados. Estamos trabalhando manualmente, procurando pelas frestas e tentando contato com as vítimas. Maquinário pesado só entra depois das primeiras 24 horas”, disse.
O edifício Andrea tinha dois apartamentos por pavimento do primeiro ao sexto andar e um na cobertura, 13 no total. Era antigo e grande e, segundo vizinhos, moradia de muitos idosos. No momento do desabamento, barulho e fumaça chamaram a atenção da vizinhança toda.
“A avenida aqui é muito movimentada, tem muita batida de carro. Mas o barulho era diferente. Quando vimos tinha muita fumaça e entendemos que o prédio tinha caído”, disse Edilmara Santos, que trabalha numa lavanderia próxima.
O temor inicial era de que tivesse havido uma explosão, mas não havia cheiro de gás minutos após a queda. Segundo Edilmara, logo carros de polícia, bombeiros e modo Samu chegaram. “Tenho clientes do prédio, muito triste tudo isso.”
O edifício não tinha porteiro, apenas um zelador. Havia segurança inteligente, contratada de uma empresa. Relatos dão conta de que uma obra estrutural estava sendo feita em pilares do prédio; será investigado se é essa a causa do desabamento.
Além disso, moradores dividiam o apartamento grande, de cerca de 140 m² cada um, em dois, principalmente para alugar. Um deles com essa modificação, no primeiro andar, estava sendo oferecido para aluguel há cerca de um ano por R$ 1.000 mensais.
Familiares das vítimas estavam concentrados num hall de um prédio próximo ao que desabou. Por lá passaram na tarde desta terça-feira o governador do Ceará, Camilo Santana (PT), e o prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio (PDT). Psicólogos também estão presentes. A cada duas horas o Corpo de Bombeiros atualiza informações aos familiares, que ficarão hospedados em hotéis gratuitamente.
Além do edifício, um estabelecimento comercial ao lado foi atingido pelos escombros, assim como carros e um caminhão que estavam na rua.
No local do desabamento, Glaucio Sampaio, tio de um dos resgatados com vida, disse que os moradores reclamavam das condições do edifício. “O pessoal reclamava que estava tudo corroído no prédio, que poderia acontecer algo. Graças a Deus meu sobrinho saiu com vida”, afirmou.
David Sampaio Martins, o sobrinho, foi resgatado e encaminhado ao hospital. Para provar à família que estava vivo, enviou uma selfie dos escombros. Além de enviar a foto, o David telefonou para a família.
Seu pai, Paulo, achou que era um trote. “Nem estava acreditando. Ele falou ‘papai, estou embaixo da estrutura do prédio, o prédio veio abaixo’”, afirmou. Na imagem enviada aos familiares, David tinha poeira do desabamento no corpo e apresentava uma leve escoriação no braço direito. Ele foi resgatado na coluna do elevador do edifício.
À noite, holofotes chegaram ao local para auxiliar os trabalhos das equipes de resgate. As ruas no entorno foram bloqueadas pela polícia.
O resgate era feito por homens da Defesa Civil e dos bombeiros, que gritavam pedindo para que, dos escombros, pessoas debaixo gritem caso estejam ouvindo. Cães farejadores ajudavam na busca e enfermeiros voluntários se apresentaram no local. Comerciantes contribuíram com água e mantimentos.
Até a conclusão desta edição, não havia informação do que pode ter causado a queda do prédio, que fica a três quilômetros da praia de Iracema, um dos tradicionais pontos turísticos da capital cearense.
A Prefeitura de Fortaleza tem um pedido de construção do prédio de 1994.
No ano seguinte, o condomínio do Edifício Andrea teve CNPJ registrado. Em 2013, quando a prefeitura fez atualização da planta imobiliária, foi identificado que o lote onde ficava o edifício pagava apenas um IPTU para todas as unidades habitacionais. Foi feito pedido de desmembramento para regularizar a situação e cada apartamento passou a fazer pagamento individual.
Vídeo que circula nas redes sociais mostra que os pilares do edifício estavam deteriorados. Presidente do Crea (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia) do Ceará, o engenheiro civil Emanuel Maia Mota disse nesta terça que existe uma ART (Anotação de Responsabilidade Téctos nica) com data de segundafeira (14) relatando a execução de recuperação da construção e pintura no imóvel, ao custo de R$ 22.200.
A obra, no entanto, ainda não tinha autorização do poder municipal.
“O documento foi feito de forma simples, sem maiores detalhes”, disse Mota. ART é um documento que caracteriza direitos e obrigações entre profissionais da área e contratantes. O engenheiro responsável, que não teve o nome revelado, será chamado para dar informações sobre o edifício. Uma eventual punição pode chegar à suspensão do registro profissional.
Ainda de acordo com Mota, o prédio era velho e necessitava de reformas. Ao contrário do informado pela prefeitura, ele afirmou que o edifício foi construído há mais de 40 anos, mas não soube dizer se o local já estava em obras.
“Ele [engenheiro] não dá maiores detalhes, se começou a obra, quando começou, se não começou. Enfim, não temos como dimensionar o que se passou ali.”
Não há um registro de projeto, apenas a execução do serviço, ainda conforme o presidente do Crea. Mota disse também que os vídeos que circulam em redes sociais mostram “grave desgaste da estrutura”. “Fortaleza tem atmosfera agressiva devido à salinidade do mar. Qualquer fissura agrava ainda mais o potencial de risco das edificações.”
No início de junho, um prédio no bairro Maraponga teve desabamento parcial, depois da queda das colunas de sustentação —o que levou a retirada de moradores do local e a evacuação de casas vizinhas. A Polícia Civil do Ceará indiciou os proprietários do local pelos crimes de desabamento e dano qualificado, há duas semanas.