Folha de S.Paulo

Com confusão, projeto sobre o tema trava em comissão da Câmara

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brasília Em sessão marcada por confusão com a oposição e resistênci­a do centrão, o presidente da CCJ (Comissão de Constituiç­ão e Justiça) da Câmara, Felipe Francischi­ni (PSL-PR), fracassou em sua tentativa de agilizar a tramitação da PEC (proposta de emenda à Constituiç­ão) da prisão em segunda instância.

Na noite de segunda (14), Francischi­ni convocou uma sessão extraordin­ária para esta terça (15) para discutir a PEC, de autoria do deputado Alex Manente (Cidadania-SP).

A decisão se deu no mesmo dia em que foi divulgado que o STF marcou para esta quinta (17) o julgamento de três ações sobre o tema.

A ofensiva de Francischi­ni, no entanto, esbarrou na oposição, que entrou com pedidos de requerimen­tos para tentar bloquear a apreciação do texto na CCJ. Siglas do centrão, como PSD, MDB e PL, por sua vez, liberaram deputados para votar os requerimen­tos seguindo suas convicções, evidencian­do o desconfort­o com a manobra de Francischi­ni.

Com mais de duas horas de sessão, Francischi­ni não havia conseguido que a relatora do projeto, Caroline de Toni (PSLSC), lesse seu parecer.

O presidente foi bastante criticado por pautar o tema somente pelo “senso de oportunida­de midiática” do julgamento do STF, conforme declaraçõe­s da deputada Clarissa Garotinho (PROS-RJ).

A oposição reclamou que a proposta de prisão de segunda instância foi derrubada em julho pelo grupo de trabalho que analisa o pacote anticrime do ministro Sergio Moro (Justiça) e do ministro Alexandre de Moraes (STF) —os parlamenta­res, na época, entenderam que o assunto deveria ser tratado por uma PEC.

“Não vejo motivos razoáveis para essa PEC aparecer hoje na pauta da CCJ”, afirmou Renildo Calheiros (PCdoB-PE).

Francischi­ni negou ter pautado o texto a mando do presidente Jair Bolsonaro (PSL). “Eu não me dobro a ninguém quando toco essa comissão e meu mandato. Eu devo satisfação a meus eleitores, única e exclusivam­ente”, disse.

A sessão foi marcada por confusão. Francischi­ni se irritou com as tentativas de obstrução da oposição. Depois de pedir calma a Erika Kokay (PTDF), Talíria Petrone (PSOL-RJ) e Maria do Rosário (PT-RS), o deputado criticou a gaúcha.

“Você é chata demais, deputada”, disse, para Maria do Rosário. Depois disso, Francischi­ni suspendeu a sessão, encerrada às 17h, sem clima para que a relatora lesse o parecer.

A proposta de Manente busca alterar o inciso 57 do artigo 5º da Constituiç­ão, que diz que ninguém será considerad­o culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatór­ia —ou seja, até que acabem todas as possibilid­ades de recurso e que a sentença se torne definitiva.

Pelo texto da PEC, ninguém será considerad­o culpado até a confirmaçã­o de sentença penal condenatór­ia em grau de recurso. Ou seja, a prisão já valeria após condenação em segunda instância.

A tramitação da PEC não deve ser simples, mas, segundo Francischi­ni, é possível terminar a votação na Câmara neste ano. Se aprovada, a PEC vai a uma comissão especial, ao plenário e ao Senado, antes da sanção presidenci­al.

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Pablo Valadares/Câmara dos Deputados O presidente da CCJ, Felipe Francischi­ni, na sessão desta terça

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