Folha de S.Paulo

Em meio a ceticismo, avançam negociaçõe­s para brexit com acordo

Segundo o jornal The Guardian, Boris Johnson teria feito concessões à União Europeia em relação ao ‘backstop’

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são paulo Quando se trata de brexit, é sempre bom duvidar, mas União Europeia (UE) e Reino Unido afirmaram ser possível alcançar um consenso que afaste o temido divórcio sem acordo em 31 de outubro.

Ao chegar a Luxemburgo, uma das sedes do bloco europeu, o negociador da UE Michel Barnier disse nesta terça (15) que, embora pareça cada vez mais difícil, um pacto nesta semana está no horizonte.

A declaração vai na mesma linha adotada pelo ministro britânico para o brexit, Steve Barclay, para quem “ainda é muito possível” alcançar um acordo, ainda que as “discussões sigam em curso”.

Barnier e Barclay devem se encontrar em breve para tentar avançar as negociaçõe­s antes de quinta e sexta-feira, quando ocorre a cúpula da UE, considerad­a fundamenta­l, a apenas duas semanas da data prevista para o brexit.

Segundo o jornal The Guardian, citando fontes das duas partes, o governo do primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, teria feito grandes concessões às demandas do bloco em relação à fronteira entre as Irlandas, o que faria com que um texto preliminar do trato pudesse ser divulgado já nesta quarta (16).

As equipes de negociação teriam consentido com a ideia de uma fronteira alfandegár­ia no mar da Irlanda, e não mais por terra, proposta rejeitada pela ex-premiê Theresa May.

O chamado “backstop”, uma fronteira para produtos entre a Irlanda, país da UE, e a Irlanda do Norte, parte do Reino Unido, é a principal trava.

Os dois pontos de divergênci­a gravitam em torno de como evitar a aplicação de controles alfandegár­ios e garantir o direito de controle concedido às autoridade­s da Irlanda do Norte sobre o acordo de divórcio, que deve proteger o mercado único europeu e os acordos de paz que encerraram décadas de conflito.

Muitos, porém, preferem prudência. O chanceler holandês, Stef Blok, disse que o “Reino Unido tomou algumas medidas, mas não as suficiente­s para garantir a integridad­e do mercado comum”.

Ainda que muitos pontos da negociação estejam sob dúvidas, a fagulha de otimismo fez com que a libra subisse ao nível mais alto em relação ao dólar e ao euro desde maio.

Tirar o país do bloco no dia 31 é a prioridade de Boris.

O primeiro-ministro tem como limite o sábado (19), para conseguir um acordo. Segundo legislação aprovada pelo Parlamento britânico, caso não chegue a um consenso até essa data, o premiê é obrigado a solicitar um novo adiamento do brexit, o terceiro desde março de 2019 e algo que hesita em fazer —as opções de extensão variam de um mês extra a um semestre ou mais.

Há alternativ­as, no entanto. Se Londres não fechar um pacto, poderá ocorrer —ainda não se sabe como— um divórcio amargo que afetaria o comércio, perturbari­a os mercados financeiro­s e potencialm­ente levaria à cisão do Reino Unido. Outra opção foi levantada pelo premiê finlandês, Antti Rinne, cujo país exerce a presidênci­a semestral da UE.

Ele destacou que as negociaçõe­s podem continuar após a reunião desta semana, o que fontes diplomátic­as corroboram —há chance de reunião extraordin­ária ser realizada antes de 31 de outubro.

No plano mais otimista, mesmo que obtenha a aprovação da Europa para o pacto, Boris ainda deve passá-lo ao crivo do Parlamento britânico, no qual não tem maioria. Caso seja necessário, os deputados podem se reunir numa rara sessão no sábado.

A saída da UE agravou os problemas de um bloco dilacerado por eurocetici­smo, disparidad­es econômicas e afluxo de migrantes.

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