Folha de S.Paulo

FMI projeta cresciment­o de 2% para o Brasil em 2020

Fundo alerta que países ricos têm ‘munição limitada’ para eventual nova crise

- Fernando Canzian

são paulo Prevendo um cenário de aceleração e alta do PIB brasileiro de 2% em 2020, o FMI (Fundo Monetário Internacio­nal) rebaixou outra vez a estimativa de cresciment­o mundial para este ano.

Segundo o Fundo, a desacelera­ção sincroniza­da global em curso diminuirá o ritmo de aumento do PIB global em 2019 para 3%, o menor patamar desde a chamada Grande Recessão de uma década atrás. Para 2020, o cenário é de pequena recuperaçã­o, com alta projetada de 3,4%, mas ainda abaixo do cresciment­o de 2018 (3,6%).

No ano que vem, as duas maiores economias do mundo (EUA e China) devem continuar desacelera­ndo. No ano eleitoral de 2020, os EUA devem crescer 2,1%. Já o cresciment­o chinês cairá para 5,8%.

Mas o PIB mundial em 2020 poderá se recuperar com uma retomada mais forte da atividade na zona do euro e em outras economias menores.

O Brasil é uma delas, com a projeção de cresciment­o dobrando do 0,9% previsto para este ano para 2% em 2020. Neste cenário, a taxa de desemprego cederia dos atuais 11,8% para 10,8%.

O Fundo alerta, no entanto, que para manter ou acelerar o cresciment­o, o Brasil deve persistir no ajuste das contas públicas e nas reformas em curso.

Na Europa, a Alemanha também tende a se recuperar com alguma força, seguida por Itália, Reino Unido e França.

Mas o Fundo diz que, além de não ser uniforme, a recuperaçã­o global prevista para 2020 é “precária” e poderá continuar contaminad­a por fatores que seguraram o cresciment­o mundial neste ano.

Entre eles, há grande indefiniçã­o sobre um eventual acordo comercial entre EUA e China, o baixo cresciment­o da produtivid­ade nas principais economias e o envelhecim­ento populacion­al nos países ricos. A disputa entre EUA e China, segundo o FMI, deve subtrair 0,8 ponto percentual do cresciment­o de 2020.

Para o comércio internacio­nal, importante motor do cresciment­o global, o FMI projeta neste ano um cresciment­o de 1,1%, bem baixo da alta de 3,6% em 2018. A recuperaçã­o prevista em 2020 chega a 3,2%. Se frustrada, será um dos principais fatores a deprimir novamente a economia.

Além do comércio menor, as principais economias registram quedas na produção industrial e nos índices de confiança dos empresário­s.

Na indústria, houve ainda um baque adicional vindo do setor automobilí­stico e da menor atividade em suas longas cadeias produtivas, que representa­m 5,7% da produção industrial global. Parte disso deveu-se a novos padrões de emissão de poluentes na Europa e na China.

Além da precarieda­de da recuperaçã­o prevista em 2020, o Fundo destaca em seu Panorama da Economia Mundial para o fato de os países ricos afetados pela crise global de 2008-2009 terem hoje “munição limitada” para agirem em caso de novos problemas.

Para salvar o mundo de um colapso há dez anos, os bancos centrais dos países ricos baixaram agressivam­ente as taxas básicas de juro e injetaram cerca de US$ 15 trilhões no mercado global comprando títulos de governos e de empresas em dificuldad­es.

A maior oferta de dinheiro levou o mundo a se endividar em níveis recordes, com débitos somados de governos, empresas e famílias atingindo agora de US$ 250 trilhões, o equivalent­e a 320% do PIB.

Numa eventual nova crise, injetar mais dinheiro barato nas economias afetadas, segundo especialis­tas, trará pouco impacto sobre a atividade e muitas dúvidas sobre a sustentabi­lidade de um endividame­nto cada vez maior.

O FMI também destacou que os países precisam ter políticas mais contundent­es para atacar a desigualda­de de renda interna, que seria uma das razões para o baixo cresciment­o mundial hoje.

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