Vistorias de combate a dengue são recusadas em bairro nobre de SP
Medo de assalto e sensação de insegurança estão entre os motivos; cidade já teve 16,5 mil casos da doença em 2019
são paulo No bairro paulistano de Higienópolis (região central), antes de combater o Aedes aegypti os agentes de zoonoses têm outra batalha: convencer moradores a abrirem as portas para a busca de criadouros do mosquito.
Na sexta-feira (11), a reportagem acompanhou uma equipe de agentes em parte de uma ação casa a casa, que consiste na orientação e eliminação de água parada em pneus, garrafas, calhas, lajes e demais locais de focos do mosquito.
Durante duas horas, a Folha presenciou a abordagem dos agentes em cerca de dez imóveis —a maioria edifícios residenciais— na avenida Angélica, e nas ruas Pará e Sergipe. Em seis, eles foram recebidos por funcionários que negaram o acesso aos condomínios.
De 1º de janeiro a 30 de setembro de 2019, a cidade de São Paulo registrou 16.481 casos de dengue e um de chikungunya. Não houve confirmações para zika e febre amarela.
A supervisora regional de Vigilância em Saúde, Raphaela Karla Toledo Solha, disse que o índice de recusa do acesso em Higienópolis chega a 50%.
“As regiões periféricas são mais receptivas, mas aqui a sensação de insegurança é grande. Todo mundo acha que será assaltado”, afirma.
De acordo com a Secretaria Municipal da Saúde, nos cinco distritos administrativos com índice de desenvolvimento humano (IDH) mais alto da cidade o percentual de recusa em 2019 é em média de 5%.
Considerando toda a cidade, o percentual cai para 1,75%. Se o morador desconfiar da abordagem, basta ligar para o 156 e fazer a consulta. A central tem a listagem com o nome completo dos funcionários.
Quando a entrada dos agentes não é permitida, há uma segunda tentativa feita pela mesma equipe após 15 dias.
Se a recusa persistir, a autoridade sanitária vai ao local e tenta negociar. Caso o morador insista na negativa, é emitido auto de infração e aberto processo administrativo.
A atividade casa a casa é planejada de acordo com o risco de proliferação do mosquito medido pela vulnerabilidade social e densidade larvária (mapeamento feito para verificar o crescimento de larvas).
Quando o risco é alto, as visitas são feitas a cada 15 dias; se for baixo, o tempo aumenta para até um ano.
Quem aceita a abordagem dos agentes previne problemas futuros. Paulo Theodoro, 54, supervisiona a obra de uma padaria na rua Pará. Durante cinco minutos, ouviu as orientações do agente Marco Antônio dos Santos, 63, sobre a remoção de água parada em uma canaleta. O servidor jogou larvicida no local e deixou um folheto explicativo.
José Antônio Silva, 50, funcionário de um prédio da rua Sergipe, reconhece a importância da visita que, segundo ele, acontece uma vez ao ano.
A área social do edifício está repleta de bromélias. A agente Maria Gedalva Oliveira, 59, explica que a presença das plantas é preocupante porque viram focos do Aedes aegypti ao acumularem água nas copas.
A busca por larvas do mosquito também acontece no fosso do elevador, caixa-d’água e reservatório.
Num prédio comercial da avenida Angélica, foram encontradas larvas entre as bromélias. O material recolhido foi encaminhado para confirmação com entomologista. O zelador Josealdo Pereira de Carvalho, 46, ficou surpreso e prometeu acionar a direção do condomínio.
Entre 1º de janeiro e 7 de outubro de 2019, foram realizadas 2.744.220 ações casa a casa na capital paulista.
Se em Higienópolis os agentes de zoonoses não são sempre bem-vindos, na Mooca (zona leste) a queixa é a falta deles. Claudinei Antonio Duarte Ienna, 50, diz que há quatro meses ele, a mãe e a filha foram diagnosticados com dengue.
“Levei o caso à prefeitura, que me indicou um funcionário da Zoonoses da Mooca. Nunca tive retorno. Um mês depois, apareceu um agente de zoonoses para verificar se havia criadouros do mosquito na minha casa, mas o problema não estava lá. Na redondeza, há muitos galpões e imóveis fechados”, afirma.
O bairro acumula outras denúncias de ausência da ação. Moradores das ruas Pascoal Moreira, Clemente Bonifácio, Voltolino, Jupuruchita e Barra do Campo disseram que não há combate ao mosquito por lá.
Em nota, a Prefeitura de São Paulo afirma que visitou 209 imóveis na rua Barra do Campo. O órgão confirmou que recebeu notificação de caso de dengue na rua Fernando Falcão em junho. Uma equipe foi mobilizada para o local e realizou bloqueio de criadouros oito dias após a notificação, com visita a 98 casas.
No dia em 11 de outubro, a rua Voltolino teve ação casa a casa, com 97 visitas. As ruas Pascoal Moreira, Clemente Bonifácio e Jupuruchita não foram consideradas de alto risco; a prefeitura não respondeu sobre as ruas Luís Gregnanin, dos Trilhos e Itaqueri.
“As regiões periféricas são mais receptivas, mas aqui [em Higienópolis] a sensação de insegurança é grande. Todo mundo acha que será assaltado Raphaela Karla Toledo Solha supervisora regional de Vigilância em Saúde