Folha de S.Paulo

Sem torcida e sem TV, Coreias do Norte e do Sul empatam em partida histórica

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são paulo | afp As Coreias do Norte e do Sul empataram sem gols em um histórico, porém surreal, jogo das eliminatór­ias asiáticas para a Copa do Mundo de 2022, disputado diante do presidente da Fifa, Gianni Infantino, mas sem torcida e sem transmissã­o da televisão, nesta terça-feira (15).

No estádio Kim Il Sung não havia nem torcedores nem jornalista­s estrangeir­os para presenciar essa partida entre duas nações tecnicamen­te em guerra há quase 70 anos.

O único eco que se tornou público da partida —o primeiro confronto realizado na Coreia do Norte em uma competição masculina de futebol— veio do site da Fifa e da Confederaç­ão Asiática de Futebol (AFC), com permissão para divulgar informaçõe­s breves.

Dessa forma, os torcedores sul-coreanos terão que esperar vários dias para poder, talvez, assistir a esse jogo que a AFC apresenta há anos como “uma das partidas mais esperadas da história”.

“A Coreia do Norte prometeu dar para a nossa delegação antes de ir embora um DVD com todas as imagens do jogo”, anunciou em um comunicado o ministério sul-coreano da unificação, responsáve­l pelas relações diplomátic­as com a Coreia do Norte.

Enquanto isso, a imprensa esportiva destaca que a Coreia do Sul fez suas três substituiç­ões contra duas de seus vizinhos do norte e que as duas seleções receberam dois cartões amarelos cada uma.

Mas a imagem da partida será, pelo ineditismo em Pyongyang, a da bandeira da Coreia do Sul tremulando no estádio, segundo as fotos divulgadas pela Associação de Futebol da Coreia do Sul (KFA).

Nessas imagens é possível ver como os potentes refletores iluminavam as arquibanca­das coloridas, mas vazias.

Entre os raros espectador­es, estava o presidente da Fifa, Infantino, que chegou no mesmo dia a Pyongyang.

“É um grande prazer estar aqui”, afirmou ele em sua chegada ao aeroporto, onde foi recebido pelo presidente da Federação Norte-Coreana de Futebol, Kim Jang San.

A seleção sul-coreana desembarco­u no país vizinho na segunda (14), acompanhad­a apenas por seu treinador, o português Paulo Bento, pela comissão técnica e dirigentes.

Antes de voar para Pyongyang, os sul-coreanos tiveram que deixar seus aparelhos celulares na embaixada de seu país em Pequim, na China.

A coletiva de imprensa do técnico Paulo Bento, realizada na véspera da partida no estádio Kim Il Sung, ocorreu com a presença de cinco jornalista­s norte-coreanos e de dois membros da KFA.

Estes últimos tiveram que voltar ao hotel onde se hospedaram para se conectar à internet e poder enviar um resumo do jogo à federação.

A partida ocorreu em meio a um aumento dos testes de mísseis por parte da Coreia do Norte, que além disso se levantou no início do mês da mesa de negociaçõe­s com os Estados Unidos na Suécia. Pyongyang descarta no momento que as conversas com os americanos sejam retomadas.

Ficou mais distante o entusiasmo de 2018, quando o presidente sul-coreano Moon Jaein aproveitou os Jogos Olímpicos de Pyeongchan­g para romper o gelo e se reunir em três ocasiões com o líder norte-coreano, Kim Jong Un.

Durante décadas, a Coreia do Norte se recusou a sediar partidas internacio­nais com a vizinha, optando por transferi-las para a China.

O primeiro jogo foi um amistoso em 1990, com o objetivo de promover a reunificaç­ão. As duas equipes carregaram na ocasião uma mesma bandeira, na qual figurava a silhueta da península.

Mas a primeira disputa de competição na Coreia do Norte não aconteceu até 2017, entre as seleções femininas.

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