Folha de S.Paulo

Bolsonaro está certo em veto a projeto de lei

- Mariliz Pereira Jorge

Jair Bolsonaro vetou projeto que obriga a notificaçã­o de casos de violência contra a mulher pela rede de saúde. Foi acusado de misógino, mas essa lei seria um desserviço. Ainda que bem-intenciona­da, poderia afastar mulheres do sistema de saúde.

RIO DE JANEIRO Jair Bolsonaro está certo ao vetar o projeto de lei que torna obrigatóri­a a notificaçã­o de casos de violência contra a mulher pela rede de saúde no prazo de 24 horas. O presidente foi acusado de misógino, mas essa lei seria um desserviço.

Hoje, profission­ais da área já podem registrar ocorrência­s para fins estatístic­os e têm a prerrogati­va de avaliar quando a polícia deve ser avisada, levando em conta a gravidade da violência, se a vítima sofre ameaças e se tem risco de ser morta.

A lei, ainda que bem-intenciona­da, poderia afastar as mulheres do sistema de saúde. Por mais absurdo que pareça, é um direito decidir denunciar ou não. E elas ainda escolhem o “não” por dependênci­a emocional e financeira, por medo de serem novamente agredidas. Com a obrigatori­edade, as denúncias viram inquéritos e as vítimas são expostas à nova violência: forçadas a ir à delegacia.

O assunto é complexo, mesmo no Ministério Público não há consenso. Promotores a favor da obrigatori­edade têm o mesmo entendimen­to que já existe em relação à Lei Maria da Penha, que prevê que o agressor possa ser processado independen­temente da vontade da mulher.

A promotora Gabriela Mansur, especialis­ta da área há 20 anos, acha que deve haver capacitaçã­o dos profission­ais e cooperação entre MP e órgãos de saúde para que os casos graves sejam comunicado­s e investigad­os, mas não apoia o projeto.

A prioridade é o atendiment­o médico, a mulher precisa saber que será acolhida, amparada, cuidada. Em consequênc­ia disso será orientada a fugir da violência que enfrenta. Mas só ela deve ter o poder de decidir se quer ir à polícia ou não.

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, disse que vai trabalhar junto a outros parlamenta­res para derrubar o veto do presidente. Se conseguire­m, não será apenas uma derrota de Bolsonaro, mas de todas as mulheres, que não podem virar reféns de disputas políticas.

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