Fala sobre ‘vagabundos’ provoca reação, e tucano admite excesso
são paulo A discussão do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), com manifestantes na noite desta terça (15) repercutiu mal entre policiais militares e aposentados.
Entidades que representam as categorias repudiaram as falas do tucano, que pediu desculpas e admitiu nesta quarta (16) ter se excedido.
Em evento em Taubaté (SP), Doria foi recebido com um ato de seis apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PSL), com faixas que diziam: “Pinóquio do pau oco” e “Doria surfou na ‘onda Bolsonaro’”.
À frente do protesto estava Eden Freire, 54, policial militar já fora de atividade e ligado ao Movimento Conservador.
Alertado por aliados locais sobre o perfil de Freire, Doria voltou seus ataques a policiais inativos para responder ao protesto. Dirigindo-se aos manifestantes, disse: “Enquanto vocês descansam, os policiais de trabalho estão trabalhando, não estão fazendo política. Vai pra casa, vagabundo”.
“Não sou vagabundo. Mesmo trabalhando 30 anos na PM, continuo contribuindo, 11% do meu salário vai para a Previdência”, diz Freire à Folha.
Em vídeo divulgado na noite desta quarta, Doria disse que foi hostilizado, mas reconheceu ter se excedido e pediu desculpas aos aposentados.
“Confesso, acabei me excedendo e respondi à altura que aquele momento exigia”, afirmou. “A minha manifestação não foi para ofender ninguém, nenhuma classe, principalmente de aposentados.”
“Fui vítima de uma operação orquestrada por uma turma de baderneiros”, disse.
Mais cedo, o senador Major Olimipio (PSL-SP), desafeto de Doria citado por ele em Taubaté — “Vai cobrar do Major Olimpio seus R$ 200 pra vir falar bobagem no microfone”—, reagiu nas redes sociais: “Falar que um policial veterano é vagabundo demonstra o quanto você [Doria] despreza a polícia e não merece o cargo que ocupa. Oportunista!”.
Freire disse que conhece Olimpio, mas que a ação de terça foi independente.
Warley Martins, presidente da Confederação Brasileira de Aposentados (Cobap), repudiou a fala de Doria. “Aposentado de qualquer categoria tem que ser respeitado, principalmente pela idade e trabalho que já trabalhou”, afirmou.
Plínio Sarti, vice-presidente do Sindicato Nacional dos Aposentados, disse que a fala ecoou entre a categoria. “A gente se sente ofendido, revela um preconceito. Aposentado é um estorvo na sociedade?”
Ele lembrou o episódio em que o então presidente Fernando Henrique Cardoso, em 1998, afirmou que quem se aposenta antes dos 50 anos é vagabundo. À época, o tucano foi à TV para se explicar.
“Isso foi lembrado na hora pelos meus colegas. Até hoje a gente tem dificuldade com FHC por conta disso”, afirmou.
Entre policiais também houve críticas a Doria. “É lamentável que a maior autoridade do estado não consiga conviver com o pensamento contrário”, escreveu em nota a Associação dos Oficiais Militares do estado (Aomesp).
A relação entre Doria e os servidores da segurança pública é desgastada. “Ele usa a PM como marketing”, resume Freire. “A classe policial apoia Bolsonaro e não gosta do PSDB.”