Folha de S.Paulo

A gente quase não fala de horóscopo nos EUA, diz imigrante americano

- Flávia Mantovani Julian Jordan, 38, é dos Estados Unidos e está no Brasil desde 2013. É estrategis­ta de dados e de design de experiênci­a

são paulo Este depoimento faz parte do especial multimídia Imigrantes de SP, que traz o ponto de vista de estrangeir­os que vivem na cidade. Novas histórias serão publicadas periodicam­ente.

Quando eu mudei para cá, em cinco anos queria conseguir dar aula em português e fazer um podcast em português, o que eu já fiz. Agora estou no terceiro desafio, que é fazer uma sessão de “standup comedy” em português. Para criar uma comédia, você tem que entender muito bem a cultura do país.

Cheguei aqui falando um pouco do idioma, o suficiente para não morrer, tipo um menino de seis anos de idade. Agora eu falo como um adolescent­e relativame­nte inteligent­e de 16, 17 anos.

Uma coisa que eu aprendi é que, quando você está confortáve­l com alguém, não importa a língua, as palavras saem mais fluidas, mesmo em inglês. Nos melhores dias, o taxista conversa comigo como se eu fosse, sei lá, do Jabaquara [bairro de São Paulo]. É raro alguém adivinhar que sou americano. Acham que sou da França, de algum país africano ou latino.

Minha mãe é jamaicana. Nunca morei lá, vivo a Jamaica pelas histórias da família. Minha avó veio me visitar, comeu feijoada num boteco e ficou apaixonada. Ela achou similarida­des entre Brasil e Jamaica, disse que o tom de verde da natureza lembra o de lá e que não existe nos EUA.

Quando eu estava procurando um lugar para viajar, pensei: onde eu posso me integrar como um homem negro? Vi que a história dos negrão no Brasil é muito rica e isso me interessou. Viver nos EUA e no Brasil está me ajudando a entender os impactos da escravidão.

Gosto de viajar porque você vê diferenças em coisas pequenas. Aqui, por exemplo, tem muita coisa escrita em caixa alta nas placas. E parece que existe uma luta constante entre a calçada e as árvores.

Outra diferença é que nos EUA a gente quase não fala de signos. Aqui passo almoços inteiros falando disso: “Óbvio, fulano fez aquilo porque é sagitarian­o”. Fui aceitando que, apesar de vivermos em um mundo de dados, as coisas não são tão lineares.

Quando você é imigrante e não tem família em outras regiões brasileira­s, às vezes esquece que o Brasil não é São Paulo. Você vai para a cidade do lado e já é outra história. Acho isso muito louco.

LEIA O ESPECIAL SOBRE IMIGRANTES DE SÃO PAULO folha.com/imigrantes­desp

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Bruno Santos - 4.ago.2019/ Folhapress Americano, Julian Jordan veio para o Brasil após se interessar pela história negra do país

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