A gente quase não fala de horóscopo nos EUA, diz imigrante americano
são paulo Este depoimento faz parte do especial multimídia Imigrantes de SP, que traz o ponto de vista de estrangeiros que vivem na cidade. Novas histórias serão publicadas periodicamente.
Quando eu mudei para cá, em cinco anos queria conseguir dar aula em português e fazer um podcast em português, o que eu já fiz. Agora estou no terceiro desafio, que é fazer uma sessão de “standup comedy” em português. Para criar uma comédia, você tem que entender muito bem a cultura do país.
Cheguei aqui falando um pouco do idioma, o suficiente para não morrer, tipo um menino de seis anos de idade. Agora eu falo como um adolescente relativamente inteligente de 16, 17 anos.
Uma coisa que eu aprendi é que, quando você está confortável com alguém, não importa a língua, as palavras saem mais fluidas, mesmo em inglês. Nos melhores dias, o taxista conversa comigo como se eu fosse, sei lá, do Jabaquara [bairro de São Paulo]. É raro alguém adivinhar que sou americano. Acham que sou da França, de algum país africano ou latino.
Minha mãe é jamaicana. Nunca morei lá, vivo a Jamaica pelas histórias da família. Minha avó veio me visitar, comeu feijoada num boteco e ficou apaixonada. Ela achou similaridades entre Brasil e Jamaica, disse que o tom de verde da natureza lembra o de lá e que não existe nos EUA.
Quando eu estava procurando um lugar para viajar, pensei: onde eu posso me integrar como um homem negro? Vi que a história dos negrão no Brasil é muito rica e isso me interessou. Viver nos EUA e no Brasil está me ajudando a entender os impactos da escravidão.
Gosto de viajar porque você vê diferenças em coisas pequenas. Aqui, por exemplo, tem muita coisa escrita em caixa alta nas placas. E parece que existe uma luta constante entre a calçada e as árvores.
Outra diferença é que nos EUA a gente quase não fala de signos. Aqui passo almoços inteiros falando disso: “Óbvio, fulano fez aquilo porque é sagitariano”. Fui aceitando que, apesar de vivermos em um mundo de dados, as coisas não são tão lineares.
Quando você é imigrante e não tem família em outras regiões brasileiras, às vezes esquece que o Brasil não é São Paulo. Você vai para a cidade do lado e já é outra história. Acho isso muito louco.
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