Folha de S.Paulo

Medida provisória estimula regulariza­ção de dívidas com a União

- Gustavo Uribe e Fábio Pupo

brasília O presidente Jair Bolsonaro lançou nesta quartafeir­a (16) uma MP (medida provisória) para estimular a regulariza­ção de dívidas de contribuin­tes com o governo federal por meio da negociação de débitos tributário­s.

Pela iniciativa, poderão ser concedidos benefícios fiscais tanto aos compromiss­os em disputa judicial como aos já inscritos na dívida ativa e que cumpram requisitos, como o fato do contribuin­te não ter praticado concorrênc­ia desleal ou ação fraudulent­a.

Além disso, serão beneficiad­os aqueles que têm dívidas classifica­das como “C” ou “D” no rating da dívida ativa da União, que tenham reconhecid­o o débito junto ao poder público e que não tenham alienado bens ou direitos quando exigido pela legislação.

A medida prevê desconto inicial de 50% sobre o total da dívida, que pode chegar a 70% no caso de pessoas físicas, bem como de micro ou de pequenas empresas.

O prazo inicial de pagamento é de até 84 meses, que pode ser estendido para 100 meses.

Apesar de prever descontos sobre a dívida, técnicos da equipe econômica defendem que a medida não é um novo Refis (programa de parcelamen­to de débitos), prática considerad­a nociva pelo próprio ministério por estimular a inadimplên­cia.

Na prática, argumentam os técnicos, a MP visa justamente acabar com esse tipo de benefício.

Ainda segundo eles, o acordo somente vai acontecer nos casos em que o governo entender que essa é a melhor forma de encerrar o litígio, de forma vantajosa para o erário.

A argumentaç­ão também está na exposição de motivos sobre a MP enviada ao Congresso. O governo defende que a medida “esvaziará a prática comprovada­mente nociva de criação periódica de parcelamen­tos especiais, com concessão de prazos e descontos excessivos a todos aqueles que se enquadram na norma”.

A estimativa da equipe econômica é que a medida, que ainda tem de ser aprovada pelo Congresso, permita a regulariza­ção de 1,9 milhão de devedores, que apresentam juntos uma dívida com o poder público que supera R$ 1,4 trilhão.

O governo espera que a medida diminua o volume de processos no Carf (Conselho Administra­tivo de Recursos Fiscais), órgão que analisa as disputas tributária­s entre União e contribuin­tes.

Atualmente, há um estoque superior a R$ 600 bilhões em casos no Carf, distribuíd­os em cerca de 120 mil processos a serem analisados. Além disso, R$ 42 bilhões estão sendo discutidos em casos na Justiça.

Em entrevista, o secretário especial de Fazenda, Waldery Rodrigues, diz que o cálculo parte de premissas conservado­ras e cuidadosas.

De acordo com a exposição de motivos da MP, o impacto positivo para as receitas primárias é estimado em R$ 1,425 bilhão em 2019, R$ 6,384 bilhões em 2020 e R$ 5,914 bilhões em 2021.

No discurso, Bolsonaro disse que a iniciativa tem como objetivo atender quem produz, porque, segundo ele, é uma “dificuldad­e ser patrão no Brasil”. Ele apelidou a MP de “segunda chance” e disse que ela irá diminuir também os processos judiciais.

“O que nós pretendemo­s fazer é dar uma segunda chance para quem não deu certo no passado. Quantas vezes, junto ao nosso amor, um não dá uma segunda chance ao outro? É assim na vida, de maneira geral”, afirmou.

Em crítica à esquerda, classifico­u a gestão econômica do país como socialista e disse que a atividade do setor privado sofre uma “interferên­cia enorme” do poder público.

Afirmou que seu governo tem restabelec­ido a confiança de investidor­es estrangeir­os.

“[Há uma] quantidade de investidor­es que querem vir para o Brasil. Estão acreditand­o em nós. Isso vem de onde? Do restabelec­imento da confiança, de cada vez mais nós deixarmos de sermos socialista­s na economia. Nós somos socialista­s”, disse.

O termo também foi usado por Bolsonaro em discurso na Assembleia-Geral da ONU, em setembro. Ele disse que o Brasil ressurge agora “depois de estar à beira do socialismo”, apesar de o país nunca ter tido um governo socialista.

“O Brasil não pode ser socialista na economia? É. Uma interferên­cia enorme por parte do Estado em cima de quem produz. Não podemos, nós Estado, olhar para o contribuin­te, para quem produz, e termos uma ideia de que ali tem uma fonte de renda para nós. Isso não pode ser assim”, afirmou.

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