Folha de S.Paulo

Governo pede R$ 41 bi para bancar de cessão onerosa a carros de Bolsonaro

Ações para a Presidênci­a e Vice-Presidênci­a receberão R$ 5,3 mi; valor específico para veículos não é mencionado nos documentos

- Fábio Pupo e Thiago Resende

brasília O governo enviou na terça-feira (15) ao Congresso 18 pedidos de abertura de crédito para reforçar programas já previstos no Orçamento ou criar novas ações. As solicitaçõ­es somam R$ 41 bilhões e bancam de investimen­tos de estatais a carros da Presidênci­a da República.

O maior pedido é de um crédito de R$ 34,6 bilhões para pagar a Petrobras pela revisão do contrato da cessão onerosa, medida que tem como objetivo criar segurança jurídica para o megaleilão de excedentes do pré-sal. Os recursos virão do pagamento das empresas vencedoras do leilão, programado para novembro.

Outra solicitaçã­o é de um crédito suplementa­r de R$ 691 milhões para reforçar ações já previstas no orçamento de estatais. No BNDES, por exemplo, os recursos vão para obras na sede no Rio de Janeiro e, na Petrobras, para operações em campos de petróleo.

Uma primeira leva de dez pedidos somava R$ 1,6 bilhão em créditos, mas o governo fez mais oito solicitaçõ­es no fim da noite de terça (15).

Um dos pedidos em particular soma R$ 561,6 milhões, para destinaçõe­s como a troca de veículos para o presidente Jair Bolsonaro.

Nesse caso, o texto do pedido diz que o objetivo é “o custeio de despesas com segurança institucio­nal do presidente, do vice-presidente, de seus familiares, e de outras autoridade­s, relacionad­as a viagens, bem como despesas com material, instalaçõe­s e substituiç­ão de veículos devido ao desgaste normal de uso”.

O valor a ser destinado especifica­mente aos carros não é mencionado nos documentos. Ao todo, as ações para a Presidênci­a e Vice-Presidênci­a receberão R$ 5,3 milhões. Os recursos virão do cancelamen­tos do apoio à estruturaç­ão e desenvolvi­mento de projetos de concessões e parcerias público-privadas.

Do total dos pedidos feitos pelo Executivo ao Congresso, R$ 45,7 milhões terão impacto no resultado primário (que exclui o pagamento da dívida). O restante vai impactar a despesa financeira ou será oriundo de remanejame­nto de recursos ou de outras ações.

Exemplo de ação cancelada é a do aporte que o governo faria na Eletrobras para possibilit­ar a privatizaç­ão da empresa. A MP (medida provisória) enviada ao governo neste ano para fazer o pagamento não foi aceita pelo Congresso, e o governo desistiu da ideia, conforme antecipou a Folha.

Agora, o plano de privatizaç­ão da companhia deve passar pela diluição da participaç­ão acionária da União. O montante que iria para a Eletrobras foi redirecion­ado em maior parte para aporte na estatal Petróleo Brasileiro S/A (PPSA).

A estruturaç­ão da PPSA, recém-criada, foi uma exigência do TCU (Tribunal de Contas da União) neste mês para dar aval ao edital do megaleilão da cessão onerosa, marcado para o dia 6 de novembro e que pode render à União até R$ 106 bilhões em pagamentos feitos pelas empresas vencedoras (valor que deverá ser dividido entre Petrobras, União, estados e municípios).

Os dez pedidos foram feitos pelo governo nesta terça, último dia permitido pela LDO (Lei de Diretrizes Orçamentár­ias) para as solicitaçõ­es. A limitação tem como justificat­iva dar tempo para as análises do Congresso antes do fim do ano. Mas o governo pretende postergar a data. Um projeto de lei já foi enviado ao Conpara adiar o prazo para 14 de novembro.

A intenção do governo com o adiamento é ter mais certeza dos recursos disponívei­s após o leilão da cessão onerosa, marcado para daqui a cerca de três semanas. Na prática, o texto enviado pelo governo permitiria a extensão do prazo para a abertura de qualquer tipo de crédito suplementa­r ou especial.

Os recursos oriundos da cessão onerosa podem fazer o governo ter recursos em sobra ao fim do ano.

A equipe econômica traçou diversos cenários para o resultado do leilão. Nas contas mais conservado­ras, o governo poderá obter neste ano R$ 52,5 bilhões, mais R$ 17,5 bilhões no próximo ano.

Desse montante estimado para 2019, R$ 33 bilhões teriam de ser pagos à Petrobras pela própria revisão do contrato.

Restariam R$ 19,5 bilhões que ainda teriam de ser divididos com estados e municípios. Líquidos, portanto, o governo teria cerca de R$ 13 bilhões para uso em outras despesas ou no cálculo do resultado primário de 2019.

A extensão do prazo para que o governo possa pedir abertura de créditos também pode servir para atender uma demanda de senadores, próximos a concluir o segundo turno da reforma da Previdênci­a.

Uma ala do Senado quer o mesmo tratamento dado a deputados, que devem receber emendas parlamenta­res como moeda de troca por terem aprovado a restrutura­ção nas regras de aposentado­ria.

As emendas são forma de destinar recursos para obras em bases eleitorais de congressis­tas. Para isso, o Palácio do Planalto enviou em agosto um projeto de lei de abertura de crédito. A medida deve liberar R$ 2 bilhões em recursos.

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