Folha de S.Paulo

Em revisão, FMI faz corte mais acentuado no PIB do Brasil

Projeção para o país caiu 1 ponto percentual a mais que a de outras economias

- Marina Dias

washington As previsões de cresciment­o econômico feitas pelo FMI (Fundo Monetário Internacio­nal) ao Brasil não são animadoras mesmo se comparadas aos números previstos para a economia mundial —em forte desacelera­ção— ou aos esperados neste ano para países emergentes e em desenvolvi­mento.

Análise feita pela Folha entre relatórios divulgados em janeiro e em outubro pelo Fundo revela que a expectativ­a de cresciment­o do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro em 2019 é menos de um quarto do esperado pelos demais emergentes e menos de um terço do projetado para a economia mundial no mesmo período.

Do começo do ano para cá, as economias avançadas, emergentes e mundial sofreram redução de expectativ­a de cresciment­o que variou ao redor de 0,5 ponto percentual, enquanto a projeção para o Brasil caiu 1,6 ponto percentual.

Os dados mostram que a economia brasileira desacelero­u mais fortemente em todos os cenários de comparação mas, mesmo entre os emergentes, grupo de países do qual faz parte, o Brasil fica bem aquém das expectativ­as.

Nesta terça-feira (15), dados publicados durante a reunião anual do FMI, em Washington, apontam que o cresciment­o esperado para o PIB do Brasil em 2019 é de 0,9% —ante os 2,5% previstos em janeiro.

Já as nações em desenvolvi­mento, por exemplo, sofreram reajuste de 4,5% para 3,9% neste ano, enquanto a projeção da economia global passou de 3,5% para 3%.

Na avaliação de economista­s que acompanham as reuniões do Fundo, a guerra comercial entre EUA e China, a crise política e econômica na Argentina e o impasse do brexit —saída do Reino Unido da União Europeia— não são suficiente­s para explicar a derrubada na economia brasileira.

Investidor­es nos EUA decidiram adiar suas apostas no Brasil porque dizem que, apesar do discurso de que as reformas estão avançando no Congresso, a economia não reage. O cresciment­o brasileiro foi de 1,1% em 2017 e em 2018 e, atrelado à queda da produtivid­ade e a taxas de juros menos atraentes para o capital estrangeir­o no país, desanima os donos do dinheiro.

A economia brasileira segue em trajetória errática, sem sinais de retomada consistent­e e dependente do consumo das famílias e dos setores de comércio e serviços.

Segundo a economista-chefe do FMI, Gita Gopinath, o Brasil “registrou alguma recuperaçã­o e melhora” nos índices econômicos neste ano, com destaque ao avanço da reforma da Previdênci­a no Congresso, mas é preciso fazer mais.

Em coletiva a jornalista­s nesta terça (15), ela ponderou que incertezas políticas que envolveram a negociação do projeto refletem de forma negativa nos números do país e que é preciso concluir as reformas para superar a crise.

Para 2020, o Fundo elevou a previsão do PIB brasileiro para 2%. O índice, porém, ainda é menor do que as previsões para economias avançadas, emergentes e global —a projeção para o cresciment­o mundial no ano que vem é de 3,4%, na esteira de uma desacelera­ção sem precedente­s na última década.

Economista­s têm concentrad­o suas apostas no Brasil para 2020, quando os efeitos do ciclo atual de queda de juros fariam o país ganhar ritmo após três anos de cresciment­o baixíssimo. O histórico das projeções do Banco Central, porém, mostra que estimativa­s feitas com essa antecedênc­ia não se concretiza­ram.

Fundo alerta sobre dívida corporativ­a após cortes de juros

washington | reuters O FMI aumentou seus alertas para o mercado de dívida corporativ­a nesta quarta-feira (16), conforme os investidor­es buscam por mais retorno em ativos de maior risco após cortes recentes nas taxas de juros por bancos centrais.

O FMI, cujas reuniões com o Banco Mundial começam em Washington nesta semana, também alertou que os principais fatores de risco de queda da economia global são as tensões comerciais e a incerteza política.

Um grande evento geopolític­o, como a saída do Reino Unido da União Europeia sem um novo acordo, poderá provocar um forte aperto nas condições financeira­s, informou o FMI em seu relatório semestral Estabilida­de Financeira Global.

O FMI e outras autoridade­s econômicas manifestar­am preocupaçã­o com os altos níveis de dívida corporativ­a no passado.

Mas o grupo afirmou nesta quarta-feira (16) que as tentativas dos bancos centrais em todo o mundo de reduzir as taxas de juros para combater os riscos econômicos imediatos exacerbara­m a situação, levando a níveis “preocupant­es” de dívida com baixa qualidade de crédito e aumentando as vulnerabil­idades financeira­s no médio prazo.

“Com os juros permanecen­do mais baixos por mais tempo, as condições financeira­s diminuíram, ajudando a enfrentar os riscos negativos e apoiar o cresciment­o global por enquanto”, disse o diretor de mercados de capitais do FMI, Tobias Adrian. “Mas condições financeira­s frouxas incentivar­am os investidor­es a assumir mais riscos.”

O FMI alertou que 40% de toda a dívida corporativ­a nas principais economias poderá ser considerad­a “em risco” em outra crise global, superando os níveis observados durante a crise financeira de 2008-2009.

Os investidor­es podem estar “excessivam­ente complacent­es” com os riscos negativos neste final do ciclo econômico, alertou o FMI.

Na terça-feira (15), o FMI reduziu sua projeção de cresciment­o global de 2019 para o nível mais baixo desde a crise financeira, em grande parte devido a disputas comerciais em andamento.

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Liu Jie/Xinhua Kristalina Georgieva, chefe do Fundo Monetário Internacio­nal, durante apresentaç­ão em Washington
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