As medidas ‘pop’ de Bolsonaro
Atos no fim de ano devem ajudar a conter a sangria do prestígio presidencial
Pesquisadores de opinião dizem que medidas preliminares e recentes indicam o fim da sangria da popularidade de Jair Bolsonaro, que vinha desde o início do ano. Alguns deles acreditam até em pequena melhora, um pouco além de um terço de “ótimo ou bom”.
Bolsonaro continua com a pior avaliação de um início de mandato desde a redemocratização. Mas alguns atos de seu governo, goste-se deles ou não, podem ajudar a conter a degradação da imagem presidencial; alguns fatos da vida também.
O governo vai dar um 13º para os beneficiários de Bolsa Família. Como oficialmente o pagamento extra vale apenas para este ano, trata-se de uma espécie de bônus de Natal.
É um dinheirinho muito pequeno, mas que faz diferença para a gente mais miserável desta terra pobre, muita gente, 13,5 milhões de famílias. No total, são R$ 2,58 bilhões que vão rodar na economia de periferias e cidadezinhas neste final de ano.
Outra medida provisória desta semana prevê que o governo pode renegociar dívidas e disputas tributárias de cidadãos e empresas com a Receita Federal. Vale para pessoas físicas, micro e pequenas empresas e também para grandes. No mundo das dores de cabeça com o fisco e fichas sujas de crédito, a dura e pragmática vida real, pode fazer diferença para centenas de milhares de devedores.
Ainda está para se ver como o governo vai levar a providência à prática, pois não é trivial renegociar tantos débitos e contenciosos. Ainda assim, não convém subestimar a popularidade e até efeitos econômicos benéficos da medida.
O povo também começou a sacar o dinheirinho do FGTS. Parece também um caraminguá para quem tem vida remediada ou rica, mas paga contas e movimenta lojas, pequenos serviços e supermercados. Até R$ 28 bilhões podem irrigar a economia neste final do ano.
Nada a ver com Bolsonaro, a inflação dos alimentos diminuiu. O preço da comida estava subindo ao ritmo de cerca de 9% ao ano entre maio e abril. Agora, aumenta a quase 4%. Carestia de comida é um motivo recorrente de impopularidade de governo. Afora choques e outros acidentes, nos próximos meses o preço da comida deve ficar mais comportado, graças também à ajuda de uma safra boa.
Enfim, caso os chutes informados de economistas e consultorias não estejam outra vez tristemente errados, a economia deste último trimestre deve crescer no passo mais rápido do ano. Será muito pouco, ainda, mas é melhor do que o nada ou menos que isso que vimos no início do ano.
Não é salvação da lavoura, mas salvam-se algumas couves. É pelo menos alguma contraposição às más notícias que dominaram este 2019 até passada a metade do ano.
Vale repetir que o salário médio não cresce desde abril (na comparação anual). Vale lembrar que, apesar de comentários e otimismos equivocados por aí, não há melhoras notáveis no mercado de trabalho (o emprego formal cresce no mesmo ritmo lento desde fins do ano passado e a redução da taxa de desemprego de 2018 para 2019 será quase nenhuma).
O salário mínimo não terá reajuste real. Com a aprovação da reforma da Previdência, mais gente vai se dar conta de que vai ter de trabalhar muitos anos mais antes da aposentadoria.
Sim, o país decerto ainda está no buraco econômico. Mas não é fácil chutar que haverá derrocada sem fim do prestígio de Bolsonaro, ao menos no que depender dessa névoa vaga que se chama “efeito da economia” nos humores do povo.