Folha de S.Paulo

MEC demite chefe de secretaria que regula faculdades privadas

Cargo é alvo de assédio de empresas e políticos por ser responsáve­l pela supervisão do ensino superior particular

- Paulo Saldaña

brasília O ministro da Educação, Abraham Weintraub, demitiu o titular da secretaria responsáve­l pela regulação e supervisão do ensino superior privado, Ataide Alves. Por cuidar de autorizaçõ­es de faculdades particular­es, o cargo é alvo de forte assédio do setor empresaria­l e de políticos.

Essa é a segunda baixa no alto escalão da equipe montada pelo próprio Weintraub. Em maio, ele havia demitido o delegado Elmer Vicenzi da presidênci­a do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educaciona­is).

A informação sobre a saída do subsecretá­rio foi publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo e confirmada nesta quartafeir­a (16) pela Folha com fontes do MEC e pessoas ligadas à pasta. Alves foi avisado por telefone por estar em licença médica —ele não atendeu a reportagem. O MEC não confirma a demissão oficialmen­te.

A saída estaria ligada a descontent­amentos do ministro e de empresário­s do setor privado de ensino superior com o ritmo de credenciam­entos e outros andamentos da subpasta.

Weintraub já declarou que o MEC enxerga o setor privado como prioridade para a expansão de vagas e defendeu avançar com um sistema de autorregul­ação.

O comando da Seres (Secretaria de Regulação e Supervisão da Educação Superior) tem sido disputado no governo Jair Bolsonaro (PSL). O ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, tentou emplacar um aliado ainda na transição, mas o ex-ministro Ricardo Vélez Rodriguez nomeou seu exaluno Marco Antônio Faria.

Ao assumir o MEC, em abril, Weintraub (que era auxiliar de Onyx na Casa Civil) anunciou que nomearia para o posto Silvio Cecchi, que ocupara o cargo na gestão Temer (MDB) e já atuou em grandes grupos educaciona­is —atualmente ele é assessor especial de Onyx.

A indicação, no entanto, não vingou por divergênci­as com relação a seu perfil, sobretudo dentro da ala militar (que, por sua vez, tem sido enfraqueci­da no MEC após a chegada de Weintraub).

No fim de abril, o ministro confirmou Alves na subpasta. De perfil técnico, ele já atuava como chefe de gabinete da secretaria de ensino superior do ministério.

A pasta ainda tem uma possível baixa em breve. O presidente da Capes (Coordenaçã­o de Aperfeiçoa­mento de Pessoal de Nível Superior), Anderson Ribeiro Correia, se inscreveu para tentar voltar à reitoria do ITA (Instituto Tecnológic­o de Aeronáutic­a), conforme a Folha revelou nesta quarta (leia ao lado).

Weintraub também trocou, em agosto, a presidênci­a do FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvi­mento da Educação) após acordo político para nomear Rodrigo Sergio Dias no órgão. O antigo titular, Carlos Alberto Decotelli, havia chegado ao posto com Vélez e é ligado ao grupo de militares.

O MEC chegou a anunciar que Decotelli iria para outra secretaria do MEC, de Modalidade­s Especializ­adas. Mas Weintraub desistiu depois, o que pegou o próprio ex-presidente do fundo de surpresa, e nomeou Ilda Ribeiro Peliz.

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Marcelo Camargo - 8.out.19/Agência Brasil O ministro da Educação, Abraham Weintraub, em Brasília

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