carta branca
Pluralista, diretora do Festival de Berlim seleciona dez filmes alemães de 2003 a 2014
Com exceção da língua comum, como os filmes traduzem sua origem cultural ou nacional em uma época de fronteiras tão porosas? A seleção para a Mostra de dez títulos representativos do cinema alemão contemporâneo dá uma resposta indefinida a esta questão. Mariette Rissenbeek, que assina a curadoria, comandou por 16 anos a German Films, organismo que promove a produção local, eéanov adi retora-executiva da Ber linale.
O recorte reúne títulos realizados entre 2003 e 2014 e tema vantagem de não tentar reduzira variedade temática e formal a algum selo ou parentesco estilístico. A diversidade geracional dos realizadores confirma a intenção pluralista. Há desde a veterana Margarethe von Trotta, cujo trabalho como diretora e atriz remonta ao momento do novo cinema alemão nas décadas de 1960 e 1970, até realizadores mais jovens e conectados com o presente.
Metade do pacote de dez já circulou no circuito comercial: “As Mulheres da Rosenstrasse”, “Contra a Parede”, “À Espera de Turistas”, “Hanami - Cerejeiras em Flor” e “Phoenix”. A Mostra é uma oportunidade para conhecê-los ou revê-los em tela grande.
“Verão em Berlim”, de Andreas Dresen, e “O Estranho em Mim”, de Emily Atef, são ficções intimistas focadas em personagens femini
nas. A maturidade e a solidão para as personagens de Dresen ou a maternidade para a protagonista do longa de Atef disparam situações de crise que os cineastas filmam colando a câmera aos corpos, implodindo o insistente estereótipo da fragilidade.
A crise é motor também de “Todos os Outros”, segundo longa de Maren Ade, diretora do formidável “Toni Erdmann” (2016). A partir do motivo banal de um casal em férias, Ade desnuda o personagem masculino e filma o amor como um jogo de alternância entre fusão e combate.
“Oh Boy” se inspira na nouvelle vague, no cinema indie e em Woody Allen para narrar um dia na vida de Niko, jovem adulto que não consegue deixar a adolescência. Filmado com leveza e energia, o longa de estreia de Jan Ole Gerster é tão berlinense quanto paulistano, parisiense ou nova-iorquino, o que o torna ainda mais irresistível.