Assalto em Viracopos deixa 3 mortos e 5 feridos
Mãe e bebê foram feitas reféns e sequestrador foi morto pela polícia; voos foram afetados
Assalto a um carregamento de dinheiro no aeroporto de Viracopos, em Campinas (SP), levou a cancelamentos de voos, bloqueio de rodovias e terminou com três criminosos mortos e cinco pessoas feridas, quatro delas vigilantes e policiais. Uma mulher com a filha de nove meses foi feita refém na periferia da cidade. Após horas de negociação, um francoatirador da PM matou o sequestrador.
“Cabe perguntar ao governo federal quais as medidas que fará para aumentar a proteção aos usuários, aos frequentadores e àqueles que o usam para transporte de cargas
João Doria governador de SP
Um mega-assalto a um carregamento de dinheiro no aeroporto internacional de Viracopos, em Campinas, nesta quinta (17), levou a cancelamentos de voos, bloqueio de rodovias e terminou com saldo de três criminosos mortos e cinco pessoas feridas, quatro delas vigilantes e policiais atingidos durante os confrontos que duraram horas.
Entre os feridos está uma mulher, feita refém com a filha de dez meses em uma casa da periferia de Campinas. Ela foi ferida nas nádegas por estilhaço de projétil quando um criminoso foi morto por atirador de elite da PM.
De acordo com a Polícia Militar, o roubo teve início pouco antes das 10h, quando seguranças da empresa de transporte de valores Brinks transferiam dinheiro em espécie de um carro-forte para um avião cargueiro. O valor envolvido não foi informado pela empresa nem pela polícia.
Ao menos dez bandidos chegaram em carros clonados da Polícia Federal e da Aeronáutica e, quando anunciaram o assalto, foi iniciada a troca de tiros. Um vigilante foi baleado na perna, e outro, na orelha. Um vídeo gravado por um passageiro mostra o socorro feito a um desses feridos, ainda ao lado do carro-forte.
Na fuga, os criminosos fizeram refém um sargento da PM que atua no aeroporto. O policial foi amarrado ao capô de um dos veículos usados pela quadrilha na fuga, como uma espécie de escudo humano.
Na sequência, os bandidos bloquearam os dois sentidos da rodovia Santos Dumont, que liga Campinas ao aeroporto. E atearam fogo em dois caminhões, após cruzar as carretas nas faixas da rodovia.
Além do policiamento da região, equipes da Polícia Civil e Militar foram enviadas para tentar capturar os criminosos. Entre as forças enviadas para lá estavam policiais de Rota, Gate, PM, Polícia Civil, Dope (Departamento de Operações Policiais Estratégicas) e Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais).
Ainda segundo a polícia, um dos momentos mais tensos ocorreu na área urbana de Campinas quando três criminosos fugiam em caminhão de lixo e foram cercados pela PM local e guardas municipais.
Houve confronto, os bandidos abandonaram o veículo e fugiram em um carro da Guarda Municipal de Campinas. No veículo abandonado foram encontradas armas, entre elas duas metralhadoras com calibre capaz de abater aeronaves: uma .30 e outra .50.
Também foi recuperado nesse veículo parte do dinheiro roubado.
Os criminosos que pegaram o veículo da guarda foram seguidos até uma rua do bairro Campina Verde, onde deixaram o carro e invadiram casas.
Dois deles fizeram um morador refém, mas foram mortos instantes depois por PMs do Baep (Batalhão de Ações Especiais da Polícia) de Campinas.
Outro criminoso fez uma moradora e a filha dela de dez meses reféns. Após horas de negociação, um atirador de elite matou o sequestrador.
A advogada Alessandra Jirardi diz que seu cliente, Luciano Santos Barros, foi morto sem chance de defesa. “Ele foi executado, eu estava no telefone com ele. Disse que queria se entregar e que estava com medo”, disse ela, que relatou que alternava a ligação entre ele e o coronel Luiz Augusto Pacheco Âmbar, comandante do Gate, negociando a rendição. “Eu disse ‘Calma, estou chegando, assim que eu chegar ele vai se entregar’. O sequestrador me disse que, se eu não fosse, iam matá-lo.”
A polícia, porém, diz que o suspeito apontou a arma para a cabeça da refém, que segurava a criança no colo, e que indicou que atiraria na mulher. Especialista ouvido pela Folha defende a ação, com base em imagens da ação e declarações dos oficiais envolvidos.
Outro confronto, que terminou com um PM ferido, ocorreu nas ruas de Campinas. Segundo a polícia, o major ferido passa por cirurgia e o estado dele é considerado estável.
Durante o roubo, foram interrompidos pousos e decolagens, das 10h às 10h20. Em seguida, a operação foi retomada. Mesmo não tendo ocorrido ação no terminal de passageiros, quem estava embarcando precisou fazer uma segunda inspeção no raio-X, por questões de segurança, segundo o próprio aeroporto. De acordo com passageiros, houve correria e pânico.
Segundo site que monitora voos, Viracopos teve uma partida cancelada nesta quinta, de um avião que ia para Brasília, às 11h45. Ao longo do dia, houve ao menos 22 pousos atrasados. Mas foram as decolagens as mais afetadas, ao menos 33 até as 17h, com atrasados de 30 minutos a 2 horas.
A Brinks diz que está colaborando com as investigações.
Já a Federação Nacional das EmpresasdeTransportedeValoresemitiuumanota.“AFenaval vai dialogar com as autoridades competentes para que sejam analisadas medidas que ampliem a segurança e vigilância do transporte de cargas em ambientes controlados, como é o caso de aeroportos.”
Questionado sobre o caso, o governador João Doria se esquivou do assunto, a princípio, e depois disse que quem tem de responder é o governo federal. “Quem tem que responder por isso não sou eu. Quero lembrar que os aeroportos de Viracopos, Congonhas e Guarulhos são de administração federal”, disse.
“A invasão feita às áreas restritas do aeroporto foi com equipamentos e veículos logotipados com a marca da Polícia Federal, e com acesso feito, a meu ver, de maneira bastante facilitada e que precisa ser investigada. O que não pode é os aeroportos de administração federal terem essa vulnerabilidade, sobretudo quando transportam cargas de valor. Então cabe também perguntar ao governo federal quais as medidas que, no âmbito dos aeroportos, fará para aumentar a proteção aos usuários, aos frequentadores e àqueles que o utilizam para transporte de cargas.”
Em julho deste ano, outro assalto ocorreu no aeroporto de Guarulhos. Criminosos roubaram cerca 720 kg de ouro —R$ 120 milhões— de uma empresa de transporte de valores. Na ação, foi usada viatura clonada da Polícia Federal.