Folha de S.Paulo

Assalto em Viracopos deixa 3 mortos e 5 feridos

Mãe e bebê foram feitas reféns e sequestrad­or foi morto pela polícia; voos foram afetados

- Fabrício Lobel e Rogério Pagnan

Assalto a um carregamen­to de dinheiro no aeroporto de Viracopos, em Campinas (SP), levou a cancelamen­tos de voos, bloqueio de rodovias e terminou com três criminosos mortos e cinco pessoas feridas, quatro delas vigilantes e policiais. Uma mulher com a filha de nove meses foi feita refém na periferia da cidade. Após horas de negociação, um francoatir­ador da PM matou o sequestrad­or.

“Cabe perguntar ao governo federal quais as medidas que fará para aumentar a proteção aos usuários, aos frequentad­ores e àqueles que o usam para transporte de cargas

João Doria governador de SP

Um mega-assalto a um carregamen­to de dinheiro no aeroporto internacio­nal de Viracopos, em Campinas, nesta quinta (17), levou a cancelamen­tos de voos, bloqueio de rodovias e terminou com saldo de três criminosos mortos e cinco pessoas feridas, quatro delas vigilantes e policiais atingidos durante os confrontos que duraram horas.

Entre os feridos está uma mulher, feita refém com a filha de dez meses em uma casa da periferia de Campinas. Ela foi ferida nas nádegas por estilhaço de projétil quando um criminoso foi morto por atirador de elite da PM.

De acordo com a Polícia Militar, o roubo teve início pouco antes das 10h, quando seguranças da empresa de transporte de valores Brinks transferia­m dinheiro em espécie de um carro-forte para um avião cargueiro. O valor envolvido não foi informado pela empresa nem pela polícia.

Ao menos dez bandidos chegaram em carros clonados da Polícia Federal e da Aeronáutic­a e, quando anunciaram o assalto, foi iniciada a troca de tiros. Um vigilante foi baleado na perna, e outro, na orelha. Um vídeo gravado por um passageiro mostra o socorro feito a um desses feridos, ainda ao lado do carro-forte.

Na fuga, os criminosos fizeram refém um sargento da PM que atua no aeroporto. O policial foi amarrado ao capô de um dos veículos usados pela quadrilha na fuga, como uma espécie de escudo humano.

Na sequência, os bandidos bloquearam os dois sentidos da rodovia Santos Dumont, que liga Campinas ao aeroporto. E atearam fogo em dois caminhões, após cruzar as carretas nas faixas da rodovia.

Além do policiamen­to da região, equipes da Polícia Civil e Militar foram enviadas para tentar capturar os criminosos. Entre as forças enviadas para lá estavam policiais de Rota, Gate, PM, Polícia Civil, Dope (Departamen­to de Operações Policiais Estratégic­as) e Deic (Departamen­to Estadual de Investigaç­ões Criminais).

Ainda segundo a polícia, um dos momentos mais tensos ocorreu na área urbana de Campinas quando três criminosos fugiam em caminhão de lixo e foram cercados pela PM local e guardas municipais.

Houve confronto, os bandidos abandonara­m o veículo e fugiram em um carro da Guarda Municipal de Campinas. No veículo abandonado foram encontrada­s armas, entre elas duas metralhado­ras com calibre capaz de abater aeronaves: uma .30 e outra .50.

Também foi recuperado nesse veículo parte do dinheiro roubado.

Os criminosos que pegaram o veículo da guarda foram seguidos até uma rua do bairro Campina Verde, onde deixaram o carro e invadiram casas.

Dois deles fizeram um morador refém, mas foram mortos instantes depois por PMs do Baep (Batalhão de Ações Especiais da Polícia) de Campinas.

Outro criminoso fez uma moradora e a filha dela de dez meses reféns. Após horas de negociação, um atirador de elite matou o sequestrad­or.

A advogada Alessandra Jirardi diz que seu cliente, Luciano Santos Barros, foi morto sem chance de defesa. “Ele foi executado, eu estava no telefone com ele. Disse que queria se entregar e que estava com medo”, disse ela, que relatou que alternava a ligação entre ele e o coronel Luiz Augusto Pacheco Âmbar, comandante do Gate, negociando a rendição. “Eu disse ‘Calma, estou chegando, assim que eu chegar ele vai se entregar’. O sequestrad­or me disse que, se eu não fosse, iam matá-lo.”

A polícia, porém, diz que o suspeito apontou a arma para a cabeça da refém, que segurava a criança no colo, e que indicou que atiraria na mulher. Especialis­ta ouvido pela Folha defende a ação, com base em imagens da ação e declaraçõe­s dos oficiais envolvidos.

Outro confronto, que terminou com um PM ferido, ocorreu nas ruas de Campinas. Segundo a polícia, o major ferido passa por cirurgia e o estado dele é considerad­o estável.

Durante o roubo, foram interrompi­dos pousos e decolagens, das 10h às 10h20. Em seguida, a operação foi retomada. Mesmo não tendo ocorrido ação no terminal de passageiro­s, quem estava embarcando precisou fazer uma segunda inspeção no raio-X, por questões de segurança, segundo o próprio aeroporto. De acordo com passageiro­s, houve correria e pânico.

Segundo site que monitora voos, Viracopos teve uma partida cancelada nesta quinta, de um avião que ia para Brasília, às 11h45. Ao longo do dia, houve ao menos 22 pousos atrasados. Mas foram as decolagens as mais afetadas, ao menos 33 até as 17h, com atrasados de 30 minutos a 2 horas.

A Brinks diz que está colaborand­o com as investigaç­ões.

Já a Federação Nacional das Empresasde­Transporte­deValorese­mitiuumano­ta.“AFenaval vai dialogar com as autoridade­s competente­s para que sejam analisadas medidas que ampliem a segurança e vigilância do transporte de cargas em ambientes controlado­s, como é o caso de aeroportos.”

Questionad­o sobre o caso, o governador João Doria se esquivou do assunto, a princípio, e depois disse que quem tem de responder é o governo federal. “Quem tem que responder por isso não sou eu. Quero lembrar que os aeroportos de Viracopos, Congonhas e Guarulhos são de administra­ção federal”, disse.

“A invasão feita às áreas restritas do aeroporto foi com equipament­os e veículos logotipado­s com a marca da Polícia Federal, e com acesso feito, a meu ver, de maneira bastante facilitada e que precisa ser investigad­a. O que não pode é os aeroportos de administra­ção federal terem essa vulnerabil­idade, sobretudo quando transporta­m cargas de valor. Então cabe também perguntar ao governo federal quais as medidas que, no âmbito dos aeroportos, fará para aumentar a proteção aos usuários, aos frequentad­ores e àqueles que o utilizam para transporte de cargas.”

Em julho deste ano, outro assalto ocorreu no aeroporto de Guarulhos. Criminosos roubaram cerca 720 kg de ouro —R$ 120 milhões— de uma empresa de transporte de valores. Na ação, foi usada viatura clonada da Polícia Federal.

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Wagner Souza/Futura Press/Folhapress Bandidos atearam fogo a dois caminhões e bloquearam os dois sentidos da rodovia Santos Dumont, que liga Campinas ao aeroporto
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2 caminhão de lixo usado por criminosos em fuga é averiguado por policiais e 3 policiais armados vasculham ruas de Campinas
Leandro Ferreira/Fotoarena/Agência O Globo 1 Caminhão colocado por criminosos bloqueia a Santos Dumont; 2 caminhão de lixo usado por criminosos em fuga é averiguado por policiais e 3 policiais armados vasculham ruas de Campinas
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Wagner Souza/Futura Press/Folhapress Rahel Patrasso/Reuters

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