Folha de S.Paulo

Indicação de Eduardo a embaixador nos EUA é suspensa pelo Planalto

Disputas com parlamenta­res põem deputado longe de aprovação no Senado

- Talita Fernandes, Ricardo Della Coletta e Marina Dias

A indicação de Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) para o cargo de embaixador do Brasil em Washington está em suspenso pelo Palácio do Planalto.

Embora a intenção de indicar o deputado federal tenha sido anunciada pelo presidente Jair Bolsonaro em julho, até agora não houve o início do processo formal no Senado, que precisa aprovar a escolha.

Inicialmen­te, o governo dizia esperar um momento oportuno para enviar o nome de Eduardo, um dos filhos do presidente. Membros do Planalto argumentav­am que era necessário esperar a definição de pautas importante­s para o governo, como a aprovação da reforma da Previdênci­a.

Agora, a possibilid­ade de Eduardo se tornar líder do PSL na Câmara passou a ser apontada como o principal motivo para o atraso. A informação de que o Planalto suspendeu a nomeação foi antecipada por Guilherme Amado, colunista da revista Época.

Nos bastidores, a avaliação é que o filho do presidente tem acirrado disputas e se desgastado com parlamenta­res, inclusive do próprio partido, estando cada vez mais longe do número de votos necessário­s para ser aprovado no Senado.

Oficialmen­te, o Planalto não comenta o caso, e Bolsonaro não tem respondido aos questionam­entos relacionad­os à indicação de Eduardo.

Na quarta (16), o próprio deputado reconheceu que a nomeação para o posto nos EUA ficou em segundo plano.

“Todos os temas como embaixada ou viagem para a Ásia são temas secundário­s. A gente está aqui para cuidar dos nossos eleitores”, disse ele após tentativa frustrada de assumir a liderança do PSL.

No fim da noite desta quinta (17), no entanto, o filho do presidente disse à revista Crusoé que a intenção de indicá-lo está mantida. Segundo o deputado, a informação “não procede”.

“Nem eu e nem Jair Bolsonaro falamos nenhum fato novo sobre a embaixada. Parecem estar confundind­o as coisas, querendo pôr mais lenha na fogueira”, disse o deputado.

Ao postergar a indicação do filho, Bolsonaro deixa o posto de Washington sem embaixador por quase dez meses, embora o presidente considere a relação com os EUA a prioridade de sua política externa.

Diplomatas brasileiro­s em Washington também já enxergam como remota a possibilid­ade de Bolsonaro oficializa­r a indicação.

Aliados do deputado federal, por sua vez, iniciaram uma espécie de operação vacina, na tentativa de passar a imagem

de que é ele —e não o presidente— quem vai decidir se enfrenta ou não a sabatina e a votação dos senadores.

Eles dizem que Eduardo conversou com o pai nesta quinta (17) sobre a crise do PSL, e sabe que seria útil no Brasil para ajudar na articulaçã­o política no Congresso.

O discurso foi visto, entre parlamenta­res e diplomatas, como uma maneira de deixar aberta uma possibilid­ade de a indicação não acontecer.

O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e o presidente da comissão de Relações Exteriores do Senado, Nelsinho Trad (PSD-MS), querem que Bolsonaro envie a indicação para a embaixada ainda neste ano, e é esse o prazo que aliados do deputado dizem que ele terá para decidir sobre seu futuro.

Desde que seu pai afirmou que o indicaria, há três meses, o deputado já viajou duas vezes a Washington. Em agosto, foi recebido por Trump, mas saiu sem anúncios da reunião. A sequência de movimentos era o cálculo de Eduardo para angariar apoio no Senado e reflete o desejo, pelo menos até aqui, de que deputado queria assumir o posto.

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Pedro Ladeira - 15.out.19/Folhapress O deputado Eduardo Bolsonaro

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