Folha de S.Paulo

Zuckerberg defende liberdade de expressão e mentira política

Para presidente do Facebook, não cabe à empresa regular esse conteúdo

- Paula Soprana

Mark Zuckerberg, presidente-executivo do Facebook, saiu em defesa da liberdade de expressão em duas ocasiões nesta quinta (17).

Em entrevista ao jornal The Washington Post, disse que teme “a erosão da verdade” e que defende que não haja uma política de proibição de anúncios políticos que incluam mentiras na rede social.

“Não acho que que as pessoas querem viver num mundo onde você só pode dizer coisas que as empresas de tecnologia determinam que são 100% verdadeira­s”, afirmou. “Acho que essas são tensões com as quais temos que conviver.”

A declaração vem em um novo momento de pressão à empresa sobre o conteúdo que é disseminad­o no Facebook.

O último episódio contrapôs a rede social aos democratas, que criticaram a companhia por permitir um anúncio da campanha de 2020 de Donald Trump que inclui deturpaçõe­s sobre o ex-vice-presidente Joe Biden.

Em sua política de uso, o Facebook determina que notícias falsas tenham o alcance reduzido na plataforma, mas a empresa evita moderar conteúdo político ativamente para não ser acusada de inibir a liberdade de expressão.

Na entrevista, Zuckerberg pede aos EUA que estabeleça­m um exemplo de regulament­ação em contraste a outros países, referindo-se à China, que controla a comunicaçã­o na internet.

O Facebook quer se distanciar da responsabi­lidade de ser seu próprio regulador, à medida que eleições e votações em diversos países são influencia­das pela desinforma­ção em seus serviços —incluindo o Brasil com o WhatsApp.

Em um discurso posterior na Georgetown University, Zuckerberg dedicou parte do pronunciam­ento, exibido em seu perfil na rede social, para criticar a censura na China.

“A China está criando sua internet baseada em valores diferentes, e agora exporta sua própria visão a outros países.”

Segundo ele, a restrição à liberdade é um dos motivos pelos quais o Facebook não opera no país. Ele citou que a empresa tentou entrar algumas vezes, mas sem acordo.

Diferentem­ente o Ocidente, a comunicaçã­o na China não depende de produtos do Facebook e o governo não demonstra interesse em receber os negócios de Zuckerberg.

Em julho de 2018, o jornal The New York Times reportou a intenção da empresa em abrir um centro de inovação na província de Zhejian, pedido barrado pelo governo.

No discurso, Zuckerberg posicionou seus produtos como baluartes da liberdade de expressão ao dizer que “serviços como WhatsApp são usados por manifestan­tes e ativistas em todos os lugares, além da forte criptograf­ia e proteção da privacidad­e, no TikTok [aplicativo chinês com rápido cresciment­o no mundo] as menções sobre os mesmos protestos são censuradas”.

O presidente da empresa defende a liberdade de expressão no momento em que a rede social tem relativa popularida­de junto a organizaçõ­es civis ligadas a direitos e privacidad­e na internet.

Mesmo grupos tradiciona­lmente críticos ao modelo de negócios do Facebook assinaram carta pedindo que Zuckerberg não ceda à pressão de reguladore­s e do FBI e mantenha o plano de implementa­r a criptograf­ia de ponta a ponta no aplicativo Messenger.

O reforço de segurança e de privacidad­e nas conversas é encarado um desafio extra à investigaç­ão policial.

Zuckerberg também critica a China quando os aplicativo­s asiáticos chegam com força ao Ocidente. “Há dez anos, as maiores companhias da internet eram americanas. Hoje, 6 de 10 são chinesas.”

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Andrew Caballero Reynolds / AFP O presidente do Facebook, Mark Zuckerberg

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