Ex-diretor da Globo Maurício Sherman morre aos 88 anos
Diretor morto nesta quinta, aos 88, ajudou a criar Fantástico e descobriu Xuxa
Maurício Sherman, ex-diretor da Globo e um dos criadores do Fantástico, morreu na manhã desta quinta (17), aos 88 anos, no Rio de Janeiro. A causa da morte não foi divulgada.
A transformação do antigo “Zorra Total” no “Zorra”, que hoje ocupa as noites de sábado da Globo, dá uma dimensão da distância que separava o modelo de criação de Sherman do mundo atual.
O “Zorra Total”, encerrado em 2015, com resquícios de piadas sexistas e alguma misoginia, foi seu último trabalho. Daqueles esquetes puxados pela travesti Valéria (Rodrigo Sant’Anna), sob o bordão “Ai, como eu tô bandida” só restou parte do título do humorístico, agora dedicado a sátiras políticas e comportamentais.
Não vai aí nenhum julgamento. Mulheres de corpos esculturais sob a cobiça de olhares masculinos, assim como a caricatura da bicha afetada e da mulher burra, por décadas integraram a receita de programas que servem como referência do riso na TV, sem que isso significasse má qualidade de produção e texto.
Não que a cena da mulher gostosa, tão bem explorada pelo diretor em seus trabalhos ao longo de seis décadas de TV, não tenha mais espaço. A audiência de “A Praça é Nossa” está aí para desmentir que ninguém mais se diverte com isso.
Para quem busca novas gerações, no entanto, boa parte da graça do passado ganhou tom de deboche inapropriado. As premissas que tanto êxito renderam a Sherman estão em processo de profunda mutação, mas, sem os seus pilares, a edificação dos valores que hoje regem os melhores talentos não seria possível.
Como alguém que deu seus primeiros passos na TV ainda nos primórdios da Tupi, nos anos 1950, Sherman integra o time dos profissionais que aprendeu a pilotar o veículo enquanto errava a marcha.
Foi ele quem convenceu Adolfo Bloch, na Manchete, a entrar na seara de novelas, gênero que renderia a inovadora “Pantanal” (1990), sob os méritos de outros diretores.
A atribuição de ter revelado Xuxa veio no rastro do posto que ocupava na Manchete, como diretor, e na certeza, de novo, que mulher bonita é ponto infalível para a audiência. Assim que Xuxa foi para a Globo, apareceu Angélica, que tambémcumpriaosrequisitos.
Com seus programas com moças bonitas, atraía não só crianças, criando um ambiente de convivência com os pais.
O uso desenfreado desse recurso, é bom que se ressalte, não diminui seus méritos, apenas fornece subsídios para as transformações necessárias de um mundo que valoriza o show, sem perder a piada, mas também a plateia feminina.