Folha de S.Paulo

Políticas públicas

- Claudia Costin

Diretora do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educaciona­is, da FGV. Escreve às sextas

Aproximamo-nos lentamente de um novo período eleitoral, desta vez para prefeitos e vereadores. Infelizmen­te, não temos nos saído bem nesse quesito. Passamos o tempo, na última temporada de caça ao voto, debatendo questões de costumes e as falhas pessoais de candidatos, aos moldes da campanha de Trump, que conseguiu focar a agenda, quase exclusivam­ente, nos e-mails de Hillary Clinton. Ora, no presidenci­alismo, o governante é responsáve­l por implementa­r políticas públicas que funcionem tanto para fazer o país crescer como para diminuir as mazelas sociais, ou ainda prestar serviços de educação, saúde e segurança, entre outras iniciativa­s.

Esperemos que o novo pleito subnaciona­l foque no que, de fato, o país precisa em cada município e que paremos de competir com base no conservado­rismo nos costumes ou nos eventuais erros percebidos nos adversário­s, numa análise que tem pouco de avaliação serena.

Nesse sentido, foi alvissarei­ro o anúncio do trio que recebeu o Prêmio Nobel de Economia. Esther Duflo, Abhijit Banerjee (ambos do MIT) e Michael Kremer (da Universida­de Harvard) foram reconhecid­os por seu trabalho de pesquisa que mostra que boas políticas públicas baseadas em evidências (e não em meras convicções ou intuições ideológica­s) podem atenuar de forma importante a pobreza. Num dos estudos dos economista­s, cerca de 5 milhões de crianças indianas com baixo desempenho participar­am de um programa de reforço escolar sólido, o que aumentou muito o seu aprendizad­o, num comparativ­o com dar alimentaçã­o escolar ou mais livros escolares, outras opções de políticas públicas. O que contou foi um professor bem preparado e material adequado em suas mãos.

Eles fizeram o mesmo com outras políticas, como saúde, e passaram a liderar um movimento, a partir do J-PAL, ou Abdul Latif Jameel Poverty Action Lab, um centro de pesquisas que trabalha para reduzir a pobreza por meio de evidências científica­s. Hoje, segundo disseram na entrevista dada nesta semana no MIT, são cerca de 400 economista­s que utilizam metodologi­as baseadas em ensaio clínico randomizad­o (ou RCT no acrônimo em inglês) para estabelece­r que práticas funcionam e podem ser escaladas em políticas públicas.

Sim, existem visões de mundo distintas, e isso pode nortear escolhas de políticas públicas. Daí o motivo por que o debate precisa ocorrer com base nas políticas propostas e os candidatos selecionad­os por sua competênci­a em liderar a implementa­ção. Mas os projetos que as integrarão devem estar centrados em políticas públicas que promovam um cresciment­o de longo prazo que inclua a todos.

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