Folha de S.Paulo

De defensor, Delegado Waldir passa a desafeto de Bolsonaro

Após chamar presidente de ‘vagabundo’, deputado se compara a mulher traída

- Talita Fernandes, Angela Boldrini, Ranier Bragon e Catia Seabra

O deputado federal Delegado Waldir (GO), líder da bancada do PSL na Câmara, passou nesta quinta (17) de defensor solitário a um dos principais desafetos de Jair Bolsonaro (PSL) no Congresso. No fim do dia, ele amenizou o tom das críticas.

Em áudio captado em reunião na quarta-feira (16), ele ameaçou implodir o governo Bolsonaro. Integrante da bancada da bala, o deputado foi ferrenho crítico do PT e do governo Michel Temer (MDB), tendo se destacado na defesa de Bolsonaro na Câmara, às vezes quase que sem apoio do partido, ainda durante a transição, no ano passado.

Na votação de projeto que prorrogou por cinco anos benefícios fiscais para as regiões Norte e Nordeste, em dezembro, Waldir tentou barrar a pauta-bomba, com discursos inflamados, mas sem êxito.

“Estamos causando um grande impacto financeiro. Até quando nós vamos continuar com essas pautas-bombas?”, disse em plenário, quando era vice-líder da bancada. O então líder formal, Eduardo Bolsonaro (SP), não se manifestou na discussão do tema.

Delegado da Polícia Civil e cumprindo seu terceiro mandato na Câmara, Waldir foi o

deputado federal mais votado em seu estado em 2014 e 2018.

Em 2010 e em 2014, foi eleito pelo PSDB. Depois migrou para o PR (atual PL) até embarcar no PSL. Sua principal pauta é a segurança pública.

O estranhame­nto, porém, já vem desde o começo do governo Bolsonaro. O atual líder já demonstrou por diversas vezes insatisfaç­ão com o Palácio.

Na aprovação da reforma da Previdênci­a, não citou Bolsonaro no discurso de comemoraçã­o pela aprovação do texto. Elogiou o presidente da Câmara, Rodrigo Maia. “Sem ele, não chegaríamo­s nesse momento. Ele é o cara, meu respeito a Rodrigo Maia.”

Agora, em meio ao racha do PSL, Waldir chamou Bolsonaro de vagabundo. “Vou fazer o seguinte, eu vou implodir o presidente.

Aí eu mostro a gravação dele, eu tenho a gravação. Não tem conversa, eu implodo o presidente, cabô, cara. Eu sou o cara mais fiel a esse vagabundo, cara. Eu votei nessa porra, eu andei no sol 246 cidades, no sol gritando o nome desse vagabundo”, diz o deputado no áudio —revelado pelo site R7— obtido pela Folha.

A conversa foi gravada em reunião no gabinete de Waldir por Daniel Silveira (PSL-RJ).

Nesta quinta, após a divulgação da fala, Waldir recuou. “Isso já passou. Nós somos Bolsonaro. Somos que nem mulher traída, apanha, mas mesmo assim volta ao aconchego”, afirmou, acrescenta­ndo ter sido gravado em um “momento de sentimento­s”. “É uma fala de emoção.”

Waldir integra a ala do PSL alinhada ao presidente da sigla, o deputado federal Luciano Bivar (PE), alvo de Bolsonaro e de aliados em uma disputa pelo comando do partido.

Nos últimos dias os dois lados travaram guerra em busca de assinatura­s de deputados para ver quem comandará a sigla na Câmara. Bolsonaro tentou pessoalmen­te emplacar o filho Eduardo Bolsonaro na vaga de Waldir. Até a noite desta quinta, porém, havia fracassado e o deputado de GO seguia na liderança.

Waldir disse que unificará a bancada, mas que dissidente­s podem ser punidos. “Existe o Conselho de Ética da Câmara e do partido. Com certeza nós iremos representa­r contra quem cometeu excessos.”

Ao admitir ter gravado a fala do líder da bancada, Silveira disse que “Bolsonaro ficou surpreso” e “não esperava que houvesse um grupo tão coeso articulado com o centrão”.

Silveira disse que agiu para “preservar o presidente” e que não divulgou a conversa, cuja gravação fora encaminhad­a por ele a outros deputados ligados ao presidente.

Com duração de nove minutos, o áudio traz reclamaçõe­s dos deputados sobre a interferên­cia de Bolsonaro na liderança do partido, no embate interno com Bivar.

Na última terça (15), o presidente do PSL foi alvo de operação da Polícia Federal.

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Pedro Ladeira/Folhapress Delegado Waldir, que criticou Bolsonaro

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