Executivos da imprensa veem 2020 como desafio para combate a fake news
O seminário Desinformação: Antídotos e Tendências, realizado pela ANJ (Associação Nacional de Jornais) nesta quinta (17) em São Paulo, serviu para executivos de alguns dos principais veículos do país fazerem um balanço do combate às fake news e levantar alertas para o esforço no próximo ano eleitoral.
O presidente da entidade, Marcelo Rech, vice-presidente editorial do Grupo RBS, abriu o evento questionando as lideranças políticas que no exterior e agora no Brasil usam a desculpa das notícias falsas para realizar tentativas de “intimidação” do jornalismo. Ele sublinhou episódios em que foram observadas “ofensas coordenadas a repórteres”.
Para Rech, a melhor forma de enfrentar o “vírus da desinformação é desenvolver anticorpos”, no jornalismo e no público, inclusive campanhas de educação de mídia, que ampliam a transparência da prática jornalística. Lembrou que o fenômeno da desinformação passa por aceleração, com as deepfakes.
O diretor de Redação da Folha, Sérgio Dávila, abriu o painel Os Jornalistas e a Desinformação, como moderador, recordando que as notícias falsas têm seu marco zero na imprensa em 1835, em manchete histórica do “New York Sun”, “Homens-morcego na Lua” — que abriu uma série que tornou o jornal o mais vendido no mundo. A farsa foi exposta e coibida por “reportagens publicadas pela concorrência”.
“Ou seja, fake news e desinformação não são novidade”, disse Dávila. A mudança agora é que elas ganharam, com as redes sociais, “um acelerador”.
A reação dos veículos no Brasil e em outros países foi criar mecanismos de checagem “sozinhos ou em parceria com outros órgãos de mídia”, como Facebook e Google. “Sim, eu os chamo de órgãos de mídia”, acrescentou.
Daniel Bramatti, editor do Estadão Dados, apresentou no painel Desinformação nas Eleições um levantamento da experiência com checagem de fatos no projeto Comprova, coalizão de 24 organizações brasileiras, dentre elas a Folha e O Estado de S. Paulo.
Também presidente da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo), ele deixou o alerta de que, na eleição do ano que vem, “cada um dos 5.570 municípios poderá ser palco de campanhas de desinformação”.
Antecipando “um desafio gigantesco para monitorar e responder à circulação de conteúdo falso”, propôs campanhas educativas como estratégia, “para elevar o ceticismo dos usuários de redes sociais”.
Diretor de Redação de O Globo, Alan Gripp relatou que de início a atitude na Redação foi de passividade, até porque notícia falsa não era novidade. Isso mudou “quando a gente percebeu que esse tipo de informação falsa, por redes sociais, ameaçava vidas e a própria democracia”, afirmou.
A partir daí, aos poucos, o serviço de verificação foi se ampliando até combinar esforços dentro do Grupo Globo, chegando ao Fato ou Fake, “ferramenta de checagem que uniu praticamente todas as publicações do grupo e criou metodologia ágil e abrangente”.
Também Gripp defendeu “mostrar como funciona essa indústria [de desinformação], o que talvez dê munição para que as pessoas passem a desconfiar um pouco mais”.
O diretor de Conteúdo do UOL, Murilo Garavello, fez um histórico dos trabalhos de verificação do portal, que atua tanto em coalizões como o Comprova quanto separadamente, com o UOL Confere. “Neste ano, 22 reportagens [de verificação] deram mais de 100 mil acessos”, afirmou. “A checagem tem audiência.”
Ele defendeu que os esforços não podem se restringir mais a serviços específicos. “O processo de checagem cada vez mais tem que ser rápido e fazer parte do noticiário”, disse. “Todos os dias, a gente precisa repor a verdade rapidamente.”