Folha de S.Paulo

Recusa em prorrogar prazo pode ser chave para aprovar pacto

- James Blitz

Boris Johnson aceitou um acordo para o brexit com a União Europeia, o que provocou uma alta da libra esterlina e muita emoção em Westminste­r.

A questão agora é se o pacto será aprovado na votaçãocha­ve na Câmara dos Comuns no sábado (19).

O consenso neste momento é que Boris não tem o número de votos necessário. O Partido Unionista Democrátic­o (DUP, na sigla em inglês) deixou claro que não aprovará o acordo “como está”.

Sem seu apoio, é difícil ver como o pacto passará pelo Parlamento britânico.

James Forsyth, no The Spectator, fez uma boa avaliação de qual é o problema. Ele diz que Mark Spencer, o líder dos conservado­res, calculou na noite de quarta (16) que, se o DUP apoiar Boris, o governo vencerá no sábado por maioria de apenas um.

Essa maioria seria composta por todos os parlamenta­res conservado­res, 15 conservado­res independen­tes, o DUP e mais nove trabalhist­as rebeldes nos distritos eleitorais pró-saída da União Europeia que desafiaria­m o líder de seu partido.

Mas, sem o DUP, Boris precisa que 19 deputados trabalhist­as o apoiem —e conseguir o apoio de muitos parlamenta­res trabalhist­as para um acordo de Boris seria realmente muito difícil.

Como a dinâmica pode mudar nas próximas 48 horas? Uma possibilid­ade está na declaração do presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, segundo a qual, caso o acordo não seja aprovado, não será concedido ao Reino Unido a prorrogaçã­o de três meses para a saída do bloco, exigida pela Lei Benn.

A fala significa que a não aprovação da votação no sábado mergulhari­a o Reino Unido em um brexit sem acordo em 31 de outubro.

Isso certamente mexeria com as mentes em Westminste­r. Poderia levar o DUP a ultrapassa­r limites, além de atrair mais parlamenta­res trabalhist­as para o acordo fechado pelo primeiro-ministro britânico.

Talvez, no entanto, Boris tenha se resignado a perder no sábado. Ele pode considerar que, nessa situação, pode entrar em uma eleição geral brandindo o acordo que assinou e dizendo que só teria retirado o Reino Unido da UE em 31 de outubro se o Parlamento tivesse permitido.

Em seguida, ele convocaria os eleitores a dar o apoio parlamenta­r necessário para que o pacto fosse cumprido.

A outra possibilid­ade, é claro, é que o DUP ceda no último minuto. No momento, é difícil ver o que pode mudar na mente do partido, já que o acordo do brexit está assinado e selado.

Mas, depois de três anos e meio, o Parlamento, a União Europeia e grande parte do público britânico estão totalmente esgotados com o processo do brexit e querem que o Reino Unido siga em frente. Há algo no clima político britânico que faz pensar que —de alguma forma— Boris conseguirá o que quer no sábado.

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