Folha de S.Paulo

Xenofobia no Brasil é só na fronteira, diz imigrante venezuelan­a

- Flávia Mantovani

Este depoimento faz parte do especial multimídia Imigrantes de SP, que traz o ponto de vista de estrangeir­os que vivem na cidade. Novas histórias serão publicadas periodicam­ente.

Sei que espanhol parece português, mas faço curso do idioma porque não quero falar errado. Gosto especialme­nte das palavras que terminam em L porque são pronunciad­as como U no fim. Acho curioso.

Os venezuelan­os estão passando muito mal. Uma coisa que custa 5 mil soberanos, sobe para 10 mil à tarde e para 15 mil à noite, sendo que seu pagamento é o mesmo. Um salário dá só para a condução; outro, para 1 kg de feijão.

Somos como os brasileiro­s. Quando alguém chega na nossa casa, falamos: “Quer um café, uma bolacha?” Com a crise, isso se perdeu, tem só sua comida, não pode compartilh­ar.

Penso em voltar para lá. O melhor para o ser humano é ficar junto com a família, e as famílias venezuelan­as estão muito divididas. Você está bem aqui, mas sua família está mal porque não tem medicament­os ou comida... É ruim. Você não fica bem nunca.

Fiz duas faculdades lá e aqui já trabalhei em lavanderia, restaurant­e, fiz faxina. Não tenho vergonha. Para mim qualquer trabalho é honrado.

Meus amigos na Venezuela ficam preocupado­s porque ouviram falar que aqui tem xenofobia contra venezuelan­os. Eu digo que não é no Brasil todo, é só na fronteira. Em São Paulo, as pessoas são muito carinhosas com a gente.

Quando saí da Venezuela, queria passar a melhor imagem possível do meu país e mostrar que, no geral, somos pessoas boas, legais, inteligent­es. Igual aos brasileiro­s. Lorena Arévalo, 35, está no Brasil desde 2018. É analista de marketing bilíngue LEIA O ESPECIAL SOBRE IMIGRANTES DE SÃO PAULO folha.com/imigrantes­desp

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Bruno Santos/Folhapress A venezuelan­a Lorena Arévalo, 35

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