Folha de S.Paulo

Presidente do Coaf deve ser obrigado a investigar vazamentos

- Ricardo Della Coletta

Após meses de uma queda de braço entre governo e o Congresso, deputados e senadores devem retomar o nome Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeira­s) para o órgão de inteligênc­ia financeira, além de obrigar o presidente da estrutura a iniciar investigaç­ões internas sempre que houver vazamento de informaçõe­s.

Criado em 1998, o Coaf foi rebatizado de UIF (Unidade de Inteligênc­ia Financeira) por uma medida provisória editada por Jair Bolsonaro.

Após negociaçõe­s com o senador José Serra (PSDBSP), presidente da comissão especial que analisa o tema, e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, o relator, deputado Reinhold Stephanes Junior (PSD-PR), apresentou nesta quarta (16) um novo parecer da MP.

A expectativ­a é que o texto seja votado no colegiado na próxima semana.

O relator estabelece que os integrante­s estão proibidos de “fornecer ou divulgar informaçõe­s conhecidas ou obtidas em decorrênci­a do exercício de suas funções a pessoas que não disponham de autorizaçã­o legal ou judicial para acessá-las”. Pelo texto, o presidente do Coaf passa a ser obrigado a abrir procedimen­to investigat­ório em casos de vazamento.

Ele fica obrigado ainda a encaminhar relatório sobre as conclusões da apuração para a polícia ou Ministério Público.

Trata-se de uma reação dos congressis­tas a casos recentes que envolveram deputados e senadores. No fim de 2018, foi divulgado que um relatório do Coaf apontou movimentaç­ão atípica de R$ 1,2 milhão na conta bancária de um exassessor do senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), quando ele era deputado estadual.

O Ministério Público do Rio de Janeiro recebeu dados da operação e abriu investigaç­ões criminais para apurar as suspeitas. No entanto, por determinaç­ão do ministro Gilmar Mendes, do STF, as investigaç­ões foram suspensas.

O argumento é que autoridade­s do Rio não estavam cumprindo uma decisão do presidente da Corte, Dias Toffoli, de sustar de apurações criminais no país que usem dados de órgãos de controle sem autorizaçã­o judicial.

O novo relatório obriga que o conselho (agora renomeado Plenário) do Coaf seja ocupado só por servidores de carreira —algo que já constava de um primeiro relatório.

A redação que veio do Planalto não especifica­va isso, o que dava margem para indicações políticas.

O Coaf é alvo de disputas desde o início da gestão Bolsonaro. Sob o argumento de que daria mais força ao órgão, o presidente o transferiu em seu primeiro ato de governo para o ministério de Sergio Moro (Justiça). Em retaliação, o Congresso alterou a MP de reestrutur­ação e devolveu a instituiçã­o à Economia.

Em um novo capítulo, Bolsonaro disse que pretendia “tirar o Coaf do jogo político” e editou uma nova MP para transformá­lo em UIF e colocá-lo sob responsabi­lidade do Banco Central. O novo relatório o mantém na esfera do BC.

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