Fusão de bancos aliviou juro em algumas cidades, diz BC
Para instituição, concentração não impede concorrência e pode gerar ganhos
A saída de uma instituição financeira de municípios com seis ou mais competidores é irrelevante em termos de alteração do volume de crédito e taxas de juros para pessoas jurídicas, segundo o Banco Central.
A avaliação faz parte de um estudo especial divulgado pela instituição nesta quinta-feira (17), com base em um trabalho acadêmico realizado por um funcionário da instituição e um brasileiro pesquisador do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts).
O estudo citado pela autoridade monetária, que permanece inédito, analisou nove aquisições bancárias, realizadas por Bradesco (Banco do Ceará, Inter Amex e BMC), Itaú (BankBoston e Unibanco), Santander (ABN Amro Real e Bonsucesso), Pactual (UBS) e Banco do Brasil (BESC), de 2005 a 2015.
Segundo o BC, o trabalho chegou a três conclusões.
A diminuição da competição bancária, no nível do município, reduz a oferta de crédito e eleva os spreads cobrados localmente. Mas o efeito da redução da competição só é estaticamente relevante onde o grau de competição já era baixo antes do aumento da concentração.
Por outro lado, quando há muita competição no mercado local ou quando não há alterações na competição por conta da saída de um banco do sistema, “os atos de concentração produzem eficiências produtivas que podem compensar seus potenciais efeitos anticoncorrenciais”.
“Concentração alta não é nem condição necessária nem suficiente para grau de concorrência baixa. Há mercados concentrados onde a concorrência é alta e mercados desconcentrados e pouco concorrenciais”, diz o BC.
A instituição tem questionado avaliações de que o movimento de concentração bancária, representado por cinco grandes instituições, significa falta de competição.
O número médio de bancos para um município no Brasil é de 3,84 (apenas 2,20 quando são considerados apenas bancos privados). Segundo o BC, 40% dos municípios com bancos possuem apenas uma instituição (70% não possuem nenhum banco privado).
Nesse trabalho, os pesquisadores verificaram a diferença entre spread bancário e volume de empréstimos sem subsídios para empresas 18 meses antes da fusão e quatro períodos posteriores (12, 24, 36 e 48 meses). Não foram feitos cálculos para pessoas físicas.
Na primeira simulação, constatou-se que os municípios onde houve saída de um banco do mercado apresentam redução do volume de empréstimos para empresas, 7% a 21% dependendo do período considerado, e spreads de 2,6 a 7,0 pontos percentuais maiores, na comparação com as cidades onde não houve redução do número de bancos (onde havia agências do Itaú, mas nenhuma do Unibanco ou nenhum deles estava presente, por exemplo).
O documento não traz dados segmentados, mas a instituição diz que o resultado obtido pelos pesquisadores mostra que “os efeitos da saída de um banco de um mercado local desaparecem quando a localidade possuía seis ou mais bancos antes do evento”.
Em um segundo exercício, os pesquisadores verificaram o que ocorreu nas cidades com agências de apenas um dos bancos envolvidos na fusão, na comparação com os demais municípios, considerando os períodos 18 meses antes e 24 e 36 meses depois.
Nesses municípios, o spread para as empresas é menor (de 1,5 e 1,7 ponto percentual) e o volume de crédito não mostra resultados relevantes.
“Essa diminuição de spread é consistente com a visão de que F&As [fusões & aquisições] geram ganhos de eficiência que podem ser repassados aos clientes na forma de spreads mais baixos”, diz o BC.
O estudo apresenta também uma simulação hipotética. O que ocorreria se os cinco maiores bancos do país estivessem presentes em todos os municípios, mas controlassem 100% do mercado dividido igualmente entre eles?
Segundo o BC, haveria aumento do número de concorrentes na vasta maioria dos municípios, o volume de crédito aumentaria e seu custo cairia substantivamente na grande maioria dos locais.
Por outro lado, nos municípios que hoje possuem mais de cinco bancos, o volume de crédito cairia e seu custos aumentariam. “Mas esses efeitos seriam pequenos, pois os impactos de um banco a mais ou a menos são diminutos quando o número de concorrentes é maior”, diz a instituição.
Brasil tem menor número de empresas ativas desde 2009
Diego Garcia
O número de empresas ativas no Brasil apresentou seu menor registro desde 2009, de acordo com números divulgados pelo IBGE nesta quinta (17). Os dados são da Demografia das Empresas e Estatísticas de Empreendedorismo.
Há 10 anos, o Brasil tinha 4.268.930 empresas ativas, no que foi o menor número até 2017, o último analisado pela pesquisa, quando registrou 4.458.678.
No período, o saldo de empresas no mercado se manteve positivo até 2013, já que ia aumentando anualmente. No ano em questão, porém, após apresentar seu maior registro (4.775.098 empresas ativas), a estatística passou a cair.
“Esse número vem se reduzindo, com saldos negativos em todos os anos desde 2014, quando teve a maior queda, de quase 218 mil empresas”, disse a analista da pesquisa, Denise Guichard.
Em 2014, o Brasil tinha 4.557.411 empresas ativas. E só diminuiu a partir daí.
“Havia quase 4,8 milhões de empresas em atividade no país em 2013, com um saldo de 175 mil em relação a 2012, e o número de empresas crescendo”, disse a analista.
O principal ano de perda foi também o do início da crise econômica no Brasil: 2014, quando 217.687 companhias fecharam as portas. Até 2017, outras 98.993 não sobreviveram.
Cerca de 40% das 597,2 mil empresas criadas em 2012 estavam ativas em 2017. Ou seja: seis em cada dez companhias encerraram suas atividades ao longo desses cinco anos. Entre 2008 e 2013, a marca era de 47,8%.
Segundo o IBGE, a tendência é que a taxa de sobrevivência das empresas no Brasil se reduza com o passar dos anos.
“Das organizações criadas em 2012, 78,9% sobreviveram após um ano de funcionamento, 64,5% após dois anos, 55% após três anos, 47,2% após quatro anos e 39,8% estavam abertas em 2017. Já das 558,6 mil empresas criadas em 2008, 47,8% sobreviveram em cinco anos”, disse o instituto.
Além disso, a quantidade de pessoas ocupadas assalariadas também teve sua pior marca desde 2010.
Foram 31.877.046 no último ano do estudo, com ápice de 35.22.0.894 em 2014. Desde então, despencou e marcou 30.821.123 no último ano analisado.