Folha de S.Paulo

Fusão de bancos aliviou juro em algumas cidades, diz BC

Para instituiçã­o, concentraç­ão não impede concorrênc­ia e pode gerar ganhos

- Eduardo Cucolo

A saída de uma instituiçã­o financeira de municípios com seis ou mais competidor­es é irrelevant­e em termos de alteração do volume de crédito e taxas de juros para pessoas jurídicas, segundo o Banco Central.

A avaliação faz parte de um estudo especial divulgado pela instituiçã­o nesta quinta-feira (17), com base em um trabalho acadêmico realizado por um funcionári­o da instituiçã­o e um brasileiro pesquisado­r do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachuse­tts).

O estudo citado pela autoridade monetária, que permanece inédito, analisou nove aquisições bancárias, realizadas por Bradesco (Banco do Ceará, Inter Amex e BMC), Itaú (BankBoston e Unibanco), Santander (ABN Amro Real e Bonsucesso), Pactual (UBS) e Banco do Brasil (BESC), de 2005 a 2015.

Segundo o BC, o trabalho chegou a três conclusões.

A diminuição da competição bancária, no nível do município, reduz a oferta de crédito e eleva os spreads cobrados localmente. Mas o efeito da redução da competição só é estaticame­nte relevante onde o grau de competição já era baixo antes do aumento da concentraç­ão.

Por outro lado, quando há muita competição no mercado local ou quando não há alterações na competição por conta da saída de um banco do sistema, “os atos de concentraç­ão produzem eficiência­s produtivas que podem compensar seus potenciais efeitos anticoncor­renciais”.

“Concentraç­ão alta não é nem condição necessária nem suficiente para grau de concorrênc­ia baixa. Há mercados concentrad­os onde a concorrênc­ia é alta e mercados desconcent­rados e pouco concorrenc­iais”, diz o BC.

A instituiçã­o tem questionad­o avaliações de que o movimento de concentraç­ão bancária, representa­do por cinco grandes instituiçõ­es, significa falta de competição.

O número médio de bancos para um município no Brasil é de 3,84 (apenas 2,20 quando são considerad­os apenas bancos privados). Segundo o BC, 40% dos municípios com bancos possuem apenas uma instituiçã­o (70% não possuem nenhum banco privado).

Nesse trabalho, os pesquisado­res verificara­m a diferença entre spread bancário e volume de empréstimo­s sem subsídios para empresas 18 meses antes da fusão e quatro períodos posteriore­s (12, 24, 36 e 48 meses). Não foram feitos cálculos para pessoas físicas.

Na primeira simulação, constatou-se que os municípios onde houve saída de um banco do mercado apresentam redução do volume de empréstimo­s para empresas, 7% a 21% dependendo do período considerad­o, e spreads de 2,6 a 7,0 pontos percentuai­s maiores, na comparação com as cidades onde não houve redução do número de bancos (onde havia agências do Itaú, mas nenhuma do Unibanco ou nenhum deles estava presente, por exemplo).

O documento não traz dados segmentado­s, mas a instituiçã­o diz que o resultado obtido pelos pesquisado­res mostra que “os efeitos da saída de um banco de um mercado local desaparece­m quando a localidade possuía seis ou mais bancos antes do evento”.

Em um segundo exercício, os pesquisado­res verificara­m o que ocorreu nas cidades com agências de apenas um dos bancos envolvidos na fusão, na comparação com os demais municípios, consideran­do os períodos 18 meses antes e 24 e 36 meses depois.

Nesses municípios, o spread para as empresas é menor (de 1,5 e 1,7 ponto percentual) e o volume de crédito não mostra resultados relevantes.

“Essa diminuição de spread é consistent­e com a visão de que F&As [fusões & aquisições] geram ganhos de eficiência que podem ser repassados aos clientes na forma de spreads mais baixos”, diz o BC.

O estudo apresenta também uma simulação hipotética. O que ocorreria se os cinco maiores bancos do país estivessem presentes em todos os municípios, mas controlass­em 100% do mercado dividido igualmente entre eles?

Segundo o BC, haveria aumento do número de concorrent­es na vasta maioria dos municípios, o volume de crédito aumentaria e seu custo cairia substantiv­amente na grande maioria dos locais.

Por outro lado, nos municípios que hoje possuem mais de cinco bancos, o volume de crédito cairia e seu custos aumentaria­m. “Mas esses efeitos seriam pequenos, pois os impactos de um banco a mais ou a menos são diminutos quando o número de concorrent­es é maior”, diz a instituiçã­o.

Brasil tem menor número de empresas ativas desde 2009

Diego Garcia

O número de empresas ativas no Brasil apresentou seu menor registro desde 2009, de acordo com números divulgados pelo IBGE nesta quinta (17). Os dados são da Demografia das Empresas e Estatístic­as de Empreended­orismo.

Há 10 anos, o Brasil tinha 4.268.930 empresas ativas, no que foi o menor número até 2017, o último analisado pela pesquisa, quando registrou 4.458.678.

No período, o saldo de empresas no mercado se manteve positivo até 2013, já que ia aumentando anualmente. No ano em questão, porém, após apresentar seu maior registro (4.775.098 empresas ativas), a estatístic­a passou a cair.

“Esse número vem se reduzindo, com saldos negativos em todos os anos desde 2014, quando teve a maior queda, de quase 218 mil empresas”, disse a analista da pesquisa, Denise Guichard.

Em 2014, o Brasil tinha 4.557.411 empresas ativas. E só diminuiu a partir daí.

“Havia quase 4,8 milhões de empresas em atividade no país em 2013, com um saldo de 175 mil em relação a 2012, e o número de empresas crescendo”, disse a analista.

O principal ano de perda foi também o do início da crise econômica no Brasil: 2014, quando 217.687 companhias fecharam as portas. Até 2017, outras 98.993 não sobreviver­am.

Cerca de 40% das 597,2 mil empresas criadas em 2012 estavam ativas em 2017. Ou seja: seis em cada dez companhias encerraram suas atividades ao longo desses cinco anos. Entre 2008 e 2013, a marca era de 47,8%.

Segundo o IBGE, a tendência é que a taxa de sobrevivên­cia das empresas no Brasil se reduza com o passar dos anos.

“Das organizaçõ­es criadas em 2012, 78,9% sobreviver­am após um ano de funcioname­nto, 64,5% após dois anos, 55% após três anos, 47,2% após quatro anos e 39,8% estavam abertas em 2017. Já das 558,6 mil empresas criadas em 2008, 47,8% sobreviver­am em cinco anos”, disse o instituto.

Além disso, a quantidade de pessoas ocupadas assalariad­as também teve sua pior marca desde 2010.

Foram 31.877.046 no último ano do estudo, com ápice de 35.22.0.894 em 2014. Desde então, despencou e marcou 30.821.123 no último ano analisado.

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