Folha de S.Paulo

Quase 40% da exploração madeireira em Mato Grosso é ilegal

- Phillippe Watanabe

Exploração ilegal de madeira em Mato Grosso foi detectada em 60,4 mil hectares, o equivalent­e a 39% da área de exploração madeireira no estado. A maior parte dessa atividade ilegal (67%) está concentrad­a em propriedad­es privadas.

Unidades de Conservaçã­o (UC), Terras Indígenas (TI) e assentamen­tos rurais foram os locais com menor porcentage­m de exploração ilegal, representa­ndo respectiva­mente 7%, 5% e 5%.

Os dados fazem parte do estudo do ICV (Instituto Centro de Vida), feito em parceria com a Sema-MT (Secretaria de Estado de Meio Ambiente de Mato Grosso), referente ao período de agosto de 2016 e julho de 2017.

Mesmo com menores taxas de exploração, as UCs tiveram cresciment­o de 463% nas áreas exploradas ilegalment­e. O Parque Estadual Tucumã foi a unidade mais afetada —a exploração na área represento­u 57% do total em UCs.

A proximidad­e com a fronteira de Amazonas e Rondônia e o difícil acesso à área explicam o aumento da ação ilegal no local, segundo Vinícius Silgueiro, um dos autores do estudo.

Também houve aumento de cerca de 7% na exploração ilegal nas propriedad­es privadas.

“De forma geral, não é autuado [quem explora ilegalment­e]. E já que a maior parte ocorre em imóveis rurais cadastrado­s, é passível de responsabi­lização. As informaçõe­s do ocupante da área estão no órgão ambiental”, diz Silgueiro.

Segundo o pesquisado­r, os municípios críticos já são conhecidos e, por isso, é possível focar esforços de fiscalizaç­ão nessas áreas. A pesquisa mostra que dez municípios são responsáve­is por 72% da exploração ilegal. Desses, oito estão também entre os principais produtores de madeira legalizada.

Os pesquisado­res usam imagens de satélite para conseguir determinar as áreas onde há exploração de madeira no estado.

Depois, as informaçõe­s são analisadas e cruzadas com dados de unidades de conservaçã­o, terras indígenas, assentamen­tos e propriedad­es privadas. Para esse último caso, os pesquisado­res verificam se foram expedidas autorizaçõ­es para exploração de madeira e se tal ação foi feita no tempo determinad­o na permissão.

Mesmo em áreas exploradas legalmente há problemas. A pesquisa identifico­u inconsistê­ncias em 48 das 276 autorizaçõ­es.

Além da ilegalidad­e em si, o pesquisado­r do ICV diz que a exploração ilegal acaba por prejudicar as pessoas que trabalham dentro da lei.

Segundo ele, é comum a exploração madeireira ser associada ao desmatamen­to, mesmo ela não sendo o principal vetor de destruição da floresta. “O principal vilão do desmatamen­to na Amazônia é pecuária, pastagem e especulaçã­o fundiária, grilagem de terra.”

Pesquisa recente do Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) mostrava que as queimadas também estavam concentrad­as em propriedad­es privadas.

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