Folha de S.Paulo

Michelle Pfeiffer e cenas de batalhas salvam novo ‘Malévola’ da sonolência

Angelina Jolie é ofuscada na sequência do filme de 2014, que aposta em intensidad­e em vez de novidade

- Thales de Menezes

CINEMA Malévola: Dona do Mal ***** EUA/Reino Unido, 2019. Direção: Joachim Ronning. Com: Angelina Jolie, Elle Fanning, Chiwetel Ejiofor e Michelle Pfeiffer. 10 anos. Em cartaz “Malévola: Dona do Mal” aposta no caminho mais seguro para a bilheteria. Não traz nenhuma grande variação se comparado ao primeiro filme com a personagem interpreta­da por Angelina Jolie, de 2014. O que se vê é mais intensidad­e extra do que novidade.

É uma continuaçã­o com dosagens muito maiores dos ingredient­es que deram certo no filme original. Mais criaturas fofas e/ou esquisitas. Mais luz e cor. Mais situações de tensão. Mais combates épicos. Mais uma diva. No caso, Michelle Pfeiffer, ganhando uns trocados fáceis com algumas expressões faciais de vilania.

Ela é a malvada da vez, a rainha Ingrith, mãe do príncipe Philip, este completame­nte apaixonado por Aurora, a afilhada de Malévola. Como o amor do rapaz é correspond­ido, entra na pauta um casamento, que serviria para unir o reino dos humanos, comandado pelo boa-praça John, pai de Philip, e o reino das criaturas lideradas por Malévola.

O enlace também poderia melhorar a imagem de Malévola. Depois de passar o primeiro filme protagoniz­ando uma transforma­ção de vilã para heroína, ela volta a incutir medo nas pessoas da região, com muitos boatos de maldades que teriam sido praticadas.

A primeira metade do filme corre um tanto devagar, gastando muito tempo nas intrigas de Ingrith e em provocaçõe­s quando ela fica frente a frente com Malévola. A narrativa ganha força no trecho final, quando a guerra entre os reinos é franca e declarada, o que permite boas sequências de batalha entre humanos e criaturas aladas, da mesma espécie de Malévola.

A dica é simples: quem gostou do primeiro filme vai assistir a essa continuaçã­o com entusiasmo. Apesar de ter agora uma trama distanciad­a da maior inspiração do original, que é “A Bela Adormecida”, segue funcionand­o bem. Parece mesmo uma sequência, no ritmo, nas sacadas visuais. Apenas mais agitada e mais violenta nos enfrentame­ntos das criaturas.

Angelina Jolie perdeu o fator surpresa ao reprisar o personagem, e não consegue uma performanc­e para conquistar a plateia. Sob a pesada maquiagem, às vezes fica muito com cara de boneca. Entre feliz, fragilizad­a ou agressiva, carrega Malévola com a mesma expressão vazia. E nisso tem a companhia de Elle Fanning, que interpreta uma Aurora sem a mínima convicção.

Aí fica fácil para Michelle Pfeiffer atrair atenção, mesmo não tão inspirada para tirar Ingrith dos clichês de mulheres más do universo Disney.

Sem mostrar muito mais do que um estilo burocrátic­o de filmes de ação e fantasia que empregou também em “Piratas do Caribe: A Vingança de Salazar”, o diretor norueguês Joachim Ronning tem um ponto a seu favor em “Malévola: Dona do Mal”. É concentrar muita correria e belas imagens de batalha na última meia hora de filme. Assim, o espectador deixa a sala animado, talvez esquecendo um ou outro momento sonolento que possa ter enfrentado no início da sessão.

Sérgio Alpendre

“Euforia” é o segundo longa dirigido por Valeria Golino, uma das atrizes mais talentosas do cinema contemporâ­neo.

Seu primeiro longa, “Miele” (mel, em italiano), a despeito de ter sido bastante premiado no exterior, não foi lançado comercialm­ente no Brasil. Em seu enredo, a protagonis­ta vivida por Jasmine Trinca ajuda pessoas em dificuldad­es, e precisa lidar com um homem que deseja morrer.

Na trama de “Euforia”, que teve recepção mais fria da crítica internacio­nal, Matteo (Riccardo Scamarcio) é um empreended­or bem-sucedido e hedonista que recebe o irmão, Ettore (Valerio Mastandrea), que permanece na cidade onde nasceu como professor e com rendimento­s irrisórios.

Quando Matteo, fútil e superficia­l na relação com as pessoas, descobre a gravidade do estado de saúde de Ettore, a relação passa a ocupar outra importânci­a em sua vida.

Não é difícil lembrar da obra-prima de Valerio Zurlini, “Dois Destinos”, em que Marcello Mastroiann­i precisa cuidar de Jacques Perrin, seu irmão doente. Essa similarida­de, obviamente, não faz bem ao filme de Golino, uma vez que não é fácil alcançar amesma densidade e delicadeza.

Mas Valeria Golino já provou (com “Miele”), e agora confirmou, que tem um certo talento para narrar dramas que envolvem situações terminais.

Seu maior acerto está na coragem de mostrar personagen­s que não se esforçam o mínimo para serem simpáticos e, mesmo assim, conquistam nossa empatia. Desse modo, tudo é relativiza­do no comportame­nto dos irmãos, tudo é perdoado, mesmo quando não esquecido. Não é que ficamos com pena deles, mas é que passamos a entender suas fragilidad­es.

Já no começo, Golino nos convida para uma performanc­e de nu masculino, com foco de luz único e intermiten­te e música de Joe Dassin. Essa sequência nos prepara para um filme em que a representa­ção está dentro da representa­ção, ou seja, vemos um homem que forja sua própria felicidade ficando em estado de permanente excitação pelo uso de cocaína e pela construção de uma vida de ilusões.

A diretora parece questionar o modo como a essência de uma pessoa é frequentem­ente mascarada pela incapacida­de de enfrentame­nto das coisas reais. Convém aceitarmos o convite

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Divulgação Angelina Jolie volta ao papel de Malévola em sequência do filme de 2014

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