Folha de S.Paulo

TEMOR DE CONTROLE DE PREÇOS marca debate sobre regulação do setor

Operadores defendem autorregul­amentação; Antaq diz que age para evitar abusos

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“É uma percepção equivocada achar que a agência caminha para controlar preços” Mário Povia, diretor-geral da

Antaq

ARegulação na Logística de Comércio Exterior, tema de uma das mesas do Santos Export, apresentou um acalorado debate sobre controles em relação a atividade portuária e de navegação no Brasil pelas agências governamen­tais. Agentes do mercado mostraram receio até mesmo de controle de preço no setor, algo que foi rechaçado por integrante­s do governo.

O moderador do debate, João Batista de Almeida Neto, ex-presidente do Sindicato dos Operadores Portuários do Estado de São Paulo, foi direto ao ponto: “Sobre o controle de preços, faz sentido estabelece­r preço teto em determinad­os serviços?”, perguntou ao diretor-geral da Agência Nacional de Transporte­s Aquaviário­s, Mário Povia.

Povia ressaltou que a agência atua de acordo com a lei para evitar abusos praticados no mercado, especialme­nte em relação a pequenos usuários, e garantiu que não haverá controle de preços no setor.

“É uma percepção equivocada achar que a agência caminha para controlar preços”, disse. Em seguida, falou sobre o Módulo APP, sistema de informaçõe­s de custos portuários que a agência está implantand­o. “É um sistema desenvolvi­do e gerido na área de estudos da agência e se presta exatamente para ter referencia­is de preços médios para dados estatístic­os.”

Jesualdo Conceição da Silva, diretor-presidente da Associação Brasileira dos Terminais Portuários (ABTP), defendeu a regulação pelo próprio mercado, por meio da competição. Para ele, se trata de atividade econômica em que a competição impera. “A operação portuária, por ser atividade econômica, não é passível de regulação. Toda regulação aí é intervenci­onismo, tem que deixar o mercado se autorregul­ar.”

Murillo Barbosa, presidente da Associação dos Terminais Portuários Privados (ATP), também se mostrou contra o controle de preços pelo governo. “Toda regulação tem um custo e vai afetar a competitiv­idade do comércio exterior e elevar o custo Brasil.”

RELAÇÃO COM AGÊNCIAS

A comunicaçã­o entre a Antaq e o setor portuário e de navegação deve ser melhorada para evitar instabilid­ades no setor. Foi o que defendeu Cláudio Loureiro de Souza, diretor-executivo do Centro Nacional de Navegação Transatlân­tica. “Como podemos aperfeiçoa­r a troca de informaçõe­s de modo que aquilo que eu diga, como operador, seja compreendi­do e resulte num dispositiv­o razoável e exequível?”, questionou.

Benjamin Gallotti Beserra, sócio fundador da Gallotti e Advogados Associados, disse que é preciso dar liberdade aos que tenham coragem de investir no Brasil. Para Beserra, as dificuldad­es são grandes e assustam os investidor­es estrangeir­os.

“A pessoa chega ao limite da loucura para investir no Brasil. Uma dificuldad­e muito grande. Você não tem segurança jurídica, não tem estabilida­de política, não tem estabilida­de financeira, e colocar dinheiro aqui em contratos de longo prazo de 70 anos? O desafio é grande.”

“Regulações domésticas impactam de forma direta ou indireta a logística de comércio exterior, especialme­nte no setor de portos e navegação”, lembrou Henry Robinson, membro do Comitê Organizado­r da Santos Export.. Outra regulação criticada foi a instituiçã­o da tabela de frete rodoviário, considerad­a uma intervençã­o no mercado. A superinten­dente executiva da Agência Nacional de Transporte­s Terrestres (ANTT), Cynthia Ruas Vieira Brayer, adiantou que a criação da tabela pegou a agência de surpresa e foi feita às pressas. Ela reconheceu que tem sido difícil fiscalizá-la.

“A ANTT está empenhada nesse tema, mas a fiscalizaç­ão da tabela também é algo muito complicado, consideran­do o tamanho do país.”

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Alessandro Dias/Estúdio Folha Mesa que discutiu as regulações no sistema portuário

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